Dia 5 | Sexta-feira

Albrecht Altdorfer, 1513

O Senhor fez em mim maravilhas,
Santo é o seu nome!

Evangelho de Lucas (1,46-56)
Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando ela ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»
E disse, então:
«A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia estende-se de geração em geração
sobre aqueles que o levam a sério.
Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia,
como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência, para sempre.»
Maria ficou com Isabel cerca de três meses.
Depois regressou a sua casa.

O Senhor fez em mim maravilhas,
Santo é o seu nome!

Meditação
Em Israel existia o costume — que durou séculos — de compor hinos salmos e orações. Textos anteriores recentes ao Evangelho de Lucas eram os hinos dos monges de Qumrán e os “Salmos de Salomão”. O mais certo parece ser que o Evangelho de Lucas tenha pegado no Magnificat de uma tradição profética que, sem dúvida, se conhecia naquele tempo. Mas o que menos importa aqui é a origem deste hino. O que interessa é desentranhar o seu conteúdo fundamental.
Lucas põe na boca de Maria um hino de louvor a Deus. Porque louva e bendiz Maria o Senhor? Porque Deus fez dela uma humilde e pobre escrava. Desta forma, acentua-se não o poder nem a grandeza, mas a bondade e a misericórdia. Em consequência, precisamente porque Deus se define sobretudo pela sua misericórdia, porquê Deus quis que a mãe de Jesus seja tão pobre e tão humilde? Tudo isso é contrário e radicalmente diferente da nossa maneira de ver e interpretar a sociedade e o mundo. A juízo do Evangelho de Lucas, em que consistiu esta opinião tão revolucionária?
Maria explica muito bem. A misericórdia é possível onde se rebentam os planos dos arrogantes e derruem do trono os poderosos. Mas não só. A misericórdia atua neste mundo quando e onde se exaltam os humildes e os famintos os cumulamos de bens. Resumindo, o critério da mãe de Jesus, a mulher simples da humilde Galileia, àquela que a religião pôs o pomposo nome de “Santíssima Virgem Maria” (adornada com joias e mantos de ouro, condecorada com medalhas de poderosos e tiranos, etc), esse critério resume-se nesta afirmação surpreendente: há misericórdia onde “os ricos os despedimos de mãos vazias” (Lc 1,51).

(Castillo, José M. – La religión de Jesús, Bilbao: Desclée De Brouwer, 2018, p. 30)

Oremos!
Deus, loucura do mundo,
adoração e vertigem dos que procuram a tua face
através das coisas visíveis
dá à nossa vida o encanto dos descobrimentos
e a sabedoria das margens
de onde te chama o nosso desejo
e a nossa viagem a caminho do teu Nome,
Deus que vens em Jesus Cristo iluminador
e no Espírito da verdade,
longo caminho de muitos caminhos,
deste fim de tarde ao começo e ao fim
Da nossa esperança
Ámen!
José Mourão (O nome e a forma, p. 73)

O Senhor fez em mim maravilhas,
Santo é o seu nome!

Dia 4 | Quinta-feira

Levanta-te, Jerusalém, eis a tua luz.
A glória do Senhor se levanta sobre ti!

Evangelho de Lucas (1, 26-38)
Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.
Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.»
Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

Levanta-te, Jerusalém, eis a tua luz.
A glória do Senhor se levanta sobre ti!

Meditação
Os especialistas do estudo do evangelho de Lucas estão geralmente de acordo em que, neste relato, podem ser considerados como históricos tão só o nome da mãe de Jesus e o domicílio familiar de Nazaré. O resto representa o interesse de alguns grupos do cristianismo de finais do primeiro século que defenderam duas coisas a que deram muita importância: a conceção divina de Jesus e a virgindade de Maria.
A conceção divina de Jesus é fundamental para entender o cristianismo. Se prescindimos da “condição divina” de Jesus, ficamos sem fé e sem cristianismo. Mas tão grave como isso seria ficarmos só com isso, então reduzimos todo o evangelho e o próprio Jesus a uma pura lenda sem interesse algum. Porquê? Porque nós não sabemos, nem podemos saber, o que é isso de “condição divina”. Isso é-nos dado a conhecer na “condição humana” de Jesus. Na “humanidade de Jesus” temos conhecido e encontrado a “divindade”, ou seja, o “próprio Deus”. Aqui reside o grande mistério deste relato. A anunciação leva-nos a descobrir “o divino” no “humano”. Não temos outro meio de conhecer a Deus e o que Deus quer de nós.
A virgindade de Maria está indicada no relato mediante a palavra grega parthénos, quer dizer uma “jovem não casada”. A estima da virgindade não vem do judaísmo; tem as suas raízes na cultura grega. O que menos importa, neste caso é a virgindade meramente biológica. O que interessa é o seu significado religioso. Este significado consiste em que há motivações e experiências que podem levar uma pessoa a “sublimar” a vida sexual para dedicar a “vida inteira” a uma causa que pode merecer total dedicação.

(Castillo, José M. – La religión de Jesús, Bilbao: Desclée De Brouwer, 2018, p. 28)

Oremos!
Tu fizeste resplandecer na nossa Noite, Senhor,
a claridade de Cristo, Luz do Mundo:
Ele veio para salvar o que estava perdido.
Renova a tua Igreja
na Fé, na Esperança e na Caridade:
que ela testemunhe, nestes dias que vivemos e até ao Último Dia,
o Sol da Justiça que alumiou as nossas trevas,
pois que, tal como a água se nos escapa pelos dedos da mão,
assim parece que perdemos
a Boa nova do nascimento de Jesus!
Por ele, Jesus, o Cristo, teu Filho e nosso Irmão,
Deus contigo e Homem connosco,
na Unidade do Espírito Santo.
Ámen!

Levanta-te, Jerusalém, eis a tua luz.
A glória do Senhor se levanta sobre ti!

Dia 3 | Quarta-feira

Derramai, ó céus, sobre o Mundo
E da terra germine a salvação.
Já chegaram os dias do reino,
Os tempos do reino do nosso Deus!

Evangelho de Lucas (1,5-25)
No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada.
Ora, estando Zacarias no exercício das funções sacerdotais diante de Deus, na ordem da sua classe, coube-lhe, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso. Todo o povo estava da parte de fora em oração, à hora do incenso. Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. Mas o anjo disse-lhe:
«Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo desde já no ventre da sua mãe e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Irá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições.»
Zacarias disse ao anjo: «Como hei de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» O anjo respondeu:
«Eu sou Gabriel, aquele que está diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova. Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria.»
O povo, entretanto, aguardava Zacarias e admirava-se por ele se demorar no santuário. Quando saiu, não lhes podia falar e eles compreenderam que tinha tido uma visão no santuário. Fazia-lhes sinais e continuava mudo.
Terminados os dias do seu serviço, regressou a casa. Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu e, durante cinco meses, permaneceu oculta. Dizia ela: «O Senhor procedeu assim para comigo, nos dias em que viu a minha ignomínia e a eliminou perante os homens.»

Derramai, ó céus, sobre o Mundo
E da terra germine a salvação.
Já chegaram os dias do reino,
Os tempos do reino do nosso Deus!

Meditação
Este relato com que Lucas começa a sua grande mensagem de salvação anuncia antes de mais o nascimento de dois personagens extraordinários: o e João Baptista (Lc 1, 5-25) e o de Jesus (Lc 1 (1,26-38). Ambos os anúncios se fazem por meio de “anjos”, que não são seres pessoais. Os judeus, nos tempos do desterro na Babilónia, aprenderam a falar de anjos e demónios. Ambos são “representações” de mensagens extraordinários que Deus nos comunica. Assim sendo, Deus anunciam “como” vem a salvação ao mundo. E “quem” é que lhe traz a salvação.
Enquanto a “como” vem, a salvação, a mensagem de Deus é surpreendente. Porque tudo tem o seu ponto de arranque no “templo”, diante do “altar”, por meio de um “sacerdote”, durante a “liturgia” do incenso, mencionando a mãe do mediador (João), que era da grande “família sacerdotal” (a de Aarão). Tudo se desenvolve no âmbito do religioso e do sagrado: o templo, o altar, o incenso, o culto, o sacerdote, a oração…
No entanto, a salvação que Deus anuncia não virá como ação sagrada e sacerdotal, mas como ação profana e profética. Virá, por meio de João, “com o espírito e a forças de Elias“ (Lc 1,17). Que significa isto? Sabemos que Elias, na cova do Monte Horeb, teve uma experiência que marcou a sua vida: o Senhor não estava nem no tufão arrasador, nem no terramoto do medo, nem no fogo destruidor. O Senhor está apenas na brisa suave (1 Re 19, 12-13) que não transporta violência, mas sim a paz, o sossego e a esperança. Só assim será possível encontrar a salvação que traz Jesus.

(Castillo, José M. – La religión de Jesús, Bilbao: Desclée De Brouwer, 2018, p. 26)

Oremos (…)
Deus que vens de Deus,
horizonte da nossa linguagem e do nosso desejo
Deus que anunciamos
na espessura do que em nós é riso
e choro, ao mesmo tempo infiguráveis
Deus, instante fugaz
Da sede e da fome saciadas, diferidas
Que descubramos no corpo dos outros
Os traços do bem que procuramos e perdemos
que a nossa vida te reconheça
pela maneira como por ti se vê reconhecida
na teia do que passa e permanece,
tu que és aquele que há de vir,
e Deus connosco.
José Mourão, ‘O nome e a forma’, p. 113

Derramai, ó céus, sobre o Mundo / E da terra germine a salvação. /
Já chegaram os dias do reino, / Os tempos do reino do nosso Deus!

Dia 2 | Terça-feira

Rorate, cœli, desuper et nubes pluant iustum!
(Chovei, ó céus, sobre nós, que as nuvens nos tragam o Justo!)

Evangelho de Mateus (1, 18-24)

O nascimento de Jesus Cristo foi assim:
Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo. José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente. Andando ele a pensar nisto, apareceu-lhe o anjo do Senhor que em sonhos lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.»
Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. E, sem que antes a tivesse conhecido, ela deu à luz um filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus.

Rorate, cœli, desuper et nubes pluant iustum!
(Chovei, ó céus, sobre nós, que as nuvens nos tragam o Justo!)

Meditação

Para situar este relato e poder compreendê-lo corretamente, o primeiramente é preciso saber que o começo do Evangelho de Mateus é a pregação de João Baptista e o batismo de Jesus (Mc 1,1ss) e discute-se se os relatos do nascimento e infância de Jesus são históricos.
Por isso convém recordar várias coisas:
1. Os evangelhos da infância (Mt 1-2; Lc 1-2) contêm dados que respondem mais a uma teologia de “o divino” que a uma história de “o humano” que se percebe nos primeiros anos da vida de Jesus.
2. O nascimento em Belém (a cidade do rei David) expressa um desejo de ver em Jesus o “messias davídico”.
3. O Novo Testamento afirma que Jesus era de Nazaré e chamavam-lhe “o nazareno”. Se a infância de Jesus na pequena aldeia de Nazaré foi tão extraordinária e tão maravilhosa (aparições de anjos, sonhos celestiais, visitas de magos do oriente, matança cruel de inocentes…), como se explica que a família de Jesus o tivesse percebido como “um louco” (Mc 3,21), que os vizinhos do povo e até a sua própria família não acreditassem nele (Mc 6,6; Jo 7,5) e inclusive viesse a ser desprezado por eles (Mc 6,1-6)?
A religião não se satisfaz com o meramente humano. Por isso, se alguém é crente ou religioso, não se sente bem se se fica apenas com o meramente humano. Daí a enorme dificuldade que temos de compreender quanto se refere à humanidade de Jesus. As pessoas buscam na religião algo “sobre-humano”, sobrenatural, algo “divino”. Daí, a enorme dificuldade que temos de compreender quanto se refere à humanidade de Jesus. Isto é o que nos impede de ver que Jesus é a “incarnação” de Deus, a humanização de Deus. Isto quer dizer que o Deus de Jesus não o encontramos primordialmente no “sobre-humano”, mas no “humano”; antes de mais no que é “conatural” com a nossa humanidade.
Então porque é que Jesus foi um homem profundamente religioso? Porque “o humano” puro e perfeito não existe. “O humano” existe sempre fundido com “o inumano”. Por isso o que Jesus quis e o que nos ensina é que temos de ser “profundamente humanos”. Isto é o que explica que Deus se revelou em Jesus, que é a plenitude do humano. Aqui está a chave de compreendermos o Evangelho. Vivendo como Jesus nos ensina, humanizamo-nos. E é assim que nos divinizamos.

(Castillo, José M. – La religión de Jesús, Bilbao: Desclée De Brouwer, 2018, p. 25)

Oremos
O camponês conhece os seus campos
pelo que parecem, quer dizer que prometem
assim o crente se deveria conhecer a si próprio
a partir da promessa que cresce no seu corpo
na Visitação de Deus
e da inabitação do Espírito
o tempo agora é para adivinhar
o espaço potencial de Deus quem vem vindo
e a comunidade o lugar de verificação
da presença do Espírito
que a Palavra prepare os nossos ouvidos
e a nossa boca para a confissão e o louvor
Ámen!
José Mourão (O nome e a forma, p. 210)

Rorate, cœli, desuper et nubes pluant iustum!
(Chovei, ó céus, sobre nós, que as nuvens nos tragam o Justo!)

Dia 1 | Segunda-feira

Eis que uma virgem conceberá
E dará à luz um filho,
Chamado Emanuel!

Evangelho de Lucas (Mt 1, 1-17)

Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão:
Abraão gerou Isaac, Isaac Jacob e Jacob gerou Judá e seus irmãos;
Judá, de Tamar, gerou Peres e Zera;
Peres > Hesron, e este, Hesron, gerou Rame;
Rame gerou Aminadab; Aminadab > Nachon, Nachon gerou Salmon;
Salmon, de Raab, gerou Booz;
Booz gerou, de Rute, Obed, Obed Jessé,
e Jessé gerou o rei David.
David, da mulher de Urias, gerou Salomão
Após Salomão, a linha directa de geração foi esta:
Roboão, Abias, Asa, Josafat, Jorão, Uzias, Jotam, Acaz, Ezequias, Manassés, Amon e Josias; Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na altura da deportação para Babilónia.
Depois da deportação, Jeconias gerou Salatiel e — em segunda linha de geração — foram nascendo Zorobabel, Abiud, Eliaquim, Azur, Sadoc, Aquim, Eliud, Eleázar, Matan, Jacob e Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo.

Eis que uma virgem conceberá
E dará à luz um filho,
Chamado Emanuel!

Meditação

A partir do dia 17 de dezembro, a liturgia recorda os trechos evangélicos que preparam os fiéis a compreender melhor o nascimento de Jesus. O primeiro desses trechos apresentado por Mateus (1,17) é o da genealogia, trecho que é muito diferente do de Lucas (3,23.28). Estas genealogias — segundo os costumes literários do tempo — não se pretendem ser listas de antepassados de um herói, mas sim associar a Bíos (a forma de vida) de um personagem (Jesus) a nomes que acentuaram o significado dessa vida que se pretendem destacar (por exemplo, Quintiliano, Tácito, Josefo…).
Os antepassados de Jesus, segundo o evangelho de Mateus, até nem são pessoas edificantes. Analisando detalhadamente, a genealogia situa Jesus num mundo em que os poderosos, ou seja, os dirigentes religiosos e políticos, continuam a apresentar resistência aos planos de Deus. O que situa Jesus “na condição humana”, tal como ele é, com bom e com mal, com o atraente e o repugnante. Nós, dos heróis e dos santos, fizemos “semideuses”; Deus não, em Jesus fez-se homem. Não é mais exemplar na vida ser-se um homem cabal?
Nesta genealogia aparecem quatro mulheres: Tamar (aramaica), Rute (moabita), Rajab (cananeia) e Betsabé, esposa de Urias (hitita). Nenhuma das quatro era judia. A exemplaridade de Jesus transcende fronteiras, culturas, religiões costumes… Jesus incarnou “na condição humana. Não numa cultura, não numa religião nem numa nação. Com frequência encontramos pessoas que nos falam com orgulho e vaidade da sua família, dos seus antepassados. Somos mais vaidosos que humanos. E isso dá pena.

(Castillo, José M. – La religión de Jesús, Bilbao: Desclée De Brouwer, 2018, p. 24)

 

Oremos (…)
Não deixes, ó Pai,
que o barulho dos dias que vivemos nos adormeça
e nos afaste das tarefas do Reino e do Mundo,
tão pouco dos gritos da dor e da pobreza.
Acorda-nos para as grandes tarefas,
recordando-nos as palavras com que
o teu Verbo que se fez carne
nos prometeu a glória da Graça;
e não permitas que a tua Igreja,
este povo de santos que reuniste,
perca o sentido da liberdade da fé.
O Senhor virá!
Ajuda-nos a passar pelas
alegrias da Graça e da Fraternidade,
recordando-nos o Caminho e as suas metas!
Ámen!

Eis que uma virgem conceberá
E dará à luz um filho,
Chamado Emanuel!

Novena de Natal na Serra do Pilar

Heidi Malott

A Novena de Natal é a mais antiga de todas as Novenas,
a mãe de todas as mais, a única que
a reforma litúrgica do Vaticano II não suprimiu.
Uma novena que evoca os nove meses
da gestação do Messias no ventre humano de Maria.

A partir de segunda-feira, 17 de dezembro, até sábado, dia 22,
a Comunidade celebrará diariamente a Novena de Natal às 21h30.

Um breve momento de oração e meditação,
no seio das pressas e preocupações desta época.

André

«Os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro» – Apocalipse 21,27.

A Comunidade une-se em oração com o André, filho do Amadeu Campos, diante da sua morte. O velório terá lugar a partir das 20 horas na Igreja da Serra do Pilar, e o funeral terá lugar amanhã, 17 de outubro, às 12h30. 

(Fotos retiradas do perfil de Facebook do Amadeu).

D. Manuel Linda

Mensagem de Saudação à Diocese do Porto

Aos que, na consciência da fé, no desânimo da indiferença, na adesão a outras crenças ou até na oposição ao fenómeno religioso aspiram à felicidade pessoal e colectiva, edificam a sociedade humana na paz e na verdade e vivem ou são originários da área da Diocese do Porto

  1. Ao longo da vida, tenho sido presenteado com surpresas tão agradáveis que nem sequer ousava esperar. Muitos chamarão a isso coincidência ou acaso. Eu, porém, acredito que é o Espírito de Deus quem conduz a história, não obstante a liberdade pessoal e até as resistências colocadas à graça. A minha nomeação para ir pastorear a Diocese do Porto, agora tornada pública, insere-se nestas felizes surpresas com que Deus tem urdido as teias da minha existência.
  2. Ao Santo Padre, o Papa Francisco, agradeço esta prova de confiança. E renovo, solenemente, uma total fidelidade efectiva e afectiva. Igual agradecimento vai para o senhor Núncio Apostólico e para quantos apostaram no meu nome: como disse por alturas da minha ordenação episcopal, tentarei não defraudar a confiança.
  3. Não é sem emoção que regresso ao Porto passadas quase quatro décadas depois da minha formação no seu Seminário Maior. Daqui surgi para a vida sacerdotal, aqui exerci o sacerdócio colaborando na formação de novos padres, aqui volto como mais um de entre os muitíssimos que apostam tudo na evangelização e na promoção humana desta Diocese que sempre se distinguiu pela cultura dos seus membros, zelo missionário, santidade operante e sadia presença na sociedade. Tudo isto na fidelidade ao sopro do Espírito que nos manda edificar «um novo céu e uma nova terra», de acordo com os sinais dos tempos.
  4. É, pois, com uma imensa alegria e não menor admiração que saúdo quantos a constituem. Permitam-me um destaque especial para os mais débeis: os pobres, desempregados, doentes, idosos, detidos e quantos perderam os horizontes da esperança. Cumprimento as famílias, sem qualquer dúvida, a célula básica da sociedade e, consequentemente, também da nossa Igreja. Apetecia-me parafrasear o Papa São João XXIII e dizer com a mesma bonomia: dai um beijo aos vossos filhos e dizei-lhes que é o novo bispo quem lho manda. Felicito quantos constituem a necessária teia social da comunidade viva: o mundo do trabalho e suas organizações, os sectores da cultura e do desporto, os organismos voltados para a saúde e para a assistência social, autênticos pilares da liberdade e da felicidade possíveis. Uma palavra de admiração aos dirigentes da comunidade: sei bem do vosso valor e zelo nos diversos âmbitos, seja nas autarquias e no ensino, seja na segurança ou na administração.
  5. A Igreja de Deus que está no Porto é fidelíssima naquele dinamismo apostólico e missionário que deve caracterizar o homem e a mulher de fé. Agradeço a todos os que empenham muitas das suas energias ao serviço do Evangelho: os fiéis leigos que dão corpo aos organismos paroquiais e diocesanos e fermentam o mundo com o humanismo cristão; as religiosas e os religiosos que nos oferecem o exemplo do seguimento radical de Jesus; os Diáconos que testemunham a caridade como primeira característica do Reino de Deus; os Seminários que nos asseguram a esperança; os caríssimos Padres, alguns já tão cansados, que aguentam o peso do trabalho e a desconfiança de uma sociedade em continua mutação; o Cabido, instância de saber e de dinamismo sacerdotal; o Vigário Geral e membros das estruturas de participação, garantia da co-responsabilidade; o Reverendíssimo Administrador Diocesano, D. António Taipa e os Senhores Bispos Auxiliares, D. Pio Alves e D. António Augusto, os quais, no seu conjunto, constituem o verdadeiro centro nevrálgico da intensa vida diocesana. Continuaremos com este dinamismo. Deixai-me inserir nessa vinha do Senhor como assalariado acabado de contratar.
  6. Trabalharei no Porto como tenho feito até aqui: «com Pedro e sob Pedro». Mas também «à maneira de Pedro». Isto é, pretendo ser um «missionário da misericórdia», um pastor com «o cheiro das ovelhas», um pai dos Padres, um irmão dos mais pobres e um fomentador do espírito ecuménico e de diálogo. Procurarei reconduzir a Igreja a uma tal simplicidade evangélica que a constitua referencial ético para o mundo actual.
  7. Ainda que numa visão global e apressada, no último século, chama a atenção uma forte semelhança entre o enorme timbre de grandeza dos Pastores da Diocese do Porto e os da Igreja universal. Numa e noutra, há mártires, profetas e santos. No caso desta nossa Diocese, legaram-nos um tal património histórico-moral que constitui uma referência incontornável para a Igreja e para a sociedade portuguesas. Tendo presente, apenas, aqueles que conheci pessoalmente, não deixarei de me inspirar na determinação granítica de D. António, no zelo pastoral de D. Júlio, na arguta perspicácia de D. Armindo, na lucidez intelectual de D. Manuel e na afectividade pura e contagiante de D. António Francisco.
  8. Sei bem que o meu antecessor directo marcou a história da Diocese com a sua proximidade e candura. Por isso, foi chorado como um pai. Também o foi por mim. Não ignoro que não é fácil substitui-lo. Mas todos nós, agentes de pastoral, tomaremos em boa conta o seu grande legado: a certeza de que a única chave que abre o coração humano é a ternura e a simpatia.
  9. Se o Porto é a “cidade do trabalho“, não é menos a “cidade da Virgem“. Da “Terra de Santa Maria” até à Senhora da Vandoma, a invocação pode ser distinta, mas a devoção e a confiança são as mesmas. Então, que a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja vele por nós e pelo meu novo ministério, para que sejamos, agora e sempre, uma Igreja aberta, franca, acolhedora, missionária, orante, solidária, encarnada no mundo. Se “daqui houve nome Portugal” como nos garante Eugénio de Andrade, também floresça uma Igreja conduzida pelo Espírito, sensível aos sinais dos tempos e sempre “reformanda“, como pede o Papa Francisco e exigem os nossos contemporâneos.
  10. A nossa ilustre diocesana, Sophia de Mello Breyner, deixou-nos uns versos que interpelam: “A presença dos céus não é a Tua,/ embora o vento venha não sei donde./ Os oceanos não dizem que os criaste,/ nem deixas o Teu rasto nos caminhos./ Só o olhar daqueles que escolheste/ nos dá o Teu sinal entre os fantasmas”. Somos nós esses escolhidos para captarmos e retransmitirmos o «sinal» de Deus. Vamos faze-lo de tal maneira que se evitem todos os ruídos perturbadores e, dessa forma, se afugentem os fantasmas dos medos e os pavores da solidão, tão típicos da sociedade actual?

A todos abraço. Sobre todos invoco a bênção divina.

+ Manuel Linda

Nota biográfica

Manuel da Silva Rodrigues Linda nasceu na Freguesia de Paus, Resende, a 15 de abril de 1956. Frequentou o Seminário Menor de Resende, o Seminário Maior de Lamego e o Instituto de Ciências Humanas e Teológicas do Porto onde terminou o curso superior de Teologia em 1980. Foi ordenado presbítero a 10 de junho de 1981, para a Diocese de Vila Real.

Ao longo dos anos desempenhou várias funções eclesiásticas: pároco, assistente diocesano da Acção Católica, Promotor de Justiça e Defensor do Vínculo no Tribunal Eclesiástico e responsável pela Pastoral Juvenil. Foi também Capelão (alferes e tenente) do RI13 (Regimento de Infantaria de Vila Real), entre 1982 e 1985). Mas, a principal, foi a de reitor do Seminário de Vila Real, cargo que desempenhou ao longo de 19 anos, e de Vigário Episcopal para a Cultura. Foi, ainda, coordenador diocesano da pastoral e membro dos Conselhos Presbiteral, Pastoral e de Consultores.

Paralelamente à sua actividade eclesiástica, licenciou-se em Humanidades pela Faculdade de Filosofia de Braga da Universidade Católica Portuguesa (1987), em Teologia pela Faculdade de Teologia (Porto) da mesma Universidade (1988), obteve a licenciatura canónica (estudos de segundo grau, equivalente ao Mestrado) em Teologia, pela Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma (1991), e o doutoramento em Teologia, especialidade de Teologia Moral, pela Universidad Pontifícia Comillas, em Madrid (1998), com a tese “Andragogia política em D. António Ferreira Gomes“.

Ao longo dos anos foi leccionando em diversas Escolas (Escolas Básicas e Secundárias e na Escola de Enfermagem de Vila Real, nesta ao longo de cerca de três décadas) e, na Universidade Católica Portuguesa, nas Faculdades de Teologia e de Direito e na Escola das Artes. Orientou diversas teses de licenciatura e mestrado e participou em diversos júris académicos. Ocasionalmente, colaborou ainda com outras instituições de ensino superior, mormente com o Instituto Superior Miguel Torga/Escola Superior de Altos Estudos (Coimbra), Universidade do Minho e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Para além da docência, na vida académica desempenhou diversas funções, tais como: director da Extensão de Vila Real da Faculdade de Teologia da UCP; membro da Comissão Pedagógica da FT – Porto; Coordenador do Programa Erasmus/Sócrates; membro do Conselho de Direcção da revista Humanística e Teologia; Membro do Conselho Pedagógico, etc. É membro fundador do Centro de Estudos do Pensamento Português (UCP – Porto). Para além de colaboração diversa em vários científicos, entre artigos de revistas, obras colectivas, dicionários e enciclopédias, etc.

Foi nomeado bispo auxiliar de Braga, a 27 de junho de 2009 pelo Papa Bento XVI, com o título de Case Mediane, tendo sido ordenado a 20 de setembro desse ano.

A 10 de outubro de 2013, o Papa Francisco nomeou-o Ordinário Militar para Portugal ou Bispo das Forças Ar madas e das Forças de Segurança, para suceder a D. Januário Torgal Mendes Ferreira. Canonicamente, tomou posse no dia 24 de Janeiro de 2014, em Fátima, perante os sacerdotes que trabalham no Ordinariato. A 8 de Abril de 2014, foi nomeado Capelão Chefe por despacho conjunto dos Ministros da Defesa Nacional e da Administração Interna.

A nível da Conferência Episcopal Portuguesa, foi membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social, para a área da Saúde (de 2000 a 2014) e, a 29 de Abril de 2014, foi eleito Presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização e membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade.

O serviço da música (retificação)

As conferências sobre o serviço da música na celebração litúrgica terão lugar, durante o tempo de Quaresma, às quintas-feiras às 21h30, e não às quartas-feiras como foi ontem referido.

Nos dias 22 de fevereiro e 1 de março os encontros serão orientados pelo presbítero, Arlindo de Magalhães. O encontro de 8 de março será orientado pelo Dr. Manuel Neto e, no dia 15 de março, a comunidade contará com a presença do professor Fernando Lapa.

O serviço da música na celebração litúrgica

Durante o tempo de Quaresma, às quintas-feiras, terão lugar encontros de formação sobre o serviço da música na celebração litúrgica. Os encontros começam às 21h30 na igreja da Serra do Pilar, e a entrada é livre.

Nos dias 22 de fevereiro e 1 de março os encontros serão orientados pelo presbítero, Arlindo de Magalhães. O encontro de 8 de março será orientado pelo Dr. Manuel Neto e, no dia 15 de março, a comunidade contará com a presença do professor Fernando Lapa.

O Dr. Manuel Neto e o Prof. Fernando Lapa foram, juntamente com o presbítero Leonel Oliveira, os responsável pela criação do serviço musical na Comunidade da Serra do Pilar.

Ceia da noite de Natal

Sugestão de uma oração para a ceia da noite de Natal

(Poderá presidir o Pai, a Mãe ou outra pessoa qualquer, competindo-lhe dizer o V/ e eventualmente fazer a pequena leitura do Evangelho. Os mais convivas respondem com R/)

V/ Bendito seja o teu santo Nome,
Senhor Jesus,
nesta santa festa do teu nascimento!

R/ E pelos séculos dos séculos!

Leitura do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas (2,6-7.11-13)

Quando Maria e José se encontravam em Belém para ali se recensearem, completaram-se os dias de ela dar à luz. E ali teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria.

O mensageiro disse: Anuncio-vos, a vós e a todo o povo, uma grande alegria: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolvido em panos e reclinado numa manjedoura.

De repente, juntou-se-lhe uma multidão de anjos, que louvavam a Deus, cantando: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!

breve silêncio

V/ Oremos (…)

V/ Senhor, nosso Deus,
tu deste hoje a Paz aos homens
enviando-nos Jesus, o Senhor,
e com ele a claridade da sua Luz.
Abençoa-nos esta refeição de festa:
nela fazemos memória dos nossos maiores
que partiram dos dias da Vida
e da Natividade do mesmo Jesus Cristo,
teu Filho e nosso irmão!

Amen!

Concerto de Natal

 

 

Na próxima sexta-feira, 1 de dezembro, às 16 horas, terá lugar na igreja da Serra do Pilar o Concerto de Natal Solidário organizado pelo Movimento de Cidadãos por Gaia, e que contará com o Grupo Coral da Caixa Geral de Depósitos e com o Orfeão da Madalena.

A entrada é livre. Cada participante é convidado a trazer uma partilha de alimentos para beneficência dos mais fragilizados.

Vigília de Advento

O Advento é a grande vigília do tempo presente, nos dias tornados pequenos e no tempo que se faz pouco.

Por isso a Comunidade se reunirá a revigorar a Esperança.

No próximo sábado à noite, dia 2 de dezembro, às 21H30, Vigília do Advento.

Uma história que se celebra

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Efetivamente, faz hoje 50 anos que fui ordenado presbítero na Sé Catedral do Porto pelo Bispo Florentino de Andrade Silva, Administrador Apostólico da Diocese, que D. António Ferreira Gomes era ainda um exilado do salazarismo. 13 de Agosto de 1967.

O concílio Vaticano II havia terminado em Dezembro de 1965, eu acabei o meu curso de Teologia em Junho de 66 e, por decisão superior, ia ser músico. Fui-o por algum tempo mas pouco depois, o Bispo António não tinha ainda regressado do exílio (1969), fui dizer ao Administrador Apostólico que era padre não músico. Nessa altura havia já sido integrado na equipa formadora do Seminário Maior do Porto, onde trabalhei até 1974. Nesses primeiros anos comecei a descobrir na riqueza do Vaticano II uma palavra ou realidade que dele escorreu: Comunidade.

E foi no Seminário Maior do Porto, e também nas paróquias de Santo Ovídio e de Vilar de Andorinho (— Vós, Vilarenses, lembrais-vos do Ogiva?), onde deitei uma mãozinha, e comecei a perguntar-me a mim mesmo que novidade continha a palavra comunidade, e se a comunidade podia tornar-se realidade? Eis a questão.

E fiz experiências, houve discussões ou debates em sítios vários e quanto mais tudo se complicava mais eu tentava avançar, até que, um dia, já D. António regressara do exílio, na criação da paróquia de Nossa Senhora da Ajuda (Porto), em 1972, ele disse isto:

“uma Igreja que se sente missionária, que tem o mandato deste mundo de hoje como ele é, que se sente pequeno rebanho, assembleia convocada e convocante, com missão principalmente de converter e cristianizar os cristãos ou na alternativa, de passar aos bárbaros, essa Igreja ensaia novos caminhos de acesso às inteligências e corações deste tempo, a nova linguagem no diálogo com o homem de hoje e os novos métodos de inserção da graça na natureza deste mundo que se quer personalizado e de dimensões humanas na socialização das estruturas e mentalidades. (… Por tudo isto,) É tempo de pastoralmente mudar: e, agora, ou mudamos ou seremos os novos pagãos a caminho igualmente do fim”.

Oh, maravilha sem par! O que tu acabas de ouvir! O problema foi que, depois de tão grande esperança, andou-se mas para trás.

Neste contexto, no ano 1974, eu tinha exatamente 30 anos, vim parar aqui, à Serra do Pilar, com a tal palavra — Comunidade — não me lembro se na pasta se na cabeça. Essa é uma história outra, que encaixou perfeitamente nesta, mas da qual não há relato aqui.

À palavra Comunidade juntou-se a palavra “Evangelização”. O Papa Paulo VI publicaria em Dezembro de 1975, uma Exortação Apostólica espetacular — “Anunciar o Evangelho”. Foi aí que dei um dos dois saltos mais altos da minha vida (o outro seria no interior da Biblioteca Nacional de Paris, em 1993): “as pequenas comunidades … nascem da necessidade de viver mais intensamente a vida da Igreja; ou então do desejo e da busca de uma dimensão mais humana do que aquela que as comunidades eclesiais mais amplas dificilmente poderão revestir, sobretudo nas grandes metrópoles urbanas contemporâneas onde é mais favorecida a vida de massa e o anonimato ao mesmo tempo”. Está aqui o que eu já sabia mas nunca tinha lido nem ouvido! O tal salto!

Estava traçada e decidida a minha ação pastoral.

Mais tarde, em 1978, comprei em Fátima, um livrinho — De la vie Communautaire (A vida Comunitária), de um autor que certamente ainda não conhecia — Bonhöeffer (1906-1945) — onde li esta coisa espantosa: “Uma comunidade, [coisa] visível sobre a terra, é já uma espécie de antecipação misericordiosa do Reino que há-de vir. Mas esta graça não é acessível a todos os crentes”. Estarreci: “a existência de uma comunidade visível é uma graça não acessível a todos os crentes”!!! “Para o cristão, a presença sensível de outros irmãos constitui uma fonte incomparável de alegria e reconforto”!

A comunidade da Serra do Pilar, ainda bebé pois tinha nascido há 4 anos, era portanto uma graça não acessível a todos os crentes! Que quer isto dizer? Que encargos carregamos?

Construir é sempre mais alegre e exultante que manter vivo depois. Em 1992 eu estava cansado, morrera-me a mãe mas não só, mas o bispo Júlio… e eu fui parar a Salamanca e depois a Madrid. Regressei 5 anos depois, a Católica apanhou-me mas voltei à Comunidade, que estava muito diferente …

Paulo, o perseguidor, o fundador de comunidades, o viajante, o anunciador e evangelizador, sempre a correr, a cuidar, a pregar, a acudir, de certeza que também a chorar, a arrepender-se das asneiras que fazia, agora escondido e depois preso, aqui – descido numa cesta muralha abaixo (At 9,25), ali – escondido em Bereia (ct 17,10), aqui acusado de “alvoroçar o mundo inteiro” (At 16,6) depois de, em Atenas, o terem mandado passear, e ele foi (ct 17,32)… Mesmo assim, quando Festo, Procurador da Palestina, lhe disse: “Estás doido, Paulo! A tua grande sabedoria fez-te perder o juízo!”, Paulo respondeu-lhe: “Eu não estou doido, excelentíssimo Festo. Pelo contrário, estou a falar a linguagem da verdade e do bom senso!” (At 26,24-25)…

Ordenado portanto há 50 anos, aqui vivi muito mais de metade da minha vida. E por isso dou graças: “a Gaio que me recebe como hóspede, a Erasto, o tesoureiro da cidade” (Rm 16,23), a mesma coisa. “Fico feliz com a chegada de Estéfanes, Fortunato e Arcaico que me substituíram na minha ausência” (1 Cor 16,17). Entretanto, via “casa de Cloé”, chegam-me notícias de que há discórdias entre vós (1Cor 1,11). Mas eu próprio, depois de ter andado com Barnabé nos “caminhos do Senhor” (Act 13,10), em Antioquia, em Tarso, em Chipre, em Icónio, em Listra e de ter estado no Concílio de Jerusalém, apesar disso, discuti com ele tão violentamente que nos separámos um do outro (At 15,39) e nunca mais nos encontrámos.

Neste momento, aos meus irmãos de longe envio-vos Tíquico, o irmão querido e fiel no Senhor que vos contará o que se passa por cá” (Ef 6,21), saúdo também os da “casa de César” (Fl 4,22), saúdo a família de Onésimo (Col 4,9), e mando abraços a Erasto (Rm 16,23) – que ficou em Corinto, a Trófimo – que deixei doente em Mileto (2Tim 4,20). Daqui cumprimento Êubulo, Pudente, Lino, Cláudia e todos os mais irmãos (2Tm 4, 19-20). Vós, os de Roma, sois tantos que eu não posso nomear-vos todos aqui; “Saudai-vos vós uns aos outros como todas as igrejas de Cristo vos saúdam a vós” (Rm 16,16). E, já me esquecia, “Saudai também Prisca e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, pessoas que, pela minha vida, expuseram a sua cabeça” (Rm 16,3), e Febe, a diaconisa da Igreja de Cêncreas, a primeira “protectora de muitos e de mim pessoalmente” (Rm 16,2).

Eu «Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no meio de provações. Jamais recuei perante qualquer coisa que vos pudesse ser útil. Preguei e instruí-vos, tanto publicamente como nas vossas casas…

Agora, tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores, para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue.

Sei que, depois de eu partir, se hão de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho. Estai, pois, vigilantes. Confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados.

Nunca cobicei nem prata nem ouro, nem o vestuário de alguém. E bem sabeis que foram estas mãos que proveram às minhas necessidades, recordando-vos as palavras que o próprio Senhor Jesus disse: “A felicidade está mais em dar do que em receber”» (At 20,17-35).

Permiti-me também que, com toda a seriedade, vos diga estas palavras do meu amigo Leonel: “O que eu sou devo-o a vós! O que ainda não sou, devo-o a mim” (1983.10.22).

Tantos irmãos e amigos! E anjos e arcanjos não há? Há pois, Anjos e Arcanjos, Domínios e Principados, Querubins e Serafins! Um destes últimos, meio ano depois de tudo começar, em Julho de 1975, escreveu-me assim num papel que me enviou depois por correio: “… o momento do café, hoje, e a posterior leitura da folha dominical que me deste levaram-me a sentir qualquer coisa que não pode exprimir-se: ser conduzido pelo Espírito! (…) Não me compete declarar se o Espírito está ou não está no sentido da Lumen gentium, mas dou testemunho de que ele anda por perto”.

“Regozijemo-nos e alegremo-nos!” (Ap 19.7).

Arlindo de Magalhães, 13 de Agosto de 2017

Uma história que se testemunha (1)

É já no próximo sábado, 16 de Setembro, que terá lugar a primeira “mesa-redonda” no âmbito das celebrações dos 50 anos de ordenação do nosso presbítero Arlindo de Magalhães: Uma história que se testemunha.

O encontro será às 21h30 no Colégio Nossa Senhora da Bonança (R. Dr. Francisco Sá Carneiro 1366, 4400 Vila Nova de Gaia). A entrada é livre e todos estão convidados!

 

 

Domingo 3 de Setembro, Eucaristia às 21 horas

No próximo domingo, 3 de Setembro, a celebração da Eucaristia terá lugar na igreja da Serra do Pilar às 21 horas, e não às 11 horas como habitualmente, devido às perturbações impostas pelo festival redbull air race.

Sine dominico non possumus: «Sem o Dia do Senhor não podemos viver».
Tal foi a resposta dada em 304 d. C. pelos 49 mártires da Abitina (Norte de África, atual Tunes) ao interrogatório do próconsul encarregue de aplicar a interdição da celebração dominical imposta pelo imperador romano Diocleciano. Um dos mártires, Félix, terá dito: «Um cristão não pode viver sem celebrar os mistérios do Senhor e os mistérios do Senhor não se celebram sem a presença dos cristãos!».