Passeio 2014

Passeio2014

Em peregrinação às terras da Maria da Fonte

Rapariga natural de Fonte Arcada, em 1846 Maria da Fonte encabeçou e deu nome a uma rebelião que teve como causa ou pretexto a não aceitação das leis de Costa Cabral que proibiam os enterramentos dentro das igrejas. Em 19 de Março daquele ano, um grupo de mulheres armadas de chuços e foices obrigou o Pároco da freguesia de Santo André de Frades a dar sepultura dentro da igreja do cadáver de uma mulher que ia a enterrar. Os tumultos prosseguiram e, no mês seguinte, tinham já alastrado por todo o Minho e Trás-os-Montes, tendo tomado logo de seguida feição política, pró-miguelista)

 A igreja românica de Fonte Arcada

“… FONTE ARCADA, onde há uma igreja românica das mais antigas que em Portugal se construíram, dizem os registos que em 1067. Contra o costume, o cordeiro representado no tímpano é um animal adulto, de sólida armação córnea. O viajante julga compreender: a pureza é compatível com a força, e este carneiro obviamente se vê que não irá ao sacrifício sem resistir. Estes tempos românicos eram ásperos, agarrados ao instinto, sábios de Sol e de Lua, como se vê na porta lateral, e muito capazes de infringir as convenções da sacristia: o Cordeiro de Deus é um carneiro, e, se Cristo expulsou do templo os agiotas, marre o carneiro enquanto Cristo brande a chibata” (José Saramago – Viagem a Portugal)

 (A igreja de Fonte Arcada tem inegável marca gótica. É possível que tenham trabalhado aqui alguns artistas vindos de Roriz, Sousa e Ferreira, bem como alguns mais de cultura árabe, Da frontaria ressalta imediatamente a rosácea, de todo semelhante às de Roriz, Pombeiro e Paço de Sousa.)

O Santuário de Nossa Senhora dos Milagres ou de Porto d’Ave

Construído na primeira metade do século XVIII, este santuário chama particularmente a atenção pelo facto de estar situado não num alto, próximo do céu, mas em baixo, ao lado do rio Ave que ali se espraia numa larga veia.

Ou seja: aqui, para se chegar ao santuário, não se sobe, desce-se. Para tal se construiu um belíssimo escadório —  que se desce, não se sobe — hoje semi-escondido por frondoso arvoredo.

O rio é, como sabemos, uma água corrente, purificatória e lustral. E a descida às águas é importante no imaginário e na prática sacramental do cristianismo. Na Igreja primitiva, o baptizando descia às águas — para tal nos baptistérios do primeiro cristianismo havia escada — e só então era baptizado; subia depois por outra escada, homem novo que era, já com veste branca e com uma luz – símbolo do que disse “Eu sou a luz” — na mão.

Ex-votos

No interior do santuário, há uma enorme colecção de ex-votos, a dizer da multidão de peregrinos que aqui acorria.

“Em torno das imagens, nas paredes, ao longo das naves ou em capelas acessórias, frequentemente vários painéis atestam e celebram admiráveis milagres, proclamando assim o perpetuando o reconhecimento pelas graças obtidas” – assim explicava o poveiro Rocha Peixoto o que sejam tábuas votivas, geralmente chamadas ex-votos ou até simplesmente milagres, que chegaram até nós aos milhares.

O Monte de São Mamede, ou de Penafiel ou do Castelo

Do alto deste Monte, localizado na freguesia de Maria da Fonte, Santo André de Frades, disfruta-se um dos mais belos cenários paisagísticos de Portugal.

Lugar habitado desde os tempos mais remotos, por lá passaram Celtas, Romanos, Suevos e Visigodos.

Aqui se reúnem, portanto, práticas religiosas pagãs e cristãs. Monte de São Mamede. São Mamede, que terá padecido martírio em Caesareia da Capadócia, ao tempo do imperador Aureliano (170–175),  diz-se que pregava a Palavra de Deus aos animais selvagens!, e conquistava a sua amizade; ordenhava mesmo corças e cabras selvagens e, com  o leite, fazia queijos que distribuía aos pobres. E assim se tornou patrono do gado, passando a ser invocado em todas as causas do leite. No dia da sua romaria, 17 de Agosto, os romeiros acudiam ao Monte a dar graças ao mártir: e traziam-lhe leita em jarros (hoje em pacotes de leite do supermercado). Eram (são) os lavradores que vêm agradecer a saúde dos seus animais, nomeadamente das fêmeas que, após o parto, têm leite para amamentar os filhotes.

Nas Inquirições de 1220 fala-se de um Castelo de Penafiel que era certamente o que aqui existia no Monte de S. Mamede.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *