1. Páscoa é uma palavra que vem do grego paska > passar. Assim fez Iavé, impulsionando o seu povo a passar do Egipto e da escravidão para a liberdade. Com a sua morte e ressurreição, Jesus passou deste mundo ao Pai.
Na Páscoa judaica do tempo de Jesus celebrava-se o êxodo ou saída do Egipto, no dia 14 do mês de Nisán (março-abril), o primeiro do ano, data que coincidia com a noite da primeira lua cheia da Primavera.
”Este mês — disse Deus a Moisés e Aarão na terra do Egipto — será para vós o primeiro, o primeiro dos meses do ano …” (Ex 12,1-11). “Guarda o mês de Abib [depois Nisan] e celebra a Páscoa em honra do Senhor, teu Deus. Foi no mês de Abib que ele te tirou do Egipto, durante a noite. Imolarás ao Senhor, em sacrifício pascal, gado miúdo e graúdo, no santuário que ele tiver escolhido tiver escolhido para estabelecer aí o seu nome” (Dt 16,1-2).
Nessa noite, as famílias, cada uma por si, sacrificava um cordeiro, recordando assim a noite em que Israel se livrou da servidão do Egipto e à noite, numa ceia familiar, comia-se o cordeiro e alimentos amargos (alusão à opressão do Egipto) e doces (riquezas da terra prometida).
Nessa noite, Deus feriu os primogénitos egípcios e “passou à frente“ das casas de israelitas cujas ombreiras e padieiras estivessem marcadas com o sangue do cordeiro já sacrificado. “Aquele dia será para vós um memorial” (Ex 12,1-14).
“Observa (também) a festa dos ázimos (na mesma noite do sacrifício pascal, diz também Moisés): comerás, durante sete dias, pão sem fermento, durante o mês de Abib: Foi nesse mês que saíste de Egipto, … Trabalharás durante seis dias mas descansarás no sétimo, mesmo no tempo da lavra e da ceifa” (Ex 34,38.21);
e guardarás “… ainda a festa das Tendas, durante sete dias, quando recolheres os produtos da tua eira e do teu lagar (referência ao vinho). (…) Alegrar-te-ás durante a festa com os teus filhos e filhas, os teus servos e servas, com o levita, o estrangeiro, o órfão e a viúva que estiverem dentro das portas da tua cidade. Festejarás esses sete dias em honra do Senhor, teu Deus… Faz a festa com alegria!” (Dt 16,13-15.17).
2. Chegados a Jerusalém, os discípulos foram rápidos a perguntar a Jesus “onde queres que façamos os preparativos para celebrar a Páscoa? (Mt 22,17) … e Jesus …: Ide preparar-nos o necessário pra a ceia pascal” (Lc 22, 8).
“Chegou o dia dos Ázimos em que devia sacrificar-se o cordeiro” (Lc 22,7). Ao cair da tarde, ele e os Doze)” (Mt 26, 20). “Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco! … Pegou então num cálice… depois no pão… (Lc 22, 16-20).
3. Se, depois da Ressurreição, os primeiros cristãos (ainda se não chamavam assim) judaicos continuaram ou não a celebrar a Páscoa judaica — é questão que não nos interessa aqui, mas sabemos que sim, que se celebrava —; e que os primeiros cristãos começaram logo a celebrar a Páscoa cristã, disso é que não há dúvida, foi logo, não anualmente mas semanalmente. Era o dies Domini (dia do Senhor) > dia domingal > domingo: o grupo reunia-se para “a fracção do pão” (At 2,42).
Portanto, se Israel celebrava uma Páscoa anual, os cristãos começaram logo a celebrá-la em todos os “primeiros dias” de todas as semanas (At, 20,7). Mas podemos admitir que a fração do pão de que se fala logo no princípio dos Atos dos Apóstolos (2,42) se tivesse enriquecido mais, uma vez por ano, numa celebração anual da Morte/Ressurreição de Jesus!
A festa da Páscoa cristã foi fixada— pelo Concílio de Niceia, no ano de 325 — no primeiro domingo a seguir à lua cheia, depois do equinócio da Primavera. Oscila, portanto, entre o 22 de Março e 25 de Abril.Não se esqueça que esta viagem que vimos fazendo pelo Calendário da Liturgia romano-europeia começada com o Advento de 2019“, nos trouxe já, primeiro do Advento-Natal até à Páscoa; depois, passando com Jesus pela Galileia, até aqui. Celebrada a Páscoa acabaremos a perceber o que é o Tempo adulto, o Tempo a que Liturgia chama Comum, Tempo Comum, já a caminho do fim.