Grupo de Jovens

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Faz agora quatro anos que nos unimos. Há quatro anos que somos um grupo. Há quatro anos que começou aquilo, que nunca pensámos que íamos ser juntos.

Não éramos mais do que jovens com a catequese terminada e sem qualquer tipo de rumo a seguir. A idade em que vivíamos era crucial. Enfrentávamos aquela fase de mudança que pode ter influência no resto da nossa vida. A vontade que tínhamos de viver em Comunidade, juntamente com o resto da Serra do Pilar era grande mas surgia sempre a grande pergunta: Onde é que nos enquadramos? Já não éramos as crianças que tinham catequese mas estávamos longe de ser os adultos que têm seus ministérios na vida da Comunidade. A verdade foi que tudo isto fez surgir um grupo de jovens: foi a grande tentativa de nos enquadrarmos e sermos valorizados pelo resto da Comunidade.

Facilmente a ideia foi apoiada por toda a gente. Todos eram de acordo com a formação de um grupo para nós, os meninos que haviam acabado a catequese e quando demos por ela, já as sessões tinham começado. Aquilo que com certeza todos nós sentimos foi medo. Mas um medo bom. Aquele medo que nos leva ao silêncio e à timidez. Não sabíamos o que esperar. Talvez lá no fundo, a nossa expectativa era de que fosse algo como a catequese, quase como uma espécie de continuação. Começámos por comunicar por olhares. Olhávamos as pessoas que se tornariam nossos companheiros. Esperávamos sempre que alguém falasse por nós, alguém que quebrasse o silêncio constrangedor que nós não conseguíamos ainda quebrar.

À medida que o tempo ia passando, começavam a escapar das nossas bocas os bons dias e os olás e mais cedo ou mais tarde os olhares confusos que víamos uns nos outros antigamente, tornaram-se suficientes para perceber que por alguma razão precisávamos uns dos outros, precisávamos de ali estar. A adolescência é uma altura em que corremos o risco de ficar dependentes de certos perigos. A verdade é que a nossa dependência era outra, dependíamos uns dos outros.

A nossa união tornou-se tão grande que precisávamos de a demonstrar. Precisávamos que toda a gente soubesse e percebesse a importância do grupo na nossa vida. Toda esta vontade de estarmos presentes e vivermos em comunidade começou a transformar-se em canções escritas por nós, jantares organizados por nós, e o nosso começo na convivência e interacção na maioria das actividades organizadas pela Serra do Pilar. Aquilo que nos deixa mais orgulhosos após quatro anos é podermos dizer que os nossos objectivos iniciais estão a ser cumpridos e outros novos continuam a surgir. Todos nós aprendemos bastante com todo este processo e principalmente crescemos com ele. Acima de tudo deu-nos oportunidade de nos definirmos a nós próprios. Não são os outros que nos definem, somos nós. A escolha é nossa. Podíamos ter seguido muitos outros caminhos, mas juntos escolhemos seguir aquele que ainda hoje percorremos.

Conseguimos agora viver connosco e em comunidade. O grupo de jovens transmitiu-nos valores dos quais nos lembraremos para sempre, porque ao fim ao cabo foi muito mais do que uma continuação da catequese. Tudo isto só foi possível graças à nossa orientadora, que sempre lutou, luta e lutará por nós aquela que nunca nos deixou para trás, quase como uma segunda mãe. Por isso devemos-lhe tudo. Sem ela não seriamos o grupo que somos, ela faz de nós diferentes, únicos. Devemos-lhe todos os ensinamentos e lições e agradecemos a diversão e o ‘ombro amigo’. Agora o dever é nosso, é a nossa vez de transmitir tudo o que aprendemos com ela ao próximo. É a nossa vez de fazermos os outros serem diferentes como nós. Foi tudo isto que fez com que encontrássemos a nós próprios e o local onde pertencemos. E isso é das poucas coisas que temos a certeza que não vamos nunca perder. Grupo de Jovens, Março de 2014

Um dia a relembrar

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Foi algo único, extraordinário, nunca antes ocorrido na Comunidade da Serra do Pilar. O grupo de jovens Cres’Ser Jovem veio conhecer a nossa Comunidade “por dentro e por fora”. Foram sete amigos que nos vieram visitar e trazer a alegria num dia em que as nuvens começavam a espreitar.

Iniciámos o nosso encontro com uma pequena visita guiada à igreja, ao claustro, à sacristia e às salas da catequese, explicando um pouco da história da Serra do Pilar no decorrer da visita. As expressões faciais e reações dos nossos convidados ao visitarem os diferentes anos de catequese foram magníficas: transpareceram sentimentos de surpresa e admiração, mas ao mesmo tempo com um agrado pelo modo como a catequese é transmitida às crianças na nossa comunidade. Muitas vezes o mais importante não é a quantidade, mas sim a qualidade e é desta última característica que os nossos meninos resplandecem.

A hora da Eucaristia aproximava-se e dirigimo-nos então para os nossos lugares habituais, cada um ocupando “a sua função” na comunidade. Durante a Homilia fomos congratulados com a explicação de uma bióloga sobre a questão do surgimento do Universo e a questão do Bosão de Higgs. Quem melhor para falar neste assunto senão um entendido na matéria? Posteriormente gerou-se o convívio na sacristia a que estamos habituados. O âmbito deste nosso “café” é a angariação de fundos para os diferentes grupos da comunidade e ao mesmo tempo proporcionar um momento de descontração e diálogo.

Chegou a hora do almoço e todos nos deliciámos com as agradáveis bifanas que prepararam para nós. De seguida, deu-se um dos momentos mais altos do nosso encontro: a reflexão com o Padre Arlindo. Começámos por ouvir os comentários do grupo Cres’Ser Jovem, face àquilo que tinham observado ao longo do dia, isto é, face à nossa comunidade. A seguir, o Padre Arlindo deu-nos o seu ponto de vista e contounos algumas histórias da comunidade. Falou-nos sobre o seu paramento, que é diferente de todos os outros, e sobre as razões de alguns dos gestos e rituais que se realizam na Comunidade da Serra do Pilar. Falou-nos da importância das leituras serem feitas por leigos e não por membros do clero e do motivo pelo qual a mesa não se encontra posta no início da celebração. “O partir do pão” é levado à letra na nossa Comunidade e distribui-se pão de trigo sem fermento a toda a assembleia. Para que se percebam estes gestos é necessário ir à origem da questão. Jesus, durante a Última Ceia, partiu o pão para que chegasse para todos os discípulos. Se pretendemos que o seu gesto permaneça, considerando agora o pão como o corpo de Jesus, porque havemos de transformá-lo em hóstia? São algumas das ideais que a nossa Comunidade partilha. “Viver a Igreja”, participando nos seus rituais e percebendo o seu significado, fazendo-o da forma mais acertada.

De seguida realizámos uma atividade lúdica como momento de descontração e de diversão. Pintámos um biombo em conjunto, sem regras e sem temas. Pintámos o que sentimos no momento. Ficou algo indescritível, mas mais surpreendente foi a “tela humana” que começou a surgir. As pinceladas que de repente pintavam a nossa cara ou os nossos braços foram como rajadas de alegria que se espalhavam entre nós. No fim, convivemos mais um pouco e de seguida fomos todos para casa. No entanto, algo especial continuou a ligar-nos quando nos despedimos. Para mim, foi um daqueles dias em que adormeci a pensar: “Isto sim, é viver!”

Joana Lourenço, 2014-03-09