A família é raízes

Família é, são raízes… é, são a seiva, o sangue dos antepassados que nos correm nas veias… e os meus estão no alto Douro, Beira Alta, na aldeia da Coriscada, conselho da Mêda e os da Céu estão no Douro, na aldeia de Fontelo de S. Domingos, Armamar… por isso hoje, estes dias de natalis não estamos a celebrar com a família que encontramos na Comunidade.

      Somos, fazemos parte de um grupo imenso de pessoas emigradas… não estamos na aldeia, não somos da cidade.

     Eu fui para a cidade estudar e por lá fiquei… estou! A Céu foi para a cidade trabalhar e não mais regressou para a aldeia.

     Na cidade nos encontrámos… fizemos caminho e embora tendo ido casar na aldeia, a fim de se cumprir a tradição… a nossa vida é na cidade e na cidade estamos a crescer e a criar família: nós e nossos filhos Inês e Pedro.

      Somos viajantes de primeira geração que desbravam o caminho da cidade… onde tantos caminhos levam e trazem pessoas que passam, seguem seu caminho ou que são simplesmente visitantes; e este caminho é penoso, mas também cheio de alegrias e amor.

     Não foi, não é nada fácil não ter os pais, os avós para ir almoçar ao domingo ou deixar os filhos de vez em quando… mas isso também ajudou a criar laços, a fazer coisas menos bem feitas ou mesmo a cometer alguns erros… ! Estamos a criar os nossos filhos e construir família numa realidade que nós não experienciámos: procurar, encontrar e deixar os filhos no berçário, na creche com estranhos, 6h… 7h… e ir para o trabalho cuidar e ajudar os filhos dos outros a crescer… quando podíamos, deveríamos era estar com os nossos filhos!

     Levar os filhos ao Balé… piscina… patinagem…. futebol… porque “é assim”: os miúdos têm actividades extra-curriculares para saltar, pular, crescer saudáveis! Quando o nosso crescer e pular foi feito atrás dos pais quando iam para o campo… correndo atrás dos cães… ou dos amigos nos caminhos e carreiros da aldeia que ora levavam à escola… ora levavam ao campo para ir apanhar os nabos, as canas, as beterrabas para os animais… ou mesmo acompanhando os pais nas lides: na azeitona, a lavrar a terra para as batatas ou milho… a regar a horta ou as alfaces, as cenouras, as cebolas e os tomates… a ceifar o milho, ou o centeio ou mesmo na vinha, nos figos, ou nas cerejas… agora ter de ficar do lado de fora e observar como evoluem no balé e têm de fazer exames para o nível seguinte… seja lá isso o que é! Ou ficar a vibrar e a torcer para que se divirtam no jogo de futebol… quando o que eu queria era ser capaz de ganhar ao meu amigo João ou ao Carlos ou ao Luís ou ao… e depois acabava o jogo porque as luzes da rua se acendiam e tínhamos de ir para casa e no dia seguinte lá estávamos todos ao lado uns dos outros para aprender a  lição que o professor José Luís ou a professora Leónida ou o Padre Hélio tinham para ensinar!

     Mas na cidade não é assim… corre-se de um lado para o outro para fazer exercício mas o único cansaço não é o físico… mas o mental: de enfrentar o trânsito e de não se chegar a horas à escola, ao trabalho, às actividades e de novo a casa… e nos trajectos:

     – Como foi o dia hoje? O que aprendeste?

     E ao fim-de-semana…

– Vai, Inês, leva lá a cestinha… a “Nani” espera por ti!

– Pedro: podes vir para o colo do pai e podes sentar-te aí no estrado do ambão… mas cuidado para não cair! … mas que grande trambolhão!

     E assim se vai construindo e crescendo em família porque…

«Sabes pai, para nós é estranho os nossos amigos terem os avós perto… os avós vivem na aldeia!», palavras da Inês e do Pedro.

Porque os avós cheiram a campo… a ovelhas… a fumo e a feno… e têm o rosto queimado do sol do verão e do gelo do inverno. E a comida sabe! Tem paladar! As uvas são docinhas… as cerejas são brancas e vermelhas na cerejeira! A maçã é do “Calhau… João Calhau”! e as cenouras e as couves fazem a sopa saber a legumes!

     E assim a família vai-se fazendo, criando raízes que vão desde Vila Nova de Gaia, passam por Fontelo e chegam à Coriscada, e tem antepassados… e tem descendentes!

 

Pedro, Inês, Céu e Rogério Alves