A Fracção do Pão e a Comunidade

Interior da Igreja de S. Pedro, Antioquia (séc. XII)

Interior da Igreja de S. Pedro, Antioquia (séc. XII)

Fim de férias, continuamos à espera que o Bispo do Porto venha à Serra do Pilar, “logo que possa!”, está praticamente no fim o quadragésimo ano da Serra do Pilar, pensa-se numa Assembleia da Comunidade um pouco mais à frente, Assembleia em que se reverão e enriquecerão as Bases da Comunidade. De que se trata?

Quando, há 40 anos, aqui cheguei, resolvi começar o trabalho pastoral pela celebração dominical. Na Serra havia muitas missas, ao domingo e à semana: muitas missas, poucos fiéis e muito dinheiro a girar. 15 dias depois de haver começado, introduzi alguma ordem nessa questão, escrevi-o até num papel que coloquei ali em baixo, à entrada, e assim se começou a caminhar. Logo depois veio a questão da catequese das crianças…

Com o cristianismo primeiro aconteceu rigorosamente o mesmo. No início, era assim: “sempre que dois ou três se reunirem em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20) e “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). E depois tudo se complicou conforme os lugares e as pessoas: Jerusalém era Jerusalém, mas Antioquia era muito diferente de Jerusalém (At 11,20). De qualquer modo, rapidamente se passou a escrito não como se havia de fazer, mas o que se fazia: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão…” (At 20,7) …

No princípio, não havia nem leis canónicas nem documentos, os cristãos reuniam-se em casa uns dos outros e não em templos, ensinavam os que chegavam, corrigiam-se uns aos outros e entoavam hinos, salmos e cânticos espirituais (Cl 3,16), não havia ainda nem lecionários nem missais… Não havia ainda bispos, só diáconos e 12 apóstolos; e, quando era necessário, um idoso (isto é, um presbítero) assumia a presidência, e pronto!, estava tudo bem, às vezes os escolhidos eram chatos, gostavam de falar – o Livro dos Atos conta que Paulo era um desses: “começou a falar, a falar, prolongou a sua pregação até à meia-noite, alongou-se no seu sermão…” (At 20,7-9).

E foi por esta porta que entraram as leis, os costumes, o Direito, etc., etc. De início, não eram necessárias essas coisas, mas, quando chegaram os segundos, tiveram de as introduzir. O pior foi que, depois, as leis e etc. passaram a ser mais importantes que o espírito que animava os primeiros.

Não só na Igreja foi assim. Na Serra do Pilar também: para introduzir o espírito dos primeiros, foi necessário apelar não só à Escritura, mas também às leis, varrer o pó e — como dizia João XXIII — abrir as janelas para entrar ar fresco.

E, algum tempo depois, em 1976, com a criação do Conselho da Comunidade, passou-se ao papel o que se lhe pedia e como devia funcionar: ao texto conseguido deu-se o nome de Bases do Conselho da Comunidade. Durante 40 anos, esse texto original foi diversas vezes aprofundado e enriquecido, tanto que, de Bases do Conselho da Comunidade passou a Bases da Comunidade: que Comunidade é esta? e que papel tem o Conselho na Comunidade? Não é uma regra de vida este documento: é a reflexão de uma Comunidade de cristãos sobre si própria, comunidade que tem riquezas e pobrezas.

Pensámos que, no 40º ano da sua vida, a Comunidade podia e precisaria de voltar ao texto — Bases da Comunidade — em que se não mexe desde 2002. Ele tem, digamos, duas partes: a primeira, de ordem teológico-pastoral; a segunda, de ordem prática. É sobretudo esta segunda que precisa de uma remodelação.

Está finalmente impresso um livro que recolhe as homilias do ano 2002/2003 — eu prometi em 2002 que assim se faria, mas o dinheiro não deixou que tivesse sido mais cedo —, e um sábado à tarde poderíamos apresentá-lo à comunidade juntamente com o novo texto das Bases. O texto refletido votar-se-á depois em Assembleia da Comunidade — “O Espírito Santo e nós resolveremos” (At 15,28) — a convocar lá para finais de novembro ou já no Advento.

Arlindo de Magalhães, 13 de Setembro de 2015

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