João (o Batista) teve notícia do que Jesus, seu primo, andava a fazer. Enviou, portanto, discípulos seus a perguntar-lhe: “És tu Aquele que há de vir ou devemos esperar Outro?”. João Baptista não entendia muito bem o que o primo andava a fazer ou a dizer.
E Jesus respondeu-lhes imediatamente: Os cegos vêm, os coxos andam, os leprosos atendem-se e limpam-se, os surdos ouvem, até os mortos ressuscitam! E aos pobres anuncia-se a Boa Nova (o Evangelho)!
Mas Jesus não fazia só isto. Comia com os pobres, visitava os doentes, acolhia publicanos e enfrentava ricos e pecadores, fossem eles Zaqueus ou fariseus, Madalenas, Martas e Marias, Lázaros e Simãos, viúvas e samaritanas…
Mas João não esperava um Messias como o que lhe diziam ser o seu primo; tinha a sua esperança posta unicamente num Messias a lutar contra o pecado, esperava um Messias justiceiro, ameaçador, castigador dos pecadores, dos desencaminhados, dos incrédulos… “Raça de víboras! – chamou ele aos fariseus – Quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir?”.
Sempre foi assim: ontem e hoje nos mundos religiosos, fala-se muito, prega-se muito mais, escreve-se até para ninguém ler. Isso acontece especialmente nos ambientes religiosos e eclesiásticos.
E Jesus modificou a religião do seu [e nosso] tempo. Lutou contra o sofrimento, deu resposta ao plano de Deus. E anunciou um Reino de Deus muito mais baseado no humano que no religioso: aliviar desgraças e dores, criar felicidades e espalhar boas notícias. Não nos entra também a nós, na cabeça, que a solução não está em discursos, argumentações, teorias e dogmas.
O que desconcertava a cabeça de João não era o que Jesus dizia, era o que fazia, as suas obras, não as suas palavras.
As palavras, a maior parte são paleio, ouvem-se; as obras veem-se.
Arlindo de Magalhães, 15 de dezembro de 2019