Atenção ao fumo e ao fogo dos medos e dos ódios sempre renascentes no Médio Oriente
NÃO são os Modernos mais difíceis do que foram os Antigos, nem hoje a Palavra tem mais dificuldades de circular entre os nossos contemporâneos e conterrâneos do que teve naqueles primeiros dias e primeiros lugares, quando Pedro e Paulo e os outros Apóstolos vieram de Jerusalém a Roma e de Antioquia à Espanha.
SE nos referirmos à Concorrência, é preciso que se diga, é preciso que se saiba, que as correntes religiosas e políticas, filosóficas e ideológicas, rivais, não foram naqueles dias menos competitivas do que nos tempos chamados modernos ou pós-modernos. Nem se diga que fomos favorecidos pelos poderes político-religiosos que dominavam o Mundo.
UM pouco de geografia e um pouco de história, ajudar-nos-iam a compreender o modo como os caminhos de Deus cruzaram os caminhos dos homens. A compreender para comparar, e até para nos estimular nestes dias chamados de Crise Geral. A leitura corrente feita no tempo pascal dos Actos dos Apóstolos não pretende outra coisa.
A NOVIDADE do Evangelho face à velhice e decadência do Mundo também não favoreceu, da mesma forma que hoje também não favorece. Quando se rompeu o último elo que ainda ligava os discípulos de Cristo ao Templo e à Sinagoga, os Judeus nunca mais nos perdoaram e por toda a parte nos perseguiram. Quando perderam o respeito de Roma e lhes foi destruída Jerusalém nos anos 70 e depois no ano 135 foram expulsos da Palestina, as primeiras perseguições de Roma contra os Cristãos foram por confusão e por arrasto. Mais tarde quando – em 313 pelo Edito de Milão – cessaram as perseguições contra a Igreja e o imperador Constantino se converteu (?) e o Império Romano se deslocou para Oriente, abandonando o Ocidente à fúria bárbara, os Judeus refugiaram-se entre os Persas e entre os Árabes e do outro lado da fronteira que separava os dois maiores impérios de então, Bizâncio e a Pérsia, tudo fizeram para destruir os Cristãos, participando em carnificinas de Igrejas e comunidades…
O ÓDIO dos Judeus contra os Cristãos durante o primeiro milénio não justifica (jamais) o ódio dos Cristãos contra os Judeus durante o segundo milênio quando os Judeus se refugiaram do ódio muçulmano entre os reinos cristãos do Ocidente europeu e se tornaram bode expiatório dos desastres históricos dos latinos. Fugindo aos Árabes, fugiam agora dos Cristãos voltando para os Árabes, então nas mãos dos Turcos ou refugiando-se por entre as divisões dos Cristãos uns contra os outros, até ao holocausto nazi e à última guerra que alteraram completamente a geografia e a história. Quer isto dizer, à luz da leitura de hoje dos Actos dos Apóstolos que temos sempre os Judeus diante de nós, não só os Judeus, também os Muçulmanos, e para além destes as multidões do Velho Mundo, do Novo Mundo e do Terceiro Mundo.
A MANEIRA como nos ensinaram a história e a geografia é que precisa de mudar, para que a Verdade nos liberte a todos, velada que anda sob o fumo e o fogo dos conflitos políticos, sociais e económicos. Depois do Vaticano II não é permitido a nenhum cristão manter-se ignorante e à parte da Verdade. Para que nunca mais nos deixemos tomar pelo medo e pelo ódio, seja de Judeu ou Mouro, Protestante ou Moderno, e sejamos capazes daquela liberdade e daquele amor com que os Apóstolos circularam pelos caminhos do Mundo. Atenção ao fumo e atenção ao fogo dos medos e dos ódios sempre renascentes e que no Médio Oriente como na América Latina nos podem impedir de ver a Verdade. É velho este Mundo, muito velho. Só a Liberdade e o Amor são coisas, novas. Não nos deixemos arrastar. Quem nos defende é o Pastor das nossas almas, que diz hoje: As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu conheço-as e elas seguem-me. Ninguém as arrancará da minha mão!
OS Modernos? Não são tanto quanto parecem. Andam agora cheios de medo, novos medos, velhos medos, medos milenaristas. Um velho persa, um velho zelote, basta para os encher de “medo”. Mal perderam o medo dos comunistas, ei-los agora cheios de medo dos integristas muçulmanos. Não saímos do sítio? E nós, viramos a página definitivamente? Tudo isto é fumo. Fumo de fogo, é verdade, fogo do Ódio que arde sempre. Só há uma maneira de apagar o fogo, este fogo, e de dissipar o fumo: o Amor, a fé no Amor. Eis a única coisa em que é preciso acreditar: o Amor entre nós, o Amor aos inimigos, o Amor aos que nos matam: a Vitória que venceu o Mundo e demoliu o Muro do Ódio. Páscoa de Cristo.
Leonel Oliveira, 1989.04.16, (Domingo IV do Tempo Pascal)