Já atrás vimos que, uma vez batizado, Jesus saiu da água e logo se rasgaram os céus, e se viu o Espírito de Deus descer e vir sobre ele o Espírito, como uma pomba E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha graça.»
Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto.
E ele logo começou a percorrer toda a Galileia a anunciar a Boa Nova, curando ao povo todas as suas doenças e enfermidades; mas fazia também visitas, visitava este e aquele,e mergulhava até na vida da própria sociedade.
Por exemplo, os pobres e seu não-pão (Lc 9,10…)
Não esquecendo os melhores tempos e vultos do Antigo Testamento, temos de concordar que Jesus foi o maior defensor dos pobres. Depois, a eclesía, isto é, os primeiros cristãos ouviram que: “toda a minha fortuna para sustento dos pobres” (1Cor 13,3). E se a Igreja quer ser hoje fiel às suas origens, precisa de ser defensora dos pobres do mundo. Nós temos de o ser também. Em todos os lados os pobres pedem ao mundo e particularmente à Igreja, que percebam o que aconteceu naquele tempo, “num lugar afastado … de uma cidade chamada Betsaida” (Lc 9,10) e mais tarde na escarpa de uma “Etiópia aqui ao lado”, lugares onde se multiplicaram o pão, os peixes e muitas coisas mais. Pouquíssimo pão e poucos e pequeníssimos peixes para multidões. Muitas vezes e em muitos lugares isso aconteceu: os pobres comeram e ainda sobrou! Ali também!
Outra questão em que Jesus interveio (Jo 2,13-16).
Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo vendedores de bois, de ovelhas e de pombas, cambistas nos seus postos e muitas coisas do género ainda que. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.»
“A forma como Jesus atacou diretamente o Templo como antro de materialismo, quando finalmente levou a sua mensagem para Jerusalém, determinou o seu fim”, escreveu há muito pouco tempo Frederico Lourenço. Nunca tinha pensado nisso, mas acho que tem razão.
Após tudo isto, batizado, conhecido o mundo à sua volta, percorridas “cidades e aldeias,… curadas enfermidades“ (9,35), visitados ricos e pobres, crentes e não crentes, depois de intervir no mundo político-religioso um dia, sentou-se num monte e começou a ensinar o povo, dizendo: “Felizes os pobres em espírito”, porque é deles é o Reino dos Céus”! São oito estas Bem-aventuranças apontadas por Mateus (6,20-26). Mas a primeira como que resume todas as mais: “Felizes os pobres…”!
Lucas (6,20-26) é mais concreto nas suas Bem-aventuranças que têm uma maior dimensão; mais preocupado com os pobres reais, desestabilizando a escala dos falsos valores que já naquele tempo enchiam a humanidade. Jesus terá mesmo soltado quatro “ais!” contra os ricos, como Lucas diz que sim?
E, afinal, o que é uma Bem-aventurança?
Arlindo de Magalhães, 2 de fevereiro de 2020