O Catecumenato da Serra do Pilar
Depois de Constantino, acabados os tempos paradigmáticos da Igreja, só quando a cristandade se dissolveu, melhor dito, só quando a Igreja deu conta que estava definitivamente pulverizada por uma secularização que tinha entrado em todos os sítios e lugares, é que reapareceu a questão de ser preciso anunciar a Boa Nova de Jesus e iniciar no mistério da Igreja aqueles que chegavam ao conhecimento do Filho de Deus, Senhor e Salvador. Porque, num mundo em que tudo era cristão, era a cultura envolvente que se encarregava de formar os cristãos.
No entanto, os ventos da Liberdade que sopram desde esse maldito mas tão importante século XV em que nasceu Lutero, bem como os tempos mais tarde surgidos da Revolução (francesa), criaram à Igreja ainda medieval, rural e segura, que dificilmente se deixava questionar, incapaz, quantas vezes, de perceber a novidade dos tempos, uma Igreja que foi perdendo pouco a pouco os seus (melhores) filhos, cidadela sitiada, sempre a armar em vítima, incapaz de anunciar Jesus Cristo e de se apresentar ela mesma, de modo visível e convidativo, como sacramento do Reino, tal como foi querida pelo seu e nosso Senhor, Jesus, criaram à Igreja — dizia — uma grave problema. Muitos cristãos deixaram de o ser — nem porquê nem para quê — e muitos outros deixaram-se disso. Quantos mais, tantos!, voltaram a um paganismo autêntico, agora cristão?
Enquanto isto, no entanto, muitos outros começaram também a chegar ao conhecimento de Jesus Cristo e a descobrir este espantoso sacramento do Reino, que é a Igreja. Muitos descobriam a novidade pela força desse Espírito de Deus que sopra sempre, onde quer, quando quer e como quer; e outros caíam abaixo do cavalo, como noutros tempos. Só que… quando se aproximavam da Igreja… ela não sabia como dar-lhes o que eles pretendiam e desejavam: a iniciação cristã. Desde o séc. V/VI que a Igreja não formava cristãos como que pretextando que eles nasciam já feitos.
Pode um engenheiro, um doutor, aprender o Evangelho? Para quê? Baptizado em criança, confessado e comungado, particular e solenemente, doutrina e casamento, pode ainda aprender algo mais de Jesus Cristo e da Igreja? Não saberá já tudo? E pode uma mulher curtida por uma vida madrasta, cansada de tanto sofrer, de uma cultura bem diferente da de um engenheiro, doméstica – diz a nomenclatura social -, aprender algo mais que lhe ilumine a vida, e lhe ensinar algo?
Estou, efectivamente, a falar do Catecumenato da Serra do Pilar. Catecumenato e Comunidade: eis duas palavras-chave (realidades) da nova teologia pastoral saída do Vaticano II. É verdade que destas realidades o Concílio quase não falou. Mas hoje em dia, lá vão 30 anos, quase não é possível pensar o ser da Igreja no mundo moderno bem como o seu agir pastoral sem passar por aqui. Comunidade e Catecumenato, nunca se saberá qual delas a originante. Na Serra do Pilar, primeiro, foi a Comunidade, pelo menos como objectivo a atingir, depois, o caminho para lá chegar, o Catecumenato. Noutros lugares terá sido ao contrário. Primeiro o ovo ou a galinha? Verdade é, no entanto, que Catecumenato e Comunidade estão intimamente orientados um para a outra. Sem Comunidade, não há Catecumenato: ela é o meio deste. Mas, sem Catecumenato, a Comunidade morrerá por incapacidade de renovação e crescimento, neste mundo moderno. Que a Comunidade não nasce como a generalidade dos organismos vivos, vida transmitida pela carne e pelo sangue.
Os tempos da cristandade já lá vão. Eis porquê, na Serra do Pilar, esta tarefa do Catecumenato dos adultos continuará a ser a primeira e grande tarefa. Começado em 1976, está ainda de boa saúde.
Serra do Pilar, 1994
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