Uma história que se celebra

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Efetivamente, faz hoje 50 anos que fui ordenado presbítero na Sé Catedral do Porto pelo Bispo Florentino de Andrade Silva, Administrador Apostólico da Diocese, que D. António Ferreira Gomes era ainda um exilado do salazarismo. 13 de Agosto de 1967.

O concílio Vaticano II havia terminado em Dezembro de 1965, eu acabei o meu curso de Teologia em Junho de 66 e, por decisão superior, ia ser músico. Fui-o por algum tempo mas pouco depois, o Bispo António não tinha ainda regressado do exílio (1969), fui dizer ao Administrador Apostólico que era padre não músico. Nessa altura havia já sido integrado na equipa formadora do Seminário Maior do Porto, onde trabalhei até 1974. Nesses primeiros anos comecei a descobrir na riqueza do Vaticano II uma palavra ou realidade que dele escorreu: Comunidade.

E foi no Seminário Maior do Porto, e também nas paróquias de Santo Ovídio e de Vilar de Andorinho (— Vós, Vilarenses, lembrais-vos do Ogiva?), onde deitei uma mãozinha, e comecei a perguntar-me a mim mesmo que novidade continha a palavra comunidade, e se a comunidade podia tornar-se realidade? Eis a questão.

E fiz experiências, houve discussões ou debates em sítios vários e quanto mais tudo se complicava mais eu tentava avançar, até que, um dia, já D. António regressara do exílio, na criação da paróquia de Nossa Senhora da Ajuda (Porto), em 1972, ele disse isto:

“uma Igreja que se sente missionária, que tem o mandato deste mundo de hoje como ele é, que se sente pequeno rebanho, assembleia convocada e convocante, com missão principalmente de converter e cristianizar os cristãos ou na alternativa, de passar aos bárbaros, essa Igreja ensaia novos caminhos de acesso às inteligências e corações deste tempo, a nova linguagem no diálogo com o homem de hoje e os novos métodos de inserção da graça na natureza deste mundo que se quer personalizado e de dimensões humanas na socialização das estruturas e mentalidades. (… Por tudo isto,) É tempo de pastoralmente mudar: e, agora, ou mudamos ou seremos os novos pagãos a caminho igualmente do fim”.

Oh, maravilha sem par! O que tu acabas de ouvir! O problema foi que, depois de tão grande esperança, andou-se mas para trás.

Neste contexto, no ano 1974, eu tinha exatamente 30 anos, vim parar aqui, à Serra do Pilar, com a tal palavra — Comunidade — não me lembro se na pasta se na cabeça. Essa é uma história outra, que encaixou perfeitamente nesta, mas da qual não há relato aqui.

À palavra Comunidade juntou-se a palavra “Evangelização”. O Papa Paulo VI publicaria em Dezembro de 1975, uma Exortação Apostólica espetacular — “Anunciar o Evangelho”. Foi aí que dei um dos dois saltos mais altos da minha vida (o outro seria no interior da Biblioteca Nacional de Paris, em 1993): “as pequenas comunidades … nascem da necessidade de viver mais intensamente a vida da Igreja; ou então do desejo e da busca de uma dimensão mais humana do que aquela que as comunidades eclesiais mais amplas dificilmente poderão revestir, sobretudo nas grandes metrópoles urbanas contemporâneas onde é mais favorecida a vida de massa e o anonimato ao mesmo tempo”. Está aqui o que eu já sabia mas nunca tinha lido nem ouvido! O tal salto!

Estava traçada e decidida a minha ação pastoral.

Mais tarde, em 1978, comprei em Fátima, um livrinho — De la vie Communautaire (A vida Comunitária), de um autor que certamente ainda não conhecia — Bonhöeffer (1906-1945) — onde li esta coisa espantosa: “Uma comunidade, [coisa] visível sobre a terra, é já uma espécie de antecipação misericordiosa do Reino que há-de vir. Mas esta graça não é acessível a todos os crentes”. Estarreci: “a existência de uma comunidade visível é uma graça não acessível a todos os crentes”!!! “Para o cristão, a presença sensível de outros irmãos constitui uma fonte incomparável de alegria e reconforto”!

A comunidade da Serra do Pilar, ainda bebé pois tinha nascido há 4 anos, era portanto uma graça não acessível a todos os crentes! Que quer isto dizer? Que encargos carregamos?

Construir é sempre mais alegre e exultante que manter vivo depois. Em 1992 eu estava cansado, morrera-me a mãe mas não só, mas o bispo Júlio… e eu fui parar a Salamanca e depois a Madrid. Regressei 5 anos depois, a Católica apanhou-me mas voltei à Comunidade, que estava muito diferente …

Paulo, o perseguidor, o fundador de comunidades, o viajante, o anunciador e evangelizador, sempre a correr, a cuidar, a pregar, a acudir, de certeza que também a chorar, a arrepender-se das asneiras que fazia, agora escondido e depois preso, aqui – descido numa cesta muralha abaixo (At 9,25), ali – escondido em Bereia (ct 17,10), aqui acusado de “alvoroçar o mundo inteiro” (At 16,6) depois de, em Atenas, o terem mandado passear, e ele foi (ct 17,32)… Mesmo assim, quando Festo, Procurador da Palestina, lhe disse: “Estás doido, Paulo! A tua grande sabedoria fez-te perder o juízo!”, Paulo respondeu-lhe: “Eu não estou doido, excelentíssimo Festo. Pelo contrário, estou a falar a linguagem da verdade e do bom senso!” (At 26,24-25)…

Ordenado portanto há 50 anos, aqui vivi muito mais de metade da minha vida. E por isso dou graças: “a Gaio que me recebe como hóspede, a Erasto, o tesoureiro da cidade” (Rm 16,23), a mesma coisa. “Fico feliz com a chegada de Estéfanes, Fortunato e Arcaico que me substituíram na minha ausência” (1 Cor 16,17). Entretanto, via “casa de Cloé”, chegam-me notícias de que há discórdias entre vós (1Cor 1,11). Mas eu próprio, depois de ter andado com Barnabé nos “caminhos do Senhor” (Act 13,10), em Antioquia, em Tarso, em Chipre, em Icónio, em Listra e de ter estado no Concílio de Jerusalém, apesar disso, discuti com ele tão violentamente que nos separámos um do outro (At 15,39) e nunca mais nos encontrámos.

Neste momento, aos meus irmãos de longe envio-vos Tíquico, o irmão querido e fiel no Senhor que vos contará o que se passa por cá” (Ef 6,21), saúdo também os da “casa de César” (Fl 4,22), saúdo a família de Onésimo (Col 4,9), e mando abraços a Erasto (Rm 16,23) – que ficou em Corinto, a Trófimo – que deixei doente em Mileto (2Tim 4,20). Daqui cumprimento Êubulo, Pudente, Lino, Cláudia e todos os mais irmãos (2Tm 4, 19-20). Vós, os de Roma, sois tantos que eu não posso nomear-vos todos aqui; “Saudai-vos vós uns aos outros como todas as igrejas de Cristo vos saúdam a vós” (Rm 16,16). E, já me esquecia, “Saudai também Prisca e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, pessoas que, pela minha vida, expuseram a sua cabeça” (Rm 16,3), e Febe, a diaconisa da Igreja de Cêncreas, a primeira “protectora de muitos e de mim pessoalmente” (Rm 16,2).

Eu «Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no meio de provações. Jamais recuei perante qualquer coisa que vos pudesse ser útil. Preguei e instruí-vos, tanto publicamente como nas vossas casas…

Agora, tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores, para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue.

Sei que, depois de eu partir, se hão de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho. Estai, pois, vigilantes. Confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados.

Nunca cobicei nem prata nem ouro, nem o vestuário de alguém. E bem sabeis que foram estas mãos que proveram às minhas necessidades, recordando-vos as palavras que o próprio Senhor Jesus disse: “A felicidade está mais em dar do que em receber”» (At 20,17-35).

Permiti-me também que, com toda a seriedade, vos diga estas palavras do meu amigo Leonel: “O que eu sou devo-o a vós! O que ainda não sou, devo-o a mim” (1983.10.22).

Tantos irmãos e amigos! E anjos e arcanjos não há? Há pois, Anjos e Arcanjos, Domínios e Principados, Querubins e Serafins! Um destes últimos, meio ano depois de tudo começar, em Julho de 1975, escreveu-me assim num papel que me enviou depois por correio: “… o momento do café, hoje, e a posterior leitura da folha dominical que me deste levaram-me a sentir qualquer coisa que não pode exprimir-se: ser conduzido pelo Espírito! (…) Não me compete declarar se o Espírito está ou não está no sentido da Lumen gentium, mas dou testemunho de que ele anda por perto”.

“Regozijemo-nos e alegremo-nos!” (Ap 19.7).

Arlindo de Magalhães, 13 de Agosto de 2017

Uma história que se testemunha (1)

É já no próximo sábado, 16 de Setembro, que terá lugar a primeira “mesa-redonda” no âmbito das celebrações dos 50 anos de ordenação do nosso presbítero Arlindo de Magalhães: Uma história que se testemunha.

O encontro será às 21h30 no Colégio Nossa Senhora da Bonança (R. Dr. Francisco Sá Carneiro 1366, 4400 Vila Nova de Gaia). A entrada é livre e todos estão convidados!

 

 

Domingo 3 de Setembro, Eucaristia às 21 horas

No próximo domingo, 3 de Setembro, a celebração da Eucaristia terá lugar na igreja da Serra do Pilar às 21 horas, e não às 11 horas como habitualmente, devido às perturbações impostas pelo festival redbull air race.

Sine dominico non possumus: «Sem o Dia do Senhor não podemos viver».
Tal foi a resposta dada em 304 d. C. pelos 49 mártires da Abitina (Norte de África, atual Tunes) ao interrogatório do próconsul encarregue de aplicar a interdição da celebração dominical imposta pelo imperador romano Diocleciano. Um dos mártires, Félix, terá dito: «Um cristão não pode viver sem celebrar os mistérios do Senhor e os mistérios do Senhor não se celebram sem a presença dos cristãos!».

Os pobres, a celebração e o ensino

Estamos aqui para celebrar a nossa fé, pois que o seu anúncio e ensino têm sido valores cultivados por esta Comunidade ao longo destes 40 anos. Também o serviço aos mais pobres tem sido uma causa que nunca se perdeu.

As três razões fundantes desta Comunidade – celebração e ensino da fé, e os pobres -, que teve o seu início há 40 anos, em novembro de 1974, são ainda hoje questões prioritárias no seu caminho. Estamos aqui para comemorar o encerramento deste 40º aniversário, uma data jubilar. Quero agradecer o seu testemunho a todos aqueles que a constituíram e constituem, a começar pelos mais pequeninos, que são também o futuro no seu caminho.

Quero agradecer ao Pe. Serafim, que hoje tem uma missão mais dedicada ao serviço dos pobres mas sem perder no horizonte a necessidade do anúncio do Evangelho e do ensino e celebração da fé, tão necessários num mundo novo, e de uma Igreja renovada.

Quero lembrar a memória do Pe. Leonel de Oliveira, que aqui esteve durante 13 anos e que faleceu há 15 dias atrás. Nós, os três sacerdotes que aqui estamos, acompanhámo-lo em vários encontros, tal como tantos a quem ele ajudou a conhecer o amor terno e misericordioso de Deus e o valor do serviço à causa dos mais pobres. Ele fez da sua casa a casa da Caridade e da sua vida um cuidado dos mais pobres.

Aqui estamos todos juntos para celebrar o domingo, neste dia em que a Igreja portuguesa se reconduz aos Seminários, no encerramento da semana a eles dedicada.

Neste dia, todos nós voltamos também o nosso olhar apreensivo e magoado na alma e no coração da Humanidade para os recentes acontecimentos de Paris, onde o horror levou vidas e onde a ignomínia quis meter medo ao futuro da Humanidade, que se deseja livre, sonhadora e próspera.

Estamos também, no contexto nacional, algo apreensivos pelo nosso futuro, pleno de sacrifícios acrescidos em tantos portugueses e no horizonte da Humanidade, sobretudo da Europa; estamos aqui todos para abrir as portas àqueles que nos procuram, saindo dolorosamente de países em guerra onde a dignidade é desrespeitada e onde a liberdade de viver não é possível.

Estamos aqui para acolher a Palavra de Deus, que, na sua fragilidade, é um valor maior daqueles que choram por um futuro melhor.

Estamos aqui para transformar e repartir nesta mesa o pão amassado com os esforços e o sacrifício de tanto trabalho humano, e abençoado pela misericórdia imaculada de Deus, para que o mundo seja de todos: a Eucaristia.

Estou aqui a dar graças a Deus para, em nome da Igreja do Porto, agradecer o privilégio desta Comunidade e para repartir o anúncio da Palavra de Deus e a alegria do Evangelho. Estou aqui para multiplicar o pão neste mistério que o Senhor nos concedeu, “em minha memória” e para bem de todo o Povo.

Vamos todos assumir as intenções de cada um para que, em comunidade e verdadeira comunhão, celebremos a alegria e a Esperança de todos.

Reunidos à volta do altar e frente ao círio pascal, que é uma luz pequenina que ilumina o nosso caminho e que é a luz de Cristo; reunidos para ouvirmos a Palavra de Deus, para testemunharmos o calor do nosso coração, sentiremos que somos frágeis e pecadores mas também que é sempre um bem maior a força e a grandeza da misericórdia, da ternura, da bondade e do amor de Deus.

D. António Francisco dos Santos, 15 de Novembro de 2015

(Transcrição da Saudação inicial à Comunidade)

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Plano Diocesano Pastoral 2015-2020

Partilhamos o Plano Diocesano Pastoral para a Diocese do Porto, destinado ao quinquénio de 2015-2020, com o tema “A Alegria do Evangelho é a nossa Missão”.

O Plano Pastoral 2015-2020, que aqui apresentamos e queremos para a nossa Diocese, tem por base uma nova perspetiva eclesial, ao ser projetado num horizonte de cinco anos: um Plano Pastoral com metas traçadas, objetivos definidos, caminhos propostos, atividades programadas.

Abre este Plano um novo horizonte pastoral de trabalho eclesial e afirma a importância de assumirmos, na corresponsabilidade pastoral, um espírito sinodal que a todos envolva, mobilize e coloque em permanente «estado de missão» (EG 25) e sempre em comunhão com a Igreja Universal, atentos ao Magistério do Papa Francisco.

Este Plano Pastoral procura dar rosto à «Alegria do Evangelho» de que fazemos «nossa missão». Este Plano quer assumir a «Alegria do Evangelho» no espírito evangélico das Bem-aventuranças (Mt 5,1-12), que Jesus proclamou e que se realizam sempre que vivemos as Obras de Misericórdia (Mt 25, 35-40).

D. António Francisco dos Santos, Pórtico de Apresentação

(Para visualizar em ecrã completo e fazer download, clique aqui)

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Padre Américo

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Foi a 16 de Julho de 1956, há 59 anos, que a morte encontrou o Padre Américo, ou Pai Américo. O dever da Memória obriga-nos a evocar este Profeta do nosso século XX.

A sua Biografia é-nos apresentada pelo site da Casa do Gaiato:

O Padre Américo- PAI AMÉRICO – cujo nome completo é Américo Monteiro de Aguiar, foi o oitavo filho dum família cristã. Nasceu em 23 de Outubro de 1887 na freguesia de Galegos, concelho de Penafiel.

Depois dos estudos preliminares, enverda pela carreira comercial. Trabalha primeiro no Porto, e em 1906 segue para Moçambique. Aos 36 anos volta à Metrópole e ingressa no Convento Franciscano de Vilariño de Ramallosa, Espanha, onde toma o hábito em 14 de Agosto de 1924, do qual sai após dois anos de vida conventual; e sendo-lhe recusada entrada no Seminário do Porto, é recebido no de Coimbra, em 1925.

Recebe a Ordenação sacerdotal em 29 de Julho de 1929 e encarrega-se da Sopa dos Pobres, em Coimbra. «Doente como então era- disse- o meu Prelado havia-me dispensado de todas as obrigações, tendo eu tomado esta de visitar Pobres por não servir para mais nada…». Dedica-se ao apostolado da Caridade nos tugúriosde famílias em dificuldades. Visita hospitais e cadeias. De 1935 a 1939 organiza Colónias de Campo em S. Pedro de Alva, ceira e Miranda do Corvo; e funda o Lar do Ex-Pupilo dos Reformatórios, na Rua da Trindade, Coimbra, em 1 de Janeiro de 1941, depois entregue aos serviços Tutelares de Menores em 1950.

Da trilogia– Casas do Gaiato, Património dos Pobres, Calvário–adiante se informará.

A morte surgiu no Hospital Geral de Santo António, do Porto, a 16 de Julho de 1956 (aos 68 anos), em consequência dum desastre de automóvel em S. Martinho do Campo, Valongo, no regresso duma viagem ao sul do País.

Foi exumado a 15 de Julho de 1961, no cemitério paroquial de Paço de Sousa, e trasladado no dia 17 para a Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, onde jaz em campa rasa- como fora seu desejo.

No livro «Padre Américo, páginas escolhidas e documentário fotográfico», publicado em 2008 no Porto, podemos encontrar os seguintes excertos das suas crónicas, que durante anos mantiveram o crivo da sua profecia:

«Ontem apresentaram-se quatro. Já tinham chegado há dias, mas, como eu estivesse ausente, eles comiam na cozinha do forno e dormiam no palheiro, à espera. Quatro. Três de Santo Tirso e um fugido a um circo, que não se sabe de onde é! O orador era um dos de Santo Tirso. Não tinha papas na língua. A causa dele e dos outros era muito bem defendida. Depois falei eu. Quatro – nem pensar. Se fosse um, talvez se desse um jeito; assim, não.

Comeram o caldo. Dei a cada um sua moeda de prata e com isso os despedi. À noitinha, sinto bater à porta do meu escritório. Era um dos desgrenhados. Cá estou! É o do circo. É o que não tem ninguém. Traz a moeda de prata que antes lhe dera e entregou-ma! “Os de Santo Tirso”, disse ele, “sempre têm por lá alguma família; eu é que não.” Esta foi a doutrina do pequenino concílio que eles houveram, entre si, a uns tanto quilómetros da nossa Aldeia. Os “Pàrias” a fazerem doutrina. O “esterco” a ensinar: “Sim. Vai tu que não tens ninguém”. Oh, Homens das Esquerdas e das Direitas, encontrai-vos aqui e chorai!»

(…)

«Chegou-nos um pequeno que parece andar na casa dos dez. Ao que apurei, ele tem a mãe na cadeia, ia comer o rancho às grades e mendigava nas redondezas. Como estamos em maré de piões e há setenta deles a bailar cá em Casa, o Manuel, que assim se chama o novo gaiato, compreendeu num relance que a vida aqui não é para penas e começou a jogar. Na tarde desse mesmo dia, foi visto mais os do campo a comparticipar dos seus trabalhos e infinita alegria. Tem uns olhos cheios de expressão. Narra a tragédia da vida sem saber medir, pela idade que tem, a altura da sua desgraça.

-“Andava um homem mais nós, mas agora não quer saber”. Era um grupo de pedintes de feiras. A prisão da mulher afastou o homem e ficou o pequenino preso ao amor da mãe, que é o derradeiro a quebrar. Ela reparte do seu minguado rancho, nem se lhe dava de abrir as veias, que o amor tem mais força do que a morte. O ferro das grades não impede que ela se aproxime do fruto da sua fraqueza. Eu não me atrevo a chamar-lhe fruto do seu pecado; que o digam os mais.

– “Roubou na feira de Margaride, já está presa há mais de um ano”. E o pequenino Manuel vai desfiando contas de amarguras que não sente, enquanto o adormeço num leito de roupa lavada. Soube mais: que o pai da condenada é um proprietário do Minho, que não quis receber a filha por lhe ter caído uma nódoa. Se o pai soubesse perdoar, tanto bastaria para lavar a primeira nódoa e não teríamos hoje a enlameada. Quer-me parecer que o verdadeiro pecado vem do acto do pai!»

Novidades

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Duas novidades, de quase-Verão:

1) A Serra do Pilar já está representada no Twitter: https://twitter.com/serradopilar. Para os utilizadores desta plataforma, será possível receber as novidades publicadas no site da Serra. O perfil tem uma apresentação provisória (foto e logotipo): é um começo. Vão até lá, e não deixem de seguir.

2) Newsletter do site. Já é possível receber as publicações do site no email, diariamente. Basta colocar o endereço  na seguinte caixa, recebendo em seguida um mail para confirmação. A newsletter é enviada entre as 19 e as 21 horas.

Brevemente haverá mais novidades.

 

Coloque o seu endereço de email:

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O românico de Amarante

Telões-cópiaIgreja paroquial de Santo André de Telões

Directamente derivado da antiga arte dos Romanos, o românico inspirou-se nas basílicas e cidades latinas.

No românico, porém, entraram também elementos bizantinos e orientais. As paredes, de grande espessura e poucas janelas, eram reforçadas com contrafortes. Mesmo assim as naves eram estreitas, e as portas redondas na parte cimeira. No séc. X surgiriam as abóbadas em pedra. E pouco a pouco o desenho do edifício foi ganhando a forma de uma cruz. As fantasias dos arquitectos ficava-se apenas pela decoração dos pormenores: cachorros, capiteis, tímpanos, etc. O espaço sagrado e interior, sempre com pouca luz, colocava o crente num clima de interioridade e silêncio: a não-luz convidava à aproximação ao mistério.

Tudo isto, no entanto, gerava uma estética de identidade própria conforme os lugares — Borgonha ou Vale do Sousa —, as culturas — rural, montanhosa ou ribeirinha —, e os tempos — séc. XI ou XIII.

Assim é o românico que envolve Amarante. Mais rico, mais pobre, mais antigo, mais recente… e nós vamos visitá-lo no próximo fim de semana.

Do mosteiro da Serra do Pilar ao do Salvador de Grejó

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No séc. XVI, estava em ruínas o mosteiro de Grijó que se dizia do Salvador da eclesiola. Eclesiola ou [I]grejo[la] são diminutivos derivados do grego eclesia > igreja pequena ou igrejinha. Reconstrui-lo ou edificar outro? Depois de muito discutir, resolveram os monges construir um outro mosteiro crúzio, mas agora defronte do Porto, do outro lado do rio,  num monte que se dizia de S. Nicolau — ainda hoje se fala no morro (e seu jardim), isto é, no cimo de um monte não muito alto mas de vertentes acentuadas.

Em 1542 havia já crúzios no mosteiro de Santo Agostinho da Serra que ainda se não dizia do Pilar.

No próximo Sábado, dia 30 de Maio, uma caminhada da Serra do Pilar à Casa-mãe do Salvador de Grejó

Siro López

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Um grande grito silencioso

“É fundamental fazer-se ouvir num mar de imagens e mensagens de usar e deitar fora. As minhas imagens pretendem ser reservas de silêncio num espaço cheio de ruídos”

No Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia,
23 de Maio de 2015, 21H30
(grátis, mas com bilhete pedido na entrada)

Santa Teresa de Ávila

nascida em Março de 1515
nos 500 anos do seu nascimento,
lembrar que na igreja da Serra do Pilar
há uma imagem de Santa Teresa de Ávila.

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Com a sua, talvez, poesia mais conhecida

(tradução de José Bento):

Nada te inquiete,
nada te assuste;
pois tudo passa,
Deus não muda,
A paciência
alcança tudo.
Quem Deus possui
nada lhe falta.
Só Deus nos basta.

Padre Gaspar, morreu há 20 anos

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No dia de Páscoa de 1995, 16 de Abril, mal terminada a celebração da Comunidade para a qual sou presbítero, tomei a Reserva Eucarística para a celebração possível da Ressurreição com o Gaspar. Sabia que ele estava no fim: na tarde do dia anterior, no fim de um forte acesso de tosse, tinha conseguido dizer-me: “Deus está a puxar demais pela corda! Está-me a custar muito morrer!”. Naquela manhã, quando eu entrei em sua casa, tinha ele acabado o seu Tempo.

Narciso Rodrigues

Narciso 1971

“O Doutor” nasceu no Porto há exactamente 100 anos (4 de Março). Recordar alguns títulos por ocasião da sua morte, em 18 de Dezembro de 1995, pode não ser muito adequado. Mas, só meia dúzia: A referência de uma geração, Doutor, vamos ouvir os grilos?, Um homem que fez homens, Um século, um estilo, uma vida, Homem espiritual, Um padre seduzido pelo Evangelho…

No seu funeral, ia já longe uma Liturgia interminável, morosa e fria, quando aconteceu o impensável: alguém ousou, lá do fundo do templo (eu escrevi do templo, que não do tempo), começar a cantar o “Meu Senhor Jesus Cristo, ofereço-vos o meu dia inteiro: o meu trabalho, as minhas lutas, as minhas alegrias e as minhas penas …”. Já os mais novos perguntavam que cantiga era aquela, e alguns outros engoliam talvez algum sapo vivo. E enquanto poucos ainda, na capela-mor, trauteavam a antiga oração jocista, já outros não seguravam as lágrimas.

Fazia-se assim justiça a um homem que, de “o meu trabalho, as minhas lutas, as minhas alegrias e as minhas penas” para “as alegrias e esperanças, tristezas e angústias” do Vaticano II, deu apenas um passo

Narciso Rodrigues, presbítero, nado e falecido no Porto (1905 – 1995).

Quaresma

A Luta entre o Carnaval e a Quaresma (1559), de Pieter Bruegel (1564-1638)

A Quaresma tem, tradicionalmente, muitas receitas. Mas, sempre que as práticas religiosas se tornam puro ritual, perdem o seu sentido. A proposta inicial de um tempo catecumenal dedicado à oração, ao jejum e à partilha não pode ser reduzida a algumas rezas mais, à higiene alimentar, aos tostões de reserva para os pobres e às chamadas confissões. Se assim fosse, a Quaresma apenas reforçaria as máscaras que nos escondem de nós mesmos e que disfarçam a situações reais.

Que é, então, a Quaresma, ou, como se deve preparar a Páscoa?

 

A POBREZA MATA!

Cartaz Debate Pobreza

O Grupo Justiça e Paz da Comunidade Cristã da Serra do Pilar realiza no próximo dia 27 de fevereiro, pelas 21:30 horas, no Mosteiro da Serra do Pilar, uma reflexão e debate com Manuel Brandão Alves sobre “Acabar com a exclusão social e a pobreza: uma questão de Justiça e de Paz”.

Sabemos que a pobreza mata: os que nela perecem, a felicidade dos que sobrevivem, a vida social e o futuro de todos nós. Como disse Nelson Mandela, «A pobreza não é um acidente. … foi criada pelo  homem e pode ser removida pelas ações dos seres humanos» antes que se transforme numa imensa paisagem.

Pretendemos ir mais além, no debate: refletir e procurar caminhos e ações que permitam um desenvolvimento económico que contemple o combate contra a pobreza. «A necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar. Os planos de assistência, que acorrem a determinadas emergências, deveriam considerar-se apenas como repostas provisórias» (Papa Francisco, Evangelii Gaudium).

Manuel Brandão Alves foi Professor Catedrático do ISEG, Universidade Técnica de Lisboa e Presidente da Associação Nacional de Direito ao Crédito. Integra o Grupo Economia e Sociedade (http://areiadosdias.blogspot.pt/) da Comissão Nacional Justiça e Paz.