Catequese

Jean-Baptiste Greuze, ‘La lecture de la Bible’ (1755, Louvre)

Catequese é uma palavra grega que refere o ensino: o catequista catequisa. A palavra, do grego passou ao latim — catechizo — e logo às diferentes línguas europeias, inclusive o português. Jesus “ensinava os caminhos de Deus” (Mt 22,16), os apóstolos ensinavam o povo (At 4,2), numa palavra, “não paravam de ensinar a Boa Nova de Jesus” (At 5,42). Entretanto só muito mais tarde mas tarde a palavra começou a ser usada só no ensino religioso dos filhos: nos bons velhos tempos eram os pais cristãos que ensinavam — que catequizavam — os seus filhos: certamente que os ensinavam a recitar a Pai Nosso, a explicar-lhes as noções primeiras do mundo cristão — pão e vinho, Jesus, a graça e o pecado, a partilha, a cruz…, e por aqui fico, isto é…

Os pais transmitiam aos filhos o que eles próprios tinham aprendido: ensinavam o que era a Missa, a Igreja, o Santo, etc, em algumas freguesias, aqui e ali, era o Senhor Abade que ensinavam a catequese, etc, etc, etc…

Durante séculos foi assim que as crianças se cristianizaram: a família e a comunidade.

Nos meados da Idade Média essa ótima maneira de ensinar começou a perder-se. Sobretudo nos fins da Idade Média (séc.s XIII/XIV) tudo começou a alterar-se. Já no século XVI, em pleno Concílio de Trento (1545-1563), rebentou a questão: catequizar?, pra quê?, como? Ainda não havia catecismos.

A família já não, a igreja já não também, catecismos não existiam …

… mesmo assim, um pouco mais tarde, no século XVIII, o Papa Clemente XIII (1758-1769) lançou-se na tarefa de escrever um: “O Catecismo Romano é um livro duplamente louvável: a sua primeira vantagem é conter, sem a menor sombra de erro, a doutrina comum da Igreja; e a segunda é expô-la em palavras claríssimas”. Mas o que ele disse não serviu de nada. A descristianização do mundo cristão foi até ao fundo.

Quando nos finais do século XIX, a França criou a escola dita primária para todas crianças, com livros, penas (de escrever), carteiras …, a Igreja copiou: livros, canetas e carteiras, quase sempre uma catequista a obrigar as crianças a decorar o que não entendiam e de que não precisavam, a não ser para poderem ir à 1ª comunhão, a solene viria depois… depressa acabando por criar um motivo para uma festa familiar e civil! O mesmo que aconteceu com o casamento

Muitas paróquias ricas construíram então, ao lado da igreja, uma verdadeira escola com bom material, com programas, calendários, etc.

Tanto para ensinar, mas tão pouco dado e recebido!

Repito, nessa altura, a família ainda não cortara a sua ligação à Igreja; mas …

Agora é assim: o automóvel sobe até à porta da Igreja, abre-se a do carro, o filho sai…, tratem-no que eu voltarei aqui a buscá-lo!

Dói-me a alma quando vejo o pai ou a mãe a descarregar o/a filho/a, a deitá-lo/a fora do carro, e, meia volta que eu já venho!

Mas a família não ajuda nem sequer ajuda a Igreja a ajudar os/as catequistas…!

“A família é insubstituível na catequese da infância e, ainda que de modo diferente, da adolescência; isto é, nas fases etárias em que os catequizandos mais dependem dos pais ou outros responsáveis pela sua educação. Ora se o encontro com Cristo deve atingir a totalidade do ser humano, de modo algum se podem dispensar dele as pessoas que fazem parte farte da vida dos que com Ele se encontram… Há que realçar as vantagens desta inserção dos pais na catequese. A primeira é a própria família” (Catequese: a alegria do encontro com Jesus Cristo, documento do episcopado português, de 2017).

Sim, de facto, na Igreja, o primeiro lugar das crianças é na casa de seus Pais. Antes de mais nada aprenderão o nome de Jesus e o “Pai nosso”…, e começarão a crescer na Fé. A Esperança e a Caridade chegarão pouco depois. E isto a Igreja não saberá dar-lhes.

Isto acontecido, porém, a Igreja poderá fazer maravilhas.

Isto é: só depois de a Família ter feito o que lhe compete, a Igreja pode fazer alguma coisa, o que lhe cabe.

Acreditamos ou não que, com a Família e a Comunidade, podemos fazer cristãos de pequeninos que frequentam a Eucaristia com seus Pais? Então foi correto o seu Batismo e é correta a sua participação na Catequese da infância. Fora disso…!

Arlindo de Magalhães, 6 de outubro de 2019