- Comer em comum — um simpósio, assim se chamava — tinha nas culturas antigas uma importância que hoje se perdeu. Comer em comum é ainda hoje um acontecimento de medição e até de integração social. A categoria social de cada comensal refletia-se na postura e no lugar que ele ocupava no banquete. Os importantes da classe superior comiam recostados em divãs, os pobres e escravos comiam de pé ou no chão. É importante saber isto, pois que “a grande maioria da gente que vivia no império romano era pobre” (Robert knapp).
E por isso se compreende a importância que têm, nos evangelhos, as comidas de Jesus. E entende-se também a importância e o cuidado que Jesus punha naquelas comidas que, compartidas, se celebravam conforme a determinada ordem social. Por isso, Jesus não tolerava as pretensões de importância e honra que os fariseus mostravam. Eles consideravam-se os primeiros, na “ordem do religioso”, e empenhavam-se em deixar isso claro igualmente na “ordem do secular”.
- Por isso, Jesus viu claramente que, entre “importantes” e “plebeus”, o mais eficaz era cortar pelo são. Daí, o empenho de Jesus pôr os “últimos” no sítio dos “primeiros”, os primeiros mandá-los lá para trás e pôr nos lugares de cima os últimos e os pobres. Se isso fosse possível, dava-se um passo decisivo para o nascimento de uma sociedade igualitária, em que todos fossem irmãos humanos.
«Quando alguém te convidar para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode alguém de maior consideração do que tu ter sido também convidado por ele, e ele, que te convidou a ti e ao outro, ter de vir dizer-te Cede o teu lugar a este convidado. Tu, envergonhado, terás então de passar para o último lugar. Quando fores convidado, vai tu para o último lugar, e quem te convidou dir-te-á assim que chegar Amigo, chega-te mais cá para cima.» (Lc 14, 8-11)
- Jesus fala de uma comida compartida, de uma reunião comensal…: as comidas de Jesus. Comer a uma mesma mesa é partilhar da mesma vida: à mesa se fala da saúde, da alegria, da intimidade, da aproximação humana, do sofrimento… Que mais se pode pedir ou fazer?
Não se tratava nem de baixar ou melhorar a qualidade da comida posta na mesa por causa deste ou daquele que… Os privilégios, as distinções, as maiores ou menores importâncias…
Jesus cortava “pelo santo” estabelecendo assim a escala da prioridade: os primeiros da mesa têm de ser os últimos na escala social e os convidados ao almoço têm que ser os que ninguém convida nem os querem ser. Isto é, o que Jesus apresenta é uma inversão total de valores, de critérios éticos e de princípios sociais.
A desprestigiada religião bem como a desprestigiada Igreja (que ainda não existia) terão de assumir, no futuro, critérios de subversão sem contemplações.
- Neste episódio não se fala simplesmente de um publicano, mas de um chefe de publicanos. Zaqueu. Era um chefe.
Um “chefe de publicanos” era uma pessoa importante. Tinha publicanos a seu serviço que tratava como escravos, homens odiados pelo povo, pois que extorquiam os mais débeis, obrigando-os a pagar impostos muito gravosos, isto é, roubavam-nos no sentido exato da palavra: roubavam na quantia que haveriam de entregar ao chefe, chefe dos publicanos, e na quantia que ficava para eles. Por isso publicanos e chefes dos publicanos eram muito ricos.