“Reparte o teu pão com o faminto” (Is 58,7) e “se o sal perder a força, com que se há de salgar?” (Mt 5,13).
Falei aqui nos últimos dois domingos da encíclica “Louvado sejas” do Papa Francisco. Uma encíclica é um documento do Papa em forma de carta dirigida aos bispos e a todos os fiéis, e até “a todos os homens de boa vontade”. Há outros documentos deste jaez, mas não tão importantes (Bulas, Constituições apostólicas, etc.).
Antigamente, estes documentos não chegavam nem às pessoas nem às comunidades. Os próprios bispos não lhes ligavam. E hoje ainda não chegam, pelo menos às pessoas. Mas estão agora na internet e nas livrarias, da FNAC a qualquer outra (5€).
Não faço publicidade, mas digo que — todos sabemos ler e somos cristãos no mínimo com alguma cultura — é tempo de nos começarem a interessar. Rezar o Pai nosso e cantar o Ámen é pouco.
Falei aqui nos últimos dois domingos da encíclica “Louvado sejas” do Papa Francisco, repito. E que bom seria se todos poupássemos uma vez A Bola ou 1 café para podermos comprar esta encíclica sem desequilibrar os dinheiros lá de casa (estes documentos chamam-se pelas suas duas primeiras palavras; neste caso, Louvado sejas, Senhor).
Nesta encíclica, o Papa fala fundamentalmente da “ecologia integral”. A palavra ecologia resulta de duas outras, gregas (oikos > casa + lógos > palavra ou tratado da casa)…
Ecologia integral quer dizer reflexão ou estudo que a Humanidade dá à casa em que vive, este planeta Terra. Integral porque se trata de uma reflexão ou estudo total, global, ou seja, que tenha em conta todos os aspetos da crise ecológica em que estamos metidos: a poluição dos oceanos e rios, o desaparecimento da diversidade biológica (animal e vegetal), a desertificação e a desflorestação, a injustiça no acesso aos recursos naturais e à propriedade da terra (poucos homens têm muito e muitos têm bem pouco ou mesmo nada), a existência de humanos como nós sem dinheiro, sem trabalho, sem saúde, antropologicamente paupérrimos, todos os dias lutando por comida e/ou por água limpa, etc. A devastação da terra é causa do sofrimento dos homens mais vulneráveis do planeta.
Por isso, é preciso governar a casa que é de todos — o planeta — com sabedoria e justiça. A crise ecológica é uma ameaça comum global. Mais tarde ou mais cedo, se lhe não deitamos mão, atingirá todas as latitudes e longitudes. Precisamos, por isso, de um esforço mundial de todos, da Wall Street americana à mais pobre aldeia da Etiópia ou do continente africano.
Precisamos de cuidar da Terra como nossa delicada e preciosa morada que é.
Desenha-se neste momento da nossa História um diálogo entre religiões diferentes, entre Ciência e Religião, entre crentes e não crentes, à volta deste assunto. A crise ambiental exige mudanças profundas, sob pena de os habitantes deste planeta — a raça humana — correr o risco de se extinguir: “Não são poucos os homens de ciência que pressagiaram um futuro da Terra em que, mais cedo ou mais tarde, a raça humana se extinguirá, se continuar a consumir mais recursos do que aqueles de que a natureza dispõe” (Carlo Petrini).
Por isso também o Papa Francisco fala de ecologia integral, isto é, ambiental, económica, social, cultural, que atenda à vida de todos os dias, que proteja o bem comum e que seja capaz de olhar para o futuro: “guardar as pessoas, cuidar de todos, de cada pessoa, com amor, sobretudo das crianças, dos idosos, daqueles que são os mais frágeis e que, muitas vezes, vivem na periferia do coração” – disse o Papa logo na primeira homilia depois da sua eleição.
Os crentes, os que professam outras religiões ou outras formas de espiritualidade, não podem ficar indiferentes ao convite dirigido também ao mundo dos ecologistas-cientistas para se unirem, deixando cair diferenças ideológicas que não levam a sítio nenhum. É preciso imediatamente, sim, garantir a todos o direito à alimentação e à água — a missão principal de um novo humanismo.
É certo que desta encíclica muitos não gostaram e por isso a vêm criticando duramente. Seja como for, “preservar, guardar e cultivar este sistema é nosso dever porque é do nosso interesse: sobrevivência, existência, plenitude de espírito e, por fim, paz. Alegria!”.
“Começai por fazer aquilo que é necessário! Depois, aquilo que é possível! Então, de repente, surpreender-vos-eis a fazer o impossível!”. Esta frase é atribuída a São Francisco de Assis, o modelo inspirador desta questão planetária.
Continuarei, ao longo do ano, sempre que possível, a falar desta questão e deste documento. Se quiserem comprar o texto impresso e gostarem tanto de ir a livrarias como eu a supermercados, nós trazemo-los para aqui e pode ser que mais baratos se vierem muitos. Inscrevam-se ali à saída. O grupo Justiça e Paz trata disso.
Vindo muitos, pode ser que baixe o seu preço, já podem todos tomar mais um café e comprar mais uma Bola!
Arlindo de Magalhães, 5 de Fevereiro de 2017