Babilónia terá nascido cerca do ano 1750 aC e conheceu o seu apogeu com Nabucodonosor II (605–562 a.C.) mais de 1.000 anos depois.
No ano 722 tinha caiu a Samaria e, mais tarde, em 587 aC Israel. Foi esta uma queda mais grave pois que, com a conquista da Judeia, foram-se Jerusalém e o Templo, a “morada de Deus no meio dos homens”, praticamente destruído. Gravíssimo! E mais: Nabucodonor levou consigo para a Babilónia, cativos, os melhores do Povo de Iavé.
“A cidade fiel, outrora cheia de Direito, nela morava a justiça mas agora são todos assassinos! Eras como a prata mas ela transformaste-te em escória; eras como um bom vinho mas agora misturaste-te com água. Os teus governantes são rebeldes, companheiros de ladrões, todos à procura e regalias e recompensas” (Is 1,21-23).
“Judá foi exilada e oprimida por dura servidão; foi deportada entre as nações sem achar repouso! (Lm 1,3).
E por séculos se choraram os filhos de Iavé, eles e por eles. O nosso Camões recordou-os, recriando o Salmo 137:
“Sôbolos rios que vão por Babilónia me achei,
Onde sentado chorei as lembranças de Sião.
Nos salgueirais pendurei os órgãos com que cantava,
Aquele instrumento ledo deixei da vida passada.
Qu’era da música minha que eu cantava em Sião?”.
O perigo em tempos de crise é procurar um salvador que nos devolva a identidade e nos defenda sem muros…
Os profetas, porém, quase logo perceberam que não perduraria aquela desgraça:
“O Senhor terá compaixão de Jacob e voltará a escolher Israel, estabelecendo [os seus filhos] na sua terra” (Is 14,1); “Ouve-me, Israel: Fui eu que te criei, que te formei e acompanhei desde o seio materno e te socorri. Nada temas, meu carinho, meu eleito! Vou derramar água sobre aquele que tem sede! Não temas, meu carinho, meu eleito! Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida! Vou derramar o meu espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção sobre os teus descendentes!” (Is 44,1.3.)
Tanta promessa e quanta graça!
Mas no ano 538 aC, Ciro, o Persa (2 Cro 36,22 /Esd 1,1; Is 44,28) sobe por aquele Médio Oriente acima e conquista a Babilónia, ano 539 aC, proclamando que os deportados judeus podem voltar à sua terra: “Eis o que diz o Senhor a Ciro, seu ungido: Vou derrubar as nações à tua frente, desatar o cinto dos reis, abrir-te as portas das [suas) cidades. Nenhuma ficará fechada. Irei diante de ti a aplanar-te os caminhos pedregosos” (Is 45, 1-2).
Os judeus exilados estão, portanto, a partir de agora, autorizados a regressar à sua terra de Judá, em particular a Jerusalém, para reconstruir o Templo. E obrigou a Babilónia a devolver ao Templo todos os tesouros arrebatados, e deu mesmo dinheiro para pagar a reconstrução do Templo.
Claro que os melhores judeus do tempo, os profetas, concluíram que Ciro havia sido escolhido por Deus para libertar o seu Povo exilado: “Para que se cumprisse a Palavra do Senhor, Ciro, rei da Pérsia, mandou publicar em todo o seu reino o seguinte decreto: ‘O Senhor, Deus do céu encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém’” (Esd 1,1). “Eis o que o Senhor… diz a Ciro: ‘És o meu pastor e cumprirás em tudo a minha vontade’. E a Jerusalém dirás: ‘Serás reedificada’, como ao Templo ‘Serás reconstruído’” (Is 44).
Que diria Israel a tudo isto?
“Desperta, Jerusalém! Eu, o Senhor, sou o teu Deus! Desperta e levanta-te! Reveste-te da tua força, Jerusalém, cidade santa! Fugi da Babilónia…, mas não às escondidas: o Senhor irá diante de vós e o Deus de Israel seguirá na vossa retaguarda!” (Is 51 e 52).
”Saireis radiantes de alegria e ireis em paz para vossas casas. Montanhas e colinas irromperão a cantar diante de vós, a cantar. E todas as árvores dos campos em que passardes vos aplaudirão. Em vez de silvas crescerão ciprestes, e em vez de urtigas crescerá a murta. Isto será um título de glória para o Senhor e um sinal eterno que jamais perecerá” (Is 55).
Eu, o Senhor, sou o Senhor e mais ninguém!” (Is 45,6), ouviste?
Parece que não!
Arlindo de Magalhães, 22 de Outubro de 2017