Dia Mundial da Paz

N3

Vence a indiferença e conquista a paz – é o desafio lançado pelo papa Francisco para este primeiro dia do ano, dedicado a refletir sobre a PAZ. Da sua mensagem para este Dia Mundial da Paz, podemos ler:

“Não há dúvida de que o comportamento do indivíduo indiferente, de quem fecha o coração, desinteressando-se dos outros, de quem fecha os olhos para não ver o que sucede ao seu redor ou se esquiva para não ser abalroado pelos problemas alheios, caracteriza uma tipologia humana bastante difundida e presente em cada época da história; mas, hoje em dia, superou decididamente o âmbito individual para assumir uma dimensão global, gerando o fenómeno da «globalização da indiferença».”

Não é que não saibamos do que se passa ao nosso lado, no nosso país e nos confins do Mundo. Sim, a informação é muita, mas ficamos indiferentes, resignados, aceitando “normalmente” as consequências daquilo que condenamos, seja a guerra que lá de longe nos envia os refugiados, seja a violência ou o abandono dos mais fracos, nossos vizinhos, ou a corrupção que permite os negócios pouco transparentes com o que é de todos em grande benefício de alguns! Poderíamos falar de desemprego, de falências fraudulentas, de pobreza, de serviços públicos essenciais passados para privados, como a água e os transportes, de escandalosas parcerias público-privadas, de intermináveis inquéritos que nunca acabam nem responsabilizam alguém, da descarada conivência entre o poder político e o poder financeiro…

“A indiferença para com o próximo assume diferentes fisionomias. Há quem esteja bem informado, ouça a rádio, leia os jornais ou veja programas de televisão, mas fá-lo de maneira entorpecida, quase numa condição de rendição: estas pessoas conhecem vagamente os dramas que afligem a humanidade, mas não se sentem envolvidas, não vivem a compaixão.”

Mais de 1 milhão de refugiados chegaram à Europa durante o ano de 2015, quatro vezes mais que em 2014. Mais de metade chegou à Grécia e a Itália, as duas grandes portas de entrada. Os Estados-membros da União Europeia concordaram acolher 160 mil destas pessoas, mas até agora apenas duas centenas foram oficialmente acolhidas. O mundo está a braços com a maior crise de refugiados desde que o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) existe. Em todo o Mundo, há mais de 60 milhões de pessoas deslocadas por conflitos dentro dos seus países ou refugiadas, e a esmagadora maioria está em países em desenvolvimento. Desde o início do ano já morreram 3670 refugiados ou imigrantes, afogados no mar Mediterrâneo.

Kinam Massalmeh (na foto) tem 13 anos e é refugiado. Chegou à Europa com a sua irmã e, quando foi interpelado sobre a mensagem que tinha para os europeus, não hesitou: “A minha mensagem é: ajudem a Síria. Os sírios precisam de ajuda agora”, disse. “Nós não queremos vir para a Europa. Só queremos que parem a guerra na Síria”.

“Noutros casos, a indiferença manifesta-se como falta de atenção à realidade circundante, especialmente a mais distante. Algumas pessoas preferem não indagar, não se informar, e vivem o seu bem-estar e o seu conforto, surdas ao grito de angústia da humanidade sofredora. Quase sem nos darmos conta, tornámo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocuparmo-nos deles, como se aquilo que lhes sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete.”

A Unicef estima entre 6 a 10 mil o número de crianças alistadas nos grupos armados na República Centro-Africana desde o início dos confrontos e da vaga de violência, em 2013.

A crise Síria constitui a maior ameaça dos últimos anos para as crianças. No final de 2015, a violência e as deslocações forçadas terão transtornado profundamente a vida de mais de 8,6 milhões de crianças na região. As que fogem da guerra da Síria constituem cerca de um terço dos refugiados. Algumas perdem o pai ou a mãe (ou ambos) no caminho, ficando sem família, completamente desprotegidas.

Por outro lado, o trabalho infantil ainda atinge 168 milhões de crianças no mundo, na maior parte dos casos em más condições de trabalho e impedindo-as de serem crianças e de frequentar a escola. Os meninos que apanham e tratam do cacau não saborearão sequer o chocolate que todos comemos.

“Vivendo nós numa casa comum, não podemos deixar de nos interrogar sobre o seu estado de saúde. A poluição das águas e do ar, a exploração indiscriminada das florestas, a destruição do meio ambiente são, muitas vezes, resultado da indiferença do homem pelos outros, porque tudo está relacionado. “

A poluição atmosférica está a matar aproximadamente 4 mil pessoas por dia na China, sendo atualmente responsável por uma em cada seis mortes prematuras registadas no país mais populoso no mundo. Estima-se que 1,6 milhões de pessoas morrem anualmente na China devido a problemas de coração, pulmões e de acidentes vasculares cerebrais provocados pelo ar extremamente poluído. Um estudo atribui a culpa às emissões resultantes da combustão de carvão usado para a produção de energia elétrica e para aquecimento das casas.

No passado mês de novembro, em Minas Gerais, Brasil, o rompimento de duas barragens com resíduos de minério provocou o maior desastre ambiental da história do Brasil. Uma torrente de 62 milhões de litros de lama percorreu 850 km até chegar ao mar, deixando pelo caminho um rastro de destruição e morte: povoações inteiras arrasadas, rios, terras, animais e vegetação destruídos.

Na recente Cimeira do Clima (COP21) ficou claro, uma vez mais, que são os interesses financeiros que ditam as regras, perante a cegueira consentida dos decisores mundiais; dinheiro versus futuro da humanidade, o primeiro ganhou. Os países mais pobres querem ser ricos, os países ditos desenvolvidos querem ficar mais ricos ainda e todos mantêm esta “embriaguez ilusória” da riqueza a qualquer custo, num sistema económico de crescimento contínuo num mundo de recursos finitos. Ainda da mensagem do papa Francisco:

“Deus não é indiferente; importa-Lhe a humanidade! Deus não a abandona! Com esta minha profunda convicção, quero, no início do novo ano, formular votos de paz e bênçãos abundantes, sob o signo da esperança, para o futuro de cada homem e mulher, de cada família, povo e nação do mundo, e também dos chefes de Estado e de governo e dos responsáveis das religiões. Com efeito, não perdemos a esperança de que o ano de 2016 nos veja a todos firme e confiadamente empenhados, nos diferentes níveis, a realizar a justiça e a trabalhar pela paz. Na verdade, esta é dom de Deus e trabalho dos homens; a paz é dom de Deus, mas confiado a todos os homens e a todas as mulheres, que são chamados a realizá-lo.”

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *