Do Tempo para a Eternidade

Jerusalém, celebração da Páscoa da Igreja Ortodoxa Etíope (foto: A. Valdamn/The Tower)

Jerusalém, celebração da Páscoa da Igreja Ortodoxa Etíope (foto: A. Valdamn/The Tower)

“Ao contrário dos nossos maiores, que caminharam da Páscoa para o Natal, nós, que caminhamos no Tempo, seguimos viagem do princípio para o fim, do Tempo para a Eternidade, da História para o Reino, do Natal para a Páscoa. Anima, Senhor, os nossos passos”. Assim se orava no fim da celebração de há oito dias. Por isso, depois do Tempo natalício, as comunidades correm para a celebração da Páscoa.

O nosso grupo catecumenal em caminho trata, nestes dias, da organização anual da Liturgia: dois tempos festivos, um curto (o Natal), outro muito grande, 14 semanas e meia (a Páscoa), o Natal coincidente com o solstício do inverno, e a Páscoa com o equinócio da primavera; o restante tempo do ano a Liturgia di-lo “comum”.

A partir do solstício do inverno, os dias começam a crescer: por isso, no paganismo, ao deus Sol se dedicava uma grande festa; e nesse dia — ao tempo, a 25 de dezembro — o cristianismo começou também a celebrar o nascimento do Emanuel, do “deus connosco”, aquele que o profeta Malaquias (3,20) chamaria o “Sol da Justiça”. Esta festa, o Natal, só temos dela notícia tardiamente, no século IV: o curto tempo do Natal.

Da Páscoa, sim, sabemos dela muito mais cedo, em meados do século II, isto se não levarmos em conta a “páscoa semanal”, o “dia do Senhor”, que é o nosso domingo, o dia da Ressurreição. Do dies dominicalis (Dia do Senhor)> domingalis> domingo temos notícia desde os tempos cristãos mais antigos: quando ainda não tinha nome, diziam-no “o primeiro dia da semana”, para o diferençar do último dia da semana, que era o dia sagrado do judaísmo.

Em resumo deste esquema, digo assim: a mais antiga criação pastoral do cristianismo foi a do primeiro dia da semana; temos de concordar que rapidamente se terá pensado e organizado, num primeiro dia da semana, uma festa anual da Ressurreição, sem desaproveito algum da páscoa semanal. A esta festa anual da Ressurreição chamamos nós, hoje em dia, simplesmente, a Páscoa. Esta celebração pascal é um verdadeiro ponto de referência para toda a Liturgia: para ela tudo converge, e dela tudo resulta. Por isso na sua celebração se começa a queimar um círio novo — a Luz de Cristo —, que alumia a assembleia até à Páscoa do ano seguinte.

Se, liturgicamente falando, a Páscoa assumiu sempre o cúmulo de importância, liturgicamente falando, o Natal nunca perdeu a sua importância. Tempo houve, não é questão para aqui, em que se pretendeu fazer do tempo natalício uma cópia do tempo pascal. Não e não!, disse o bem senso (o que não foi nada fácil), porque, em importância, primeiro a Páscoa e só depois o Natal.

E fora do tempo de Natal e da Páscoa? Tempo Comum, claro! A vida da Igreja deveria ser sempre organizada à luz deste esquema. Assim não é, e por muitas razões; na Igreja não se sabe programar. Depois, mistura-se tudo, sempre a mesma coisa, fazem-se muitas coisas mas ninguém faz nada que interesse, missinhas, misssinhas e muitas, e está tudo feito.

Este ano, na Serra do Pilar, a programação do ano pastoral não foi possível. Na incerteza da data da vinda do Bispo António Francisco, que esperámos desde os fins de 2014 mas só aconteceu em novembro passado e praticamente já às portas do Advento, tivemos de ir adiando iniciativas já pensadas. E, quando ele veio, estávamos já às portas do Advento.…

Uma das realizações várias vezes adiada foi a Assembleia da Comunidade, prevista previamente para setembro passado, depois outubro, novembro… …e que, terminado agora o tempo de Natal, temos de realizar de imediato. Esta Assembleia tinha a ver com os 40 anos da nossa história…

Neste contexto, 1. Convoco uma Assembleia da Comunidade a realizar no sábado, dia 23 de janeiro, às 15 horas. 2. Porque a grande questão — as Bases da Comunidade — pede alguma reflexão. A quem nela queira e possa estar presente se entrega, no fim da celebração de hoje, o texto das mesmas Bases para que todos possamos participar em alguma decisão que eu próprio desejaria ter sido feita no 40º ano da nossa história, o que não foi possível, repito, pela incerteza prolongada da visita episcopal. 3. Algumas questões mais haverá a tratar, logo veremos que disponibilidade para o debate. Algo mais direi nos domingos próximos, que não são muitos até à Páscoa.

Arlindo de Magalhães, 10 de Janeiro de 2016

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