É preciso nascer de novo! “Não haverá uma nova relação com a natureza sem um homem novo. Não há ecologia sem uma adequada antropologia” (LS 118).
O planeta, as culturas, os povos e cada um de nós necessitamos de transformações profundas. Todos somos parte uns dos outros. Todos perfazemos um todo em que nada do que sucede a um dos membros é indiferente ao conjunto.
E é aqui que começa o diálogo: da natureza com o homem, do planeta com a vida, da humanidade com a natureza, das culturas entre si…
E é aqui que entra o diálogo como forma de encontro. Diálogo entendido não como negócio de interesses, mas como procura do bem comum para todos. “Dialogar não é negociar. Negociar é tentar levar a maior fatia do bolo comum. Mas não é isso que eu quero dizer. Dialogar é procurar o bem comum dividido por todos” (Papa Francisco, 2015, Discurso no 5º Congresso da Igreja italiana).
A própria encíclica Louvado sejas foi publicada em maio de 2015, meio ano antes da realização da C(onferência) das O(nu) em P(aris), em dezembro de 2015, oferecendo assim a sua reflexão pessoal e da Igreja Católica.
Francisco diz que a política honesta busca sem descanso o bem comum, o que é uma das formas mais altas do exercício. “O cuidado e a promoção do bem comum da sociedade competem ao Estado. Este, com base nos princípios de subsidiariedade e solidariedade e com um grande esforço de diálogo político e criação de consensos, desempenha um papel fundamental – que não pode ser delegado – na busca do desenvolvimento integral de todos” (EG 240).
E a política também se degrada quando se abdica em favor da economia, encarregada de defender o bem privado. A economia tem de estar ao serviço da política e não o contrário, a política da economia: “A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia” (LS 189). A política e a economia podem e devem colaborar para que os bens que pertencem ao conjunto da humanidade cheguem a todos os seus membros.
Se todo o documento — Louvado Sejas — tem o diálogo como uma espécie de pano de fundo, destaca-se em alguns campos.
Primeiro, no âmbito internacional: o meio ambiente é um bem comum que ultrapassa as fronteiras. Veja-se a questão de Almaraz, ao lado do Tejo e a dois passos da fronteira portuguesa. A contaminação pode acontecer num país mas estendendo-se, no entanto, os seus efeitos fora de fronteiras.
Em segundo lugar, diálogo no interior de um país. Aqui contamos com muitas mais ferramentas para um debate público. É a nível local que, muitas vezes, se pode gerar uma diferença na vida das pessoas.
Em terceiro, destaca-se o diálogo entre as religiões na defesa do meio ambiente e dos mais pobres: “A maior parte dos habitantes do planeta declara-se crente, e isto deveria levar as religiões a dialogarem entre si, visando o cuidado da natureza, a defesa dos pobres, a construção duma trama de respeito e de fraternidade” (LS 201).
Finalmente, “é indispensável um diálogo entre as próprias ciências, porque cada uma costuma fechar-se nos limites da sua linguagem, e a especialização tende a converter-se em isolamento e absolutização do próprio saber. Isto impede de enfrentar adequadamente os problemas do meio ambiente”. Torna-se necessário também um diálogo aberto e respeitador dos diferentes movimentos ecologistas, entre os quais não faltam as lutas ideológicas” (LS. 201)
«A gravidade da crise ecológica obriga-nos, a todos, a pensar no bem comum e a prosseguir pelo caminho do diálogo, que requer paciência, ascese e generosidade, lembrando-nos sempre que “a realidade é superior à ideia”» (LS 201).
Claro que não podemos ser ingénuos. Sabemos que o diálogo não é fácil, mas também não é decisivo. Mas é, no entanto, o único meio de que dispomos para, juntos, abordarmos estas questões. Não há outro caminho. A crise sócio-ambiental que enfrentamos exige «paciência, ascese e generosidade, lembrando-nos sempre que “a realidade é superior à ideia”» (LS 201).
O diálogo, acompanhado de respeito e mesmo amizade, é o caminho.
Arlindo de Magalhães, 9 de Julho de 2017