Muitas vezes o Pe. Serafim, companheiro de Emaús, celebra connosco a Eucaristia dominical e às vezes preside. Assim aconteceu um domingo destes.
O nascimento de Emaús narrado na primeira pessoa por Abbé Pierre…
Os primeiros companheiros: Vinham porque estavam destroçados, ou desesperados. Isso é tudo. Mas aquele inesperado que iriam viver daria outro sentido às suas vidas, cada um à sua maneira. O primeiro foi um homem que se queria suicidar e que foi salvo. Era um assassino. Vinte anos antes tinha matado o seu pai num momento de cólera desesperada. Regressado de 20 anos de cárcere, encontrou uma situação familiar atroz e por isso tentou matar-se. Mas enquanto falava dei-me conta de que não escutava nada. Só tinha uma ideia, voltar a tentar o suicídio e não falhar desta vez.
Aí, nesse momento, nasceu o nosso Emaús. Porque sem reflexão ou cálculo prévio, fiz, por assim dizer, o contrário da caridade. Em vez de dizer ” És infeliz, vou-te dar alojamento, trabalho e dinheiro”, as circunstâncias fizeram-me fazer exatamente o inverso. Só lhe pude dizer, porque essa era a realidade: “És terrivelmente infeliz e eu não posso dar-te nada. Deixa todas as tuas riquezas familiares. Não sou pobre, porque recebo o meu salário de deputado. Mas só tenho dívidas, tudo gasto antes mesmo de o receber: no arrendamento de casas, no acolhimento de todos os que chegam com necessidades, sofrendo mil penas. (…) estou muito cansado e não consigo dar resposta a tantos chamados. Mas tu, já que queres morrer, não tens nada que te impeça. Então, queres dar-me a tua ajuda para juntos podermos ajudar a outros?”
Nas costas do papel timbrado da primeira comunidade estava escrito: “… A nossa vontade é poder dizer a quem sofre: entra, come, dorme, veste-te decentemente e depois, se quiseres, partilha do nosso trabalho.
Sempre que me apareciam um pai ou uma, mãe desesperados por não terem tecto dizia-lhes: tende coragem, juntos conseguiremos! A todo o ser-humano, sem me importar a sua raça ou etnia: aprende a conhecer os teus irmãos de toda a terra, aprende a juntar-te a eles para dar a esta terra, na paz, toda a alegria que ela pode dar para todos, em corpo e alma.”