Episkopos

Synaxis_of_the_Twelve_Apostles_by_Constantinople_master_(early_14th_c.,_Pushkin_museum)

Apesar da afirmação apodítica (isto é, evidente e incontestável) do Concílio Vaticano II — “Este sagrado Concílio, seguindo os passos do Concílio Vaticano I, com ele ensina e declara que Jesus Cristo, pastor eterno, edificou a Igreja, tendo enviado os Apóstolos como ele fora enviado pelo Pai; e quis que os sucessores deles, os Bispos, fossem pastores na sua Igreja, até ao fim dos tempos” (LG 18) —, apesar desta afirmação apodítica do Vaticano II que acabei de ler, não se sabe hoje como tudo aconteceu. Que os diáconai (os servidores) apareceram em Jerusalém, dizem-no os Atos dos Apóstolos (At 6,1-7); os presbíteroi  (idosos) emergiram, como era costume na cultura judaica, de baixo para cima, isto é, nasceram da comunidade e na comunidade para serem a cabeça das comunidades (nas sociedades primitivas, eram os idosos que assumiam os lugares cimeiros); mas com os epíscopoi (da palavra grega epíscopos > inspetor, vigilante, que em português deu o substantivo bispo ou o adjetivo episcopal) não sabemos como foi.

Os bispos aparecem já citados por Paulo (nos At [20,28], nas Cartas aos Filipenses [1,1], a Timóteo [5,17] e a Tito [1,5], e nas de Tiago [5,14] e 1Pedro [2,25]). Alguma(s) vez(es), porém, as palavras presbítero e epíscopo tanto querem dizer uma coisa como outra. Mas não se sabe ao certo como nasceu toda esta nomenclatura.

A palavra epíscopo utilizava-se já no tempo apostólico e entendia-se em relação com os Doze apóstolos (Mt 10,1; Mc 3,13; Lc 6,12; Jo 1,40 e At 1,13) que Jesus reunira. Estes Doze (Matias entretanto substituíra Judas, At 1,15) eram servidores do cristianismo nascente, nomeadamente em três campos: ensinavam a Boa Nova de Jesus a todos, celebravam os sacramentos e cuidavam que se levassem a sério os mandamentos do Senhor. Todos eles constituíam um “todo” a que se deu o nome de Colégio Apostólico.

E quando os Doze morreram? Claro que o ministério entregue aos Apóstolos não podia terminar com a sua morte. E, embora no Novo Testamento apareça uma grande diversidade de ministérios, entre os quais o do epíscopo, sabemos que só nos finais do século II e começos do III os epíscopos, com Santo Ireneu (130-202), começaram a ser entendidos como os sucessores dos Apóstolos. E por aqui ficamos em termos de história.

O Vaticano II, resumindo toda a grande tradição teológica, reafirmaria que, assim como o colégio dos Doze tinha Pedro à cabeça, os bispos, todos os bispos, tinham de estar também diretamente ligados ao bispo de Roma, a cabeça da Igreja. Esta doutrina foi fundamentalmente a causa da maior parte das fraturas da Igreja de Jesus: por isso temos hoje a igreja romana ou católica, a ortodoxa, a luterana, a anglicana, e um etc. muito grande.

Mas não só. Mesmo na Igreja Católica entendeu-se que o Papa era o Pastor supremo, “o representante de Deus na terra”, tantas vezes ouvi isto!, de tal maneira que…, e os bispos locais eram simples mandatários do Bispo de Roma.

Esta teoria, sim, pô-la o Vaticano II de lado. O papa é a cabeça do colégio episcopal e em união com ele devem estar todos os bispos. Mas o colégio episcopal é um fator de equilíbrio entre as igrejas locais e o muitas vezes ou quase sempre excessivo centralismo romano. Não assim. O bispo local recebeu sacramentalmente graça para ser pastor de uma diocese, de uma igreja local, e por isso mesmo não é um simples delegado do bispo de Roma.

“Cada um dos Bispos que estão à frente de igrejas particulares, desempenha a ação pastoral sobre a porção do Povo de Deus a ele confiada, não sobre as outras igrejas nem sobre a Igreja universal. Porém, enquanto membros do colégio episcopal e legítimos sucessores dos Apóstolos, estão obrigados, … à solicitude sobre toda a Igreja, a qual, embora não se exerça por um ato de jurisdição, concorre, contudo, grandemente para o bem da Igreja universal” (LG 23).

Por sua vez, o bispo não é uma cabeça pura e simples, mandador e decisor exclusivo: tem de estar em ligação com a cabeça que é o bispo de Roma e, embora na sua Igreja local, em comunhão com os demais bispos. Sempre houve concílios na Igreja; e o Vaticano II criou também Sínodos universais. Em cada diocese o mesmo Concílio recomendou se criassem Conselhos, o presbiteral e o pastoral. Tudo na busca de uma igreja dialogante e sinodal.

Que vem o Bispo da Igreja local do Porto — chama-se diocese — fazer a uma das suas muitas unidades pastorais, à Serra do Pilar? Vem ver-nos, visitar-nos, conhecer-nos, conversar e estar connosco… Ele tem muito interesse em contactar com uma unidade pastoral não paroquial, a Comunidade da Serra do Pilar, na construção da unidade da Igreja local ou diocese do Porto.

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