Um teólogo espanhol, Manuel Gesteira, disse que a Eucaristia é como escrever — não com a caneta, mas com sinais — um tratado de teologia política: ou protestamos contra uma sociedade em que alguns oprimem a maioria, ou antecipamos o Reino dos Céus. Se o não fizermos, a Eucaristia é uma mentira.
Conta uma história que um piedoso marquês, um dia, na fila para receber a comunhão, deixou passar à sua frente um dos seus criados, dizendo-lhe: “Passa tu, que aqui somos todos iguais!”. Ao que o criado respondeu: “Só aqui?!”.
Uma vez, o conhecido teólogo brasileiro Leonardo Boff disse tudo doutra maneira: “Ricos e pobres comungam juntos na Igreja, mas excomungam-se mutuamente na fábrica”.
A mentira está em que a igualdade experimentada durante a celebração pode não ter qualquer influência na vida real. Isto mesmo aconteceu já em Corinto; Paulo acusou assim os Coríntios: “Quando vos reunis, não comeis a Ceia do Senhor; comeis é cada qual a sua!” (1 Cor 11, 20-21). Já, nessa altura, comiam os ricos dum lado e os pobres no outro. Paulo disse aos primeiros: “Comeis e bebeis o vosso próprio castigo!” (1 Cor 11,29).
Séculos mais tarde, S. João Crisóstomo (347-407) diria que, para a celebração, ninguém se preocupasse com solenidades e ornamentos, mas, sim, com a justiça.
Conta-se ainda que Sto. Ambrósio (340-397), bispo de Milão, entrou uma vez em conflito com o imperador Teodósio que, para vingar o assassínio de um funcionário, tinha mandado passar à espada uma multidão de gente que enchia o estádio de Tessalónica, lugar onde acontecera o homicídio. O bispo escreveu-lhe exigindo-lhe penitência pública. E disse-lhe mais: que, enquanto a não cumprisse, não celebraria a Eucaristia diante dele. E Teodósio aceitou e cumpriu a excomunhão temporária – oito meses – fazendo penitência pública.
Não pretendo com isto que tenhamos de esperar que desapareça o último resto de injustiça para que possamos celebrar a Eucaristia. Isso só ocorrerá quando tivermos alcançado a plenitude do Reino e, no cimo do monte, nos sentarmos à mesa e nos servirem as “carnes gordas e os vinhos velhos” (Is 25,6). Só quando tudo isto for realidade, então sim, aí, dispensaremos os sinais e acabarão os sacramentos, e o Corpo de Deus que somos nós consigaremos então realizar a obra de Deus, a opus Dei.
Um teólogo espanhol, Escrivá de Balaguer, canonizado em 2002, gritou que, verdadeiramente, o cristão é o que, na vida quotidiana, através do exercício do trabalho profissional e do cumprimento dos deveres pessoais para com Deus, a família e a sociedade, atua como um fermento de valores humanos e cristãos no ambiente onde está inserido.
S. Escrivá de Balaguer, roga por nós!