Este foi um ano diferente de todos os outros. Não podemos pensar a família sem ser à luz de todas as tribulações pelas quais temos passado.
Família são os que, de um momento para o outro, ficaram fechados em casa, juntos muito mais horas do que até então era habitual. Com as aulas online e o teletrabalho, 24 horas por dia no mesmo sítio, com as mesmas pessoas, com quem só estávamos tanto tempo juntos ao fim de semana e nas férias. E passar 15 dias juntos nas férias não é, de todo, o mesmo que estar 15 dias seguidos fechados em casa. E quantos 15 dias se passaram! Com Setembro, e o regresso à escola, a rotina assemelha-se mais ao que nós víamos como normal. Mas, ainda assim…
Família são os que visitávamos, com mais ou menos frequência. Os avós, principalmente. Mas também os afilhados e os padrinhos, os tios e os primos, e aqueles que, sem laços de sangue, se tornam mais família do que os parentes. De um momento para o outro são-nos tirados, porque não pertencem à nossa “bolha”, e as visitas, quando as há, sabem a transgressão.
Família são os que se reúnem para celebrar a fé. Foram meses de porta fechada. Meses difíceis para quem, como eu, encontra na Celebração Dominical a paz, o equilíbrio e a força para começar cada semana. A força que vem do estarmos juntos, em comunhão.
Um dia, quando regressava do trabalho, passei pelo Eufrázio no seu passeio. Vieram-me as lágrimas aos olhos. Vi, naquele momento e naquele homem que caminhava solitário, toda a Comunidade, toda a família que há tanto tempo não via e que tanta falta me fez…
Família são as crianças que vi crescer aqui, na Catequese. Todos meus filhos, de uma certa forma. Ensinei-lhes a ligação entre o Natal e o solstício, entre a Páscoa e as fases da Lua. Mostrei-lhes Jesus enquanto homem, igual a nós, nosso irmão, que nos pede para nos amarmos uns aos outros. Mas como sermos amor em tempo de pandemia?… Ensinei-os a ver Deus no pôr-do-sol, nas estrelas, na brisa e nas ondas. E também dentro de nós. Mas, confinados, como ver Deus no próximo, de quem não nos podemos aproximar?…
Nada nem ninguém nos preparou para viver desta maneira, mas ainda assim vamos conseguindo. Porque em cada um de nós existe a capacidade de sermos bons irmãos, bons cristãos, bons amigos, de sermos boas pessoas e de termos a generosidade de olhar pelos outros, mesmo à distância.
Pedimos-te Deus que olhes por nós e pelas nossas famílias e nos dês a coragem para ultrapassar as dificuldades porque Tu és o verdadeiro exemplo!
Ana Neves e Elsa Fernanda