A Parábola é uma narrativa muito própria dos Evangelistas. Mateus reúne, neste cap. 13, as que dizem respeito ao Reino de Deus. Hoje escutamos três: “O trigo e o joio”; “o grão de mostarda” e o “fermento”.
Semear… germinar… cuidar… colher… comer.
Semear… germinar… cuidar… colher… comer.
Semear semente!
Semear palavra!
Semear o homem e a mulher… o ser humano!
Mas como se semeia se não se tem semente…? Não se atira a semente para a terra (húmus)… Mas se não se lavrou e adubou a terra? Se não se guardou a semente do ano anterior? Se TUDO foi consumido?! Mas, quem cuidou?! Quem é precavido! Esse pode SEMEAR! Pode acontecer que o inimigo venha semear “joio no meio do trigo”… mas o joio e o trigo não são SEMENTES? Se o são e porque o são, podem, têm, de ser lançadas na terra… Morrer para germinar; germinar para morrer e cada uma segundo a sua natureza, produzir cem, sessenta, trinta por cento… o seu objetivo é o mesmo? O de ser levado ao moinho, depois à masseira, ao forno e à mesa para alimentar, “dar de comer a quem tem fome” (Mt. 25, 35)? Não! Cada uma tem o seu fim, o seu objetivo, o seu propósito. Mas as duas estão interligados no campo… no germinar e cuidar. Por isso o dono do campo deixou ambos crescer. E na devida altura: quando já não representavam perigo uma para a outra, quando eram autónomos; cada qual foi para o seu lugar: joio em molhos para queimar; e o trigo, no celeiro.
A semente do grão de mostarda é lançada na terra, morre para germinar; germina para morrer e ser abrigo, aconchego, sinal, sombra refrescante.
O fermento é misturado com a massa e leveda… para produzir… dar muito e em abundância para “dar de comer a quem tem fome” (Mt. 25, 35)
Nestes acontecimentos da semente e do fermento, sobressai uma particularidade simples e desconcertante: tudo acontece, tudo se realiza no silêncio, no mistério da noite e nas entranhas da terra. Não adianta pular ou saltar… Não se pode / deve apressar o tempo. Tudo é MISTÉRIO. Tudo acontece enquanto “O mundo pula e avança / Como bola colorida / Entre as mãos duma criança”…
E assim deve continuar para que o regozijo, o desassombro de quem come um pão, um “molete”, se deleite quando o come, sinta o seu gosto, o prazer do pão fresco…
E assim deve continuar para que o regozijo, o desassombro, o mistério da semente de mostarda… já árvore, seja…
“Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar…
(Miguel Torga 1907 – 1995