Frei Bartolomeu dos Mártires

Foi em 6 de Julho passado que o Papa promulgou o decreto da canonização do conhecidíssimo Frei Bartolomeu dos Mártires, uma das maiores figuras da nossa História e da 3ª fase do Concílio Ecuménico de Trento (1562-1563), nascido em Lisboa (1514) e falecido em Viana do Castelo (1590). Podemos dizer que foi assim uma espécie de Papa Francisco, mas só no Arcebispado da Arquidiocese Braga (que, ao tempo, compreendia todo o território português a norte do rio Douro, com a exceção da diocese do Porto). Chamado a Roma, ao Concílio de Trento, tempo em que a Igreja vivia um tempo muito difícil, mas que ele soube ler no seu tempo; isto é, soube ler o futuro. Um pouco do muito que está a acontecer com o Papa Francisco.

Batizado na igreja paroquial da extinta freguesia de Santa Maria dos Mártires, no Chiado, em Lisboa, ao nome de seu filho Bartolomeu, os seus pais acrescentaram “dos Mártires”. Depois…, “pregavam naquela freguesia os religiosos de S. Domingos, [ele] via de contin(u)o aquele hábito, ouvia aquela doutrina, ia-se-lhes afeiçoando”…

… e um dia, bateu-lhes à porta: “Padre, trabalhos busco e aborreço mimos. Por fugir de mimos que me sobejam e provar trabalhos que desejo, e sei que pera a salvação me são necessários, busco a religião [ie, a ordem religiosa]. Não temo esses nem me assombrarão outros maiores, que não há corpo fraco onde o coração é forte”.

Já bispo de Braga, foi chamado ao Concílio de Trento (1543 – 1563), no norte da Itália, num tempo decisivo da história da Igreja Católica, confrontada ao tempo com a Reforma Protestante. Afirmar-se-ia como uma das suas maiores figuras. Como ele no Concílio de Trento, só alguns no Concílio Vaticano II (1962-1965), 400 anos depois.

Regressado a Braga, vindo de Trento, teve muitos problemas com a igreja da sua diocese onde, afinal, se esforçou por iniciou a reforma tridentina. Preocupou-se sobremaneira pela formação do clero, com a instrução e moralização dos fiéis, e com a administração rigorosa dos bens eclesiásticos passava a maior parte do ano em visita pastoral ao todo da diocese, de Braga a Miranda do Douro.

Preocupou-se sobretudo com a pobreza de muitos sectores da população e do próprio clero; pressionava os padres mais ricos a partilhar com os mais pobres e a providenciar apoio a(os) mais desfavorecidos. Bispos e padres, dizia ele que eram apenas administradores dos bens da Igreja, que estavam destinados a evangelizar e a socorrer os pobres.

Espalhou-se então uma peste por todo o território: e atingiu aí o heroísmo da sua caridade. E teve também uma enorme postura na crise nacional de 1580, a perda da independência do país.

A seu tempo, começou a pedir insistentemente ao Papa a resignação do seu ministério de Arcebispo atendendo à sua saúde e idade; o Papa cedeu dois anos depois, em 1582. Morreu nesse mesmo ano, em 1582, com fama já de grande santidade. E o povo chorou.

Levantar-se-ia questão entre Braga e Viana da Foz do Lima (assim chamava a “de Castelo”), ambas quiseram o seu cadáver. Viana guardou-o, é nosso!

“Hoje estamos também numa situação idêntica, já que a Igreja precisa de uma renovação interna e de percorrer caminhos novos” na sua missão, diz, levando o “evangelho para longe”. O catolicismo precisa de encontrar “caminhos para se tornar válido” para as pessoas. “A Igreja tem um dinamismo próprio, no âmbito interno, na sua atitude” e, ao mesmo tempo, deve “situar-se no tempo, na sociedade em que vive, reconhecendo as aspirações das pessoas e mostrando que o evangelho tem alguma coisa de válido a dizer a essas aspirações.” – diz o atual arcebispo de Braga.

Arlindo de Magalhães, 10 de novembro de 2019