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Egon Schiele, ‘Umarmende’ 1918

Vimos, há oito dias, que Jesus “começou a percorrer toda a Galileia [não ficava só a andar por ali, de trás para a frente]…, curando doenças e enfermidades do povo” (Mt 4,23). Numa só palavra, percorria “cidades e aldeias,… curando enfermidades“ (9,35). A notícia é de Mateus.

Marcos dá, porém, muito mais notícias, apesar de o seu Evangelho ser o mais pequeno dos 4. Que Jesus entrou logo na Galileia a curar um possesso na Sinagoga de Cafarnaúm (1,21-28), depois a casa de Pedro a sanar-lhe a sogra (1, 29-31); depois ainda, “à noitinha, ao pôr do sol, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos da cidade…, curou muitos enfermos” (1, 32); já não sei onde, veio ter com ele um leproso (1,40-45), voltando a Cafarnaúm, procurou-o um homem que estava na Sinagoga e tinha uma mão paralisada (3, 1-6), depois um leproso (1,40), também um paralítico (2.1) e um possesso do demónio (certamente uma doença epilética) em Gerasa (5,1…); chamaram-no  à casa de Jairo que a sua  filha “estava a morrer” e ele lá foi, também a casa de uma mulher com fluxo de sangue (5,21…); mais adiante, em Genesaré, “nas aldeias, povoações ou campos, onde quer que entrasse, colocavam[-lhe] os doentes nas praças… e todos os que o tocavam ficavam curados” (6,56). Ainda em Genesaré atende um surdo-mudo (7,31-37), em Betsaida um cego de nascença (8, 22-26), um jovem epilético em Cesareia de Filipe (9-14…)

E no Evangelho de Lucas? Lucas era médico. E o Sr. Dr. Lucas deixa-nos notícia de bastantes curas de Jesus: a de um leproso (5, 12-14); a de um paralítico (5, 17-25), a do homem que tinha uma mão paralisada (6,10), a do servo do centurião (7,1-10), da mulher com fluxo de sangue (8,40-48), de um jovem paralítico (9, 37-43); uma mulher que sarou num Sábado, imagine-se! (13,10-16), e mesmo com um hidrópico noutro Sábado (14,1-4), ainda dez leprosos (17,11-19), o célebre cego de Jericó (18,35-43)…

… mas mais, até ressuscitava: o filho de uma viúva (7,11…) e a filha do chefe da Sinagoga (8,49…) [esta palavra ressuscitar não significava o que hoje exprime; significava, na maior parte dos casos, a “recuperação” daquilo a que o povo chamava uma “perda dos sentidos”].

Lucas apresenta um Sr. especial, Zaqueu: é o chefe de publicanos e é rico. Em Jericó todos sabem que é um pecador. No entanto, procura ver Jesus mas é baixo de estatura e procura … não sabe bem o quê. Corre para se adiantar à multidão, sobe a uma árvore como faria um puto, é um homem importante, mas isso não conta… Jesus descobre-o, procura-o com o olhar e diz-lhe: “… hoje mesmo na tua casa …” (Lc 19,1-10).

E no Evangelho de João: de um cego de nascença (9,1…) e a Ressurreição de Lázaro. Só aí disse: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Crê em mim! Mesmo que ele tenha morrido, não morrerá para sempre!” (11,1-25)

Resumindo: os primeiros que Jesus curou, procurou-os ou atendeu os que vinham de tantas “cidades e aldeias”, finalmente passou ele a procurá-los. A muitos deu saúde, é verdade, conforme era possível naquele tempo, não havia nem misericórdias, nem hospitais, nem Inemes, nada, nem injeções, nem pastilhas, nem vacinas…, mas a todos anunciava a Boa Notícia.

Mateus é o que melhor explica tudo: “começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando entre o povo todas as doenças e enfermidades. A sua fama estendeu-se por toda a Síria e trouxeram-lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os que padeciam doenças e tormentos, os possessos, os epiléticos e os paralíticos; e Ele curou-os. E seguiram-no grandes multidões, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e de além do Jordão” (4, 23-25).

Jesus terá aprendido estas práticas numa Universidade Católica, pergunto eu?