O abraço do [Chico ao] Bispo

21. bispo 83

Ainda há bem pouco tempo, nem sequer me passava pela cabeça que fosse possível, durante a minha vida, surgir-me a oportunidade de um dia poder abraçar o Bispo: tive sempre a ideia de que o Bispo era uma coisa intocável, uma coisa de que a gente ouvia falar mas que nunca via, uma coisa com quem a gente gostaria de falar mas que nunca se podia.

Eu sabia que ele era o meu-irmão-mais-velho-na-Fé, mas era um irmão muito importante, um irmão que eu conhecia só pelo nome, mas que nunca tinha contactado pessoalmente. E eu já me tinha habituado à ideia de que nunca seria possível conhecer o meu irmão, embora isso me confundisse, pois ele vivia ali tão perto de mim.

Habituei-me a viver na minha comunidade com os meus irmãos mais novos. Éramos todos muito pequenos, muito pobres, muito simples, mas havia entre nós uma grande Humildade que nos enriquecia, uma grande Alegria que nos confortava, um grande Amor que nos unia; e assim fomos crescendo com muitas dificuldades. Até que chegou um dia em que nos foi anunciado que o nosso irmão-mais-velho vinha à nossa Casa. Era a Confirmação!

Parecia impossível! Que alegria! Que ansiedade!

Nunca mais chegava o dia! O Grande Dia!

Nessa manhã, acordei mais cedo. Estava nervoso porque era a primeira vez e eu não sabia como se tratava com o meu irmão-mais-velho. Tinha que ir bem arranjado porque ele era uma pessoa de cerimónias. Mas ao mesmo tempo eu não percebia muito bem porquê tudo isto, pois ele não era meu irmão? Ele era gente da casa!

Aguardámo-lo com um certo nervosismo e impaciência. Era uma pessoa pontual e, à hora exacta, ele chegou.

Não havia mestre de cerimónias nem pompas nem foguetes. Acolhemo-lo como é costume fazer nas casas humildes, sem artificialismos, mas com o coração nas mãos, com o calor do nosso amor-de-irmãos. Distribuíram-se sorrisos, trocaram-se palavras simples. Foi o primeiro contacto.

Durante a festa da celebraço foi para mim o ponto alto do e palavras de muita amizade. A Confirmaço mdades.Atado que nunca se podia. largos anos para crismão, recebemos bons conselhos e palavras de muita amizade. A Confirmação foi para mim o ponto alto do dia e um marco importante na minha vida.

Comemos à mesma Mesa e bebemos do mesmo cálice.

O meu irmão-mais-velho já tinha conquistado toda a minha admiração e simpatia, e eu gostava que entre nós houvesse mais aproximação e simplicidade, mas eu tinha que me conformar com a distância que havia entre nós e que era preciso manter porque ele era de outra condição.

O nosso Pai tinha dito “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, e eu sabia que ele prefere o contacto com os pobres e os simples, e por isso eu estava triste porque não lhe fazíamos a vontade dentro da nossa Igreja.

Mas graças a Deus que na celebração da Eucaristia temos o gesto da Paz, gesto que nós dá a graça de nos aproximarmos uns dos outros, anulando e ultrapassando, ainda que só por momentos, todas as diferenças sociais. E uma das coisas que mais me alegrou nesse dia foi o momento da Saudação da Paz em que ficamos selados  pelo mesmo abraço fraternal, o Abraço da Igualdade.

Estávamos juntos, unidos, ligados. Agora não havia distância entre mim e o meu irmão importante.  Agora éramos dois irmãos-gémeos, dois irmãos mais iguais, unidos pelo mesmo abraço, unidos pela mesma fé em nosso Senhor Jesus Cristo.

Durou poucos segundos o abraço que esperei durante os meus quarenta anos de vida, mas valeu a pena!

Nunca mais o esquecerei!

Era o abraço do Bispo! Aquele abraço!

(FD 204, 10 de Junho de 1979)

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