No princípio, logo depois da Ressurreição, era tudo muito simples: os seguidores de Jesus (ainda se não chamavam cristãos, só mais tarde, Act 11,26) “eram uma eclesía (quer dizer: um grupo, uma assembleia) de discípulos fiéis ao ensino dos Apóstolos, que, sempre que se reuniam, um deles levava um pão que partia depois e distribuía por todos, e, ali juntos, todos comiam um naco, tal como Jesus lhes disse — “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). Depois oravam, recordavam… (Lc 22,12.19).
Certamente, isto acontecia quase sempre em casa de um deles, na sala de cima.
Mas, quase logo, este grupo (esta eclesía – assembleia, palavra que depois daria também igreja) se alargou. Rapidamente chegados a Antioquia (1.500 Kms), por exemplo, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de cristãos (Act 12,25).
Quer isto dizer que, primeiro em Jerusalém, mas estendendo-se logo por todos os lados da Cidade Santa, e por todo o mundo grego, rapidamente cristãos chegaram a Roma, a capital do império romano.
Entretanto nascera já também uma festa a celebrar a epifania (isto é,a manifestação) do Filho de Deus que “habitou entre nós”, da luz que “resplandeceu nas trevas … e nós vimos a sua glória” (Jo 1,14).
Mas o primeiro cristianismo, oriental, correu também para o mundo romano.
Sabemos pelos evangelhos que o nascimento de Jesus andou cheio de um maravilhoso maravilhoso. Assim, “Dia de Reis” é uma das festas tradicionais maiores celebrada em todo o mundo católico. Neste dia comemora-se a visita de um grupo de Reis Magos (Mt 2 1 -12), vindos do Oriente, para celebrar a “epifania do Senhor”, ou seja, o aparecimento, o nascimento de Jesus, o Filho de Deus, por Ele enviado para a salvação da humanidade (os reis magos referem uns sacerdotes persas que se dedicavam à astrologia, ciência secreta que gerava adivinhos, profetas videntes…).
Portanto, a solenidade da Epifania oriental fixou-se no dia 6 de Janeiro, “Dia de Reis”, na que se tornou uma das festas tradicionais maiores de todo o mundo. “Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia no tempo do rei Herodes, vieram do oriente uns magos a Jerusalém, perguntando: Onde está aquele que nasceu Rei dos Judeus? É que nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo” (Mt 2,1-2).
Seguiram uma estrela e, mostrando assim ao mundo o cumprimento da profecia de séculos, chegando ao palácio do rei Herodes, de surpresa e perguntando “pelo Messias, o recém-nascido rei dos judeus”.
A Bíblia diz que os magos continuaram a caminhar até a “casa (onde) viram o menino com Maria sua mãe”. Adoraram então o Messias, e entregaram-lhe os presentes: ouro, incenso e mirra. O ouro, significa a realeza de Jesus; o incenso, a sua essência divina e a mirra, a sua essência humana.
Por tudo isto, no Oriente, celebrava-se o Grande Mistério do nascimento do Senhor: ele é o “Enviado do Pai” (Gal 4,4), o Senhor, Messias e Cristo, enviado a todas as gentes da Terra, no dia 6 de Janeiro… Portanto: a Oriente, o mistério…
Em Roma, porém, os cristãos romanos do Ocidente decidiram celebrar o nascimento de Jesus noutro dia, naquele em que os romanos celebravam já, desde há muito, uma grande festa pagã, o Solstício de Inverno (24-25 de Dezembro), dia em que, no seu movimento aparente, o sol atinge a sua distância máxima da terra: era a festa do deus pagão Sol invencível, substituído então pelo Deus, Sol da justiça (Profeta Malaquias 4,2), do Sol nascente (Zc 3,8), o nosso Rei (Is 33,22), numa palavra, o rei de toda a terra (Zac 14,9).
Mas o Mundo grego rapidamente chegou ao Ocidente, no seu extremo peninsular, Ampúrias: um centro comercial criado pelos comerciantes gregos na Península Ibérica (acima de Girona, à sua direita, junto ao mar). Desta cidade restam ainda hoje ruínas monumentais que nos explicam porquê, na Espanha, ser o 6 de Janeiro a data da festa natale não a de 25 de Dezembro) a maior, e com muitas prendas, a exemplo dos Reis Magos que ao menino “entregaram os seus presentes, abrindo seus cofres“ (Mt 2,11).
Os evangelhos não dizem nada sobre a data do seu nascimento, não têm nada de rigor histórico. Esforçam-se por explicar o mistérico do que se passou.
Claro que a imaginação popular colocou depois em cena toda uma série de pormenores que não constam: a gruta, o boi e a vaquinha (na antiguidade eram sempre os animais que aqueciam os humanos, e por isso as cortes do gado estavam sempre situadas por debaixo dos lugares de dormida); mas nada disso pertence ao sóbrio relato de Lucas. Foi sobretudo a imaginação dos evangelhos apócrifos que adornou com detalhes a singeleza do texto evangélico. Tudo isto levou a que desde o séc. IV que os cristãos tivessem decidido celebrar o nascimento de Jesus no dia em que os romanos festejavam o Solstício de Inverno (24-25 de Dezembro), substituindo-a pela festa do deus cristão, o Sol invencível.
O Natal surgiu, portanto, na tentativa de cristianizar esta festa do solstício de Inverno pagão, já que o Cristo tinha sido chamado o sol da justiça (Mal 4,2), o astro que nasce do alto (Lc 1,78), a luz que se revela às nações (Lc 2,32).
A sua primeira mensagem é a da humanidade do nosso Deus: o mistério de um Deus tornado ser humano. É a festa do otimismo cristão.