O Natal do Oriente

E a gente não sabe que mais admirar: se a Manifestação de Cristo ao Mundo, ou se a Realidade do acontecimento que foi o seu nascimento.

Talvez seja necessário explicar que a festa da Epifania é o Natal do Oriente. O seu aparecimento aconteceu mais ou menos do mesmo modo e ao mesmo tempo que o do Ocidente. Mas o primeiro foi o do Oriente, aquele que, pelo cômputo do tempo das astronomias orientais, nomeadamente a egípcia, se assentou em 6 de Janeiro; era a festa da manifestação dO Filho de Deus (epifania, algo que se manifesta, um relâmpago por exemplo, do verbo faínô > tornar visível). Era a celebração de um mistério: Deus-Homem! Pode lá ser?, perguntavam ainda os seguidores de Ario (256-336), pai do arianismo (o presbítero ariano, nascido em Alexandria do Egipto, defendia que Jesus não era “Enviado do Pai…” nenhum!

No Ocidente — cuja cultura viria a inventar tudo, armas e relógios, computadores e armas atómicas —, o Natal foi concebido como a celebração do que aconteceu em Belém (a manjedoura, o boi e a vaquinha, os pastores…), o nascimento do Filho de Deus feito homem em 25 de dezembro. Mas que fazer, no ocidente, no dia de Natal do oriente, a 6 de Janeiro ? Oh!…, a chegada dos Magos. Antigamente até se dizia que era a festa “de Reis ou dos Reis”… com respectivo Bolo-rei!

Liturgia mistérica no Oriente, Liturgia episódica no Ocidente!

Mas as Igrejas, tão diferentes, eram também muito unidas, do Oriente ao Finisterra do Ocidente, de tal modo que tiveram, cá e lá, a audácia de enfrentar o mundo pagão circundante, lá (na Grécia) e cá (no império romano), mas de modo diferente?

Uma Igreja não monolítica nem monocórdica mas atenta às sugestões várias que lhe vinham de fora e de dentro, foi capaz de ser luz, de evangelizar, atendendo aos povos, suas culturas e costumes, seus ritmos festivos e suas necessidades? E, em todos os Povos, muitos convergiram para Cristo, como os Magos do Evangelho, através do seu Sinal ou estrela.

Depois Oriente e Ocidente: igreja ortodoxa e Igreja romana. Que na romana (agora toda partida: Adventista, Católica, da Reforma, etc) e na Ortodoxa, a Luz de Cristo que é a Igreja (Vaticano II) possa ser recebida por todos nós. Só assim, “se permanecerdes fiéis à minha mensagem, sereis verdadeiramente meus discípulos” (Jo 8, 31). 

Arlindo de Magalhães, 5 de janeiro de 2020