O Pão da Vida

EM JEITO DE HOMILIA – REFLEXÃO SOBRE O EVANGELHO DE S:JOÃO (Jo 6,41-51)

Sinto em mim um grande vazio,
Tão grande, do tamanho de Deus.
Nem o Amazonas que é dos rios o rio
Pode enchê-lo com os afluentes seus.

Tento, intento e de novo tento
Sanar esta chaga que me mata.
Quem pode, qual é o portento
Que estanca esta veia ou a ata ?

Pode o finito conter o Infinito
Sem ficar louco ou adoecer ?
Não pode. Por isso eu grito
Contra esse morrer sem morrer.
Implode o Infinito no finito!
O vazio é Deus no meu ser.

(Leonardo Boff)

Quando Jesus declara “Eu sou o Pão da Vida”, afirma que é o verdadeiro pão que desce do céu, da parte de Deus Pai, capaz de saciar a fome de toda a humanidade, fome essa que não é de comida mas de Deus. Como ouvimos no domingo passado, a multidão havia pedido a Jesus: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Mas Jesus surpreende todos “Eu sou o Pão que desceu do Céu”. Esta afirmação escandalizou os judeus a quem se dirige. Como aceitar esta afirmação de Jesus ? Conhecem os seus pais e seus irmãos, como pode Ele afirmar que vem de Deus ? Para eles a sua origem humana é incompatível com a sua qualidade divina.

Mas Jesus é o ponto de encontro entre o humano e o divino. Jesus repete de forma cada vez mais aberta que vem de Deus para oferecer a todos um alimento que gera vida eterna. Jesus vai direto às suas dúvidas e incredulidades “Não murmureis. Ninguém pode vir a mim se o meu Pai, que me enviou, o não atrair”. A atração para Jesus é Deus quem a produz. Por isso temos de escutar a voz de Deus em nosso coração e deixarmo-nos seduzir por Jesus. “Todo aquele que acredita tem a vida eterna. Eu sou o Pão da Vida. Eu sou o Pão vivo descido do céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. O Pão que vos hei-de dar é a minha carne para a vida”.

Este Pão sustenta a fé e a esperança, alimenta a confiança no Pai e confere um sentido mais profundo à vida humana, porque o pão material alimenta o corpo mas não nos livra da morte, ao contrário é o pão espiritual que nos restitui a uma vida eterna. Vida eterna não significa, necessária e unicamente, uma vida de duração ilimitada ou vida para além da morte. Trata-se de uma vida vivida em profundidade e qualidade nova, uma vida plena, que vai para além de nós próprios, mas que começa aqui e agora, na nossa vida concreta e no dia a dia.

Para os cristãos, a eucaristia é o memorial da doação plena de Jesus. Comer a sua carne e beber o seu sangue estabelece uma união inseparável com Jesus, é a assimilação de Jesus na sua totalidade, aceitá-lo como dom do Pai e dar-se como dom de vida para a humanidade. Sejamos, pois, capazes de descobrir em Jesus o único pão que alimenta o nosso espírito e nos dá força para caminhar. É a fé que nos anima, que dá sentido à vida. Jesus não ensina fórmulas nem doutrinas, mas revela o modo de estar perante Deus, o modo de estar perante os outros, o modo de viver no mundo. Jesus é, assim, a resposta às esperanças e necessidades do ser humano.

Fernando Moreira, 9 de Agosto de 2014

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