O Servo do Senhor

Em maior ou menor escala, somos todos pecadores, no pecado individual e comunitário. Talvez mais neste que naquele, pois, com relativa facilidade ignoramos a responsabilidade inerente à integração, no meio onde vivemos. Desta inserção resulta o auxílio mútuo que, por justiça, nos devemos.

A libertação do pecado flui naturalmente do arrependimento, a que se segue o perdão. Só perdoando, o homem é perdoado. “A medida que utilizares com os outros, será utilizada contigo” (Mt 7,2). “Perdoai-nos, Senhor, como nós perdoamos” (Mt 6,14).

Perdão e amor são as máximas que Jesus nos deixou. E “o discípulo não é maior que o Mestre (Mt 10,24)”.

A primeira lei era clara: “olho por olho, dente por dente” (Ex 21,24). Muitas foram, depois disso, as palavras da Sagrada Escritura, não já em defesa do ódio e da vingança, mas pelo contrário em defesa do amor e do perdão. “Ao apresentar a tua oferenda no altar, vê se estás em paz com o teu irmão: Perdoa-nos, Senhor, como nós perdoamos” (Mt 5,23); “Não julgues para não seres julgado” (Mt 7,1). O Senhor fez-nos um só povo, filhos do mesmo Pai, e quer-nos a viver o amor fraterno em todas as dimensões.

O Servo do Senhor é desprezado e perseguido por todos. No cumprimento da sua missão, sujeita-se às humilhações e ao sofrimento, mantendo sempre uma firmeza inabalável e uma serena e alegre confiança em Deus (Is 24,2).

Esta misteriosa figura que aparece com muita frequência no Livro de Isaías, o protocristianismo viu nela o Cristo, o Ungido, na sua Paixão, abandonado pelos discípulos e pelas multidões, mas sempre fiel à sua missão redentora, consciente de que a salvação passa pela cruz.

Um exemplo  (Is 50,5/10):

“O Senhor abriu-me os ouvidos, mas eu não resisti nem me furtei.
Dei as costas aos que me batiam e a face aos que me puxavam a barba, mas não fugi nem aos ultrajes nem aos escarros.
O Senhor, meu Deus, virá em minha ajuda, razão por que não me deixei abater, apesar de o meu rosto se ter tornado mais duro do que se de pedra fosse; e sei que não serei confundido. Está perto quem me justifica.
Pretende alguém instaurar-me um processo? Vamos os dois juntos!
Quem é o meu adversário? Que se apresente!
O Senhor, meu Deus, virá em minha ajuda! Quem ousará condenar-me?” 

Ter fé, ou seja, crer, não é só nem principalmente admitir um determinado credo. É essencialmente estar em atitude de acolhimento à inspiração e graça de Deus. É ainda aceitar o compromisso vital da própria fé que não é outro senão o da correspondência do amor de Deus, emanando daí o amor ao próximo realizado ou vivido em obras.

“Crer não é ter as soluções nem um haver encontrado as respostas. Crer é habitar no caminho, viver na tensão…” (José Tolentino ao Papa Francisco, no Retiro “O elogio da sede”).

No passado dia 4 de Setembro, o Papa Francisco formulou assim: “a verdade é mansa e silenciosa”pelo que“com as pessoas que procuram apenas o escândalo e a divisão, as únicas opções a seguir são as do silêncio e da oração”.

Arlindo de Magalhães, 16 de setembro de 2018

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