“Começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando, entre o povo, todas as doenças e enfermidades” (Mt 4,23).
“E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia” (Mc 1,28); “impelido, pelo Espírito, Jesus voltou para a Galileia e a sua fama propagou-se por toda a região. Ensinava nas sinagogas…” (Lc 4,14-15).
E Jesus como que inicia uma vida pública. E logo, desde o princípio, inicia um tremendo conflito com a religião (do Templo). Jesus quer que o homem se encontre com Deus, não com o Templo, isto é, com os sacerdotes, com os rituais e grandiosas cerimónias. Deus não se encontra na sacralidade das religiosidades mas na laicidade das humanidades. Por exemplo: Deus não quer dinheiro, quer sim que se acuda o pobre, se ajude o cego, e se dê pão verdadeiro ao faminto.
Jesus não pretendeu construir um palácio estrondoso de custo e beleza; disse assim: “Eu sou a voz de quem grita no deserto” (Jo 1, 23), enquanto os judeus diziam: “Nós temos uma lei e segundo ele deve morrer” (Jo 19,7). Pedem-lhe então explicações, e ele responde: “Destruí este templo que em três dias o levantarei” (Jo 2,19). Para Jesus, o verdadeiro templo é o ser humano. Era assim que pensava a igreja primitiva: o cristão é o templo de Deus:
“Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o Deus é santo, e esse templo sois vós” (1Co 3,17-18) e “Não sabeis que o vosso corpo é um membro de Cristo?” (6,19). “O Deus que criou o mundo e tudo quanto nele se encontra, Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários construídos pela mão do homem, nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, Ele, que a todos dá a vida, a respiração e tudo mais. Fez, a partir de um só homem, todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra; e fixou a sequência dos tempos e os limites para a sua habitação, a fim de que os homens procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo, mesmo tateando, embora não se encontre longe de cada um de nós. É nele, realmente, que vivemos, nos movemos e existimos, como também o disseram alguns dos vossos poetas…” (At 17,24-28).
Jesus não pretendia limpar o Templo; queria, sim, acabar com ele, aquele Templo de dinheiros e cordeiros, de sacerdotes, de promessas…, de pátios só para homens e de outros só para as mulheres, Templo de Sumo-Sacerdote que tinha um poder imperial, mas que — ao seu tempo, o de Jesus — era um lugar de corrupção, de rapinagem, de violência… e de política.
Por isso, antes de mais nada, Jesus expulsou do Templo, com azorrague de corda, os comerciantes (Mt 21,12-13) que vendiam os animais a sacrificar segundo as normas… Este gesto de Jesus, especialmente significativo, deitou também por terra as mesas dos cambistas.
Ajudavam estas traficâncias enormes quantidades de dinheiro — Jerusalém, cidade judaico-romana, estava situada num ponto nevrálgico de uma extensão que se desenhava da Mesopotâmia ao ocidente do Mediterrâneo — quantidades de dinheiro de que sempre gostaram o clero e o próprio Templo.
É curioso que, chegado já a Jerusalém, «Tendo saído do templo, Jesus já se ia embora, quando os seus discípulos se aproximaram dele para lhe mostrarem as construções do templo. Mas ele disse-lhes: “Vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra: tudo será destruído”». (Mt 24, 1-2).
De certeza que Jesus tinha consciência do que estava a dizer e a jogar a vida.
O Templo tinha em Israel, como sabemos, uma importância enorme: o Templo era a morada de Deus no mundo, o coração da toda a vida religiosa e o centro da vida do homem judeu. O poeta-salmista diz bem: “O Senhor habita no seu santuário, tem nos céus o seu trono; os seus olhos contemplam o mundo e as suas pupilas observam os filhos do homem” (Sl 11,4).
Mas com o cristianismo tudo mudou. Desde logo, no princípio, os discípulos começaram a “partir o pão em suas casas, com alegria e simplicidade de coração” (At 2, 42-46) e depois em Corinto (2Cr 1,1), e, por muito tempo, assim foi, não havia templos para os cristãos: reuniam-se nas casas uns dos outros e sempre na sala de cima (At 9,39; 20,8).
Conforme muitos ou poucos, os primeiros cristãos reuniam-se nas casas uns dos outros, grandes ou pequenas. Utilizavam a sala do 1º andar da casa, coberta por um pouco levantado telhado, só para arejar. Com o tempo, porém, começou a subir o telhado, criando-se, portanto, uma sala maior, ampla, tranquila e discreta, uma grande sala de cima. Na casa romana de um cristão abastado, aí se reunia a ekklesía toda, mai-los já com os que aceitavam a Palavra, e se preparavam para receber o Batismo” (At 2,41). No quarto de banho ou na piscina da casa faziam-se os batizados; ao templo, a palavra batistério significava piscina, e batismo queria dizer mergulho (COMBY, Jean – Para ler a História da Igreja, 1988).
Como os tempos mudavam! Hoje, será assim?!