A grande diferença está em que enquanto o Levítico dizia, para que não restassem dúvidas, “Todo o tempo que durar a doença considerar-te-ás impuro e, como tal, viverás à parte, a tua residência será fora”, Jesus “tocou-o … e o homem ficou curado”.
Todas as gerações da história tiveram os seus leprosos, marginais, arrumados para o canto, deitados para “fora”. São impuros, não se misturam nem deixam que se misturem, os pobres com os ricos, os idosos com os novos, os doentes com os sãos, os desempregados estão mesmo à parte, o interior também face ao litoral, Aldoar com Gomes da Costa, a Quinta da Marinha com a Zona J, os condomínios são fechados, os bancos têm a polícia à porta, quando a gente ouve um carro da polícia a gritar rua fora não é que esteja alguém a morrer, … há muitos leprosos no tempo que corre. E os maiores são os pobres.
Os que analisam a situação actual coincidem em afirmar que a sensibilidade da humanidade diante do repto da pobreza e da injustiça anda efectivamente por baixo. Até porque há recursos, dinheiro, conhecimentos e tecnologia para acabar com ela a curto prazo. Mas falta exactamente a vontade política de o fazer. Muitos falam em “tempos de simulação” ou de perca do sentido da realidade, de “cultura da indiferença diante do mundo das vítimas”.