Jesus come e bebe com uns e com outros, “santos” e pecadores (mais com estes últimos do que com os primeiros). Porquê?
Foi para tentar responder a esta pergunta que há um par de anos atrás (cada vez mais distantes no tempo) um grupo de alunos, desafiados pelo seu professor, se meteram a discutir e aprofundar as “comidas de Jesus” que levam à eucaristia. Não tendo chegado a nenhuma conclusão definitiva, compreenderam que uma refeição, almoçar ou jantar, é MUITO mais que comer (saciar a fome).
Comer é partilhar, comungar, ter parte de…
Partilhar a minha casa que abro para ti e é nossa; partilhar a mesa posta e estar à sua volta; partilhar a comida que tenho, que sendo “minha” (fruto do meu trabalho e da minha família) é dádiva de Deus que contigo partilho; partilhar o vinho, “bebida dos deuses e alegria dos homens”; partilhar partindo o pão que foi amassado com a água do meu poço e com o azeite das minhas oliveiras, cozinhado no forno que aquecia em quanto esperava que a massa levedasse para o poder cozer; partilhar o convívio que contigo acontece; partilhar e acolher-te no abraço com que te recebo… e saudade quando voltares para a tua casa.
Por isso é que Jesus come e bebe. Mas não é só convidado! Ele também é anfitrião: atento, solícito. E que melhor cenário para esta refeição oferecida por Jesus que não o céu por teto e a mãe terra como mesa? (Havia muita relva naquele lugar… diz João).
Porquê estes textos tão ricos de significante e de significado, nesta altura do ano em que tanta gente está a partir de férias ou já em pleno gozo de férias? Porque é nesta altura do ano que se ceifa… que se malha o trigo e o centeio… em que a eira cheira a palha e grão! As searas cobrem os campos e pintam o horizonte com o seu tom dourado. E Jesus, atento como sempre, partindo das vivencias experimentadas vai falar do PÃO.
Olhando ao nosso redor, para o nosso país, para a nossa Europa, vemos pessoas a partilhar o “pão”? Sim, vemos. O que se passou esta semana é exemplo disso, tendo-nos feito recordar o que se passou em Portugal há menos de um ano… no entanto também vemos uma hora a fechar fronteiras, a “proteger” o seu “rapazinho que tem cinco pães de cevada e dois pequenos peixes” de outros meninos que vêm para lhe tirar o que tem para comer; o trabalho, que valha-nos Deus já não querem, mas também não deixam ir para outro; o seu modo de vida, diferente do estrangeiro que morre, morria e vai continuar a morrer no Mediterrâneo…
Que o bom Deus, misericordioso e Pai-solicito, nos conceda o dom da generosidade, da partilha e das mãos e braços abertos ao outro….
Rogério Alves, 29 de julho de 2018