A finalizar o percurso catecumenal e a Liturgia quaresmal — que a Páscoa está à porta — a figura de David, rei, poeta e pecador.
O Profeta
Marc Chagall
Quem é profeta?, ou o que é um profeta?
Pensava-se antigamente que o profeta adivinhava o futuro, mas não, nada disso, o profeta é o homem mais lúcido do seu tempo, aquele que olhando o presente é capaz de discernir o futuro.
Os grandes profetas do Antigo Testamento apareceram em cena nos tempos da grande crise da história de Israel, um pouco como aconteceu em todas as grandes religiões (em que há mesmo uma chamada “revolução profética”). E foram mensageiros antes de tudo. Naqueles tempos não havia nem jornais, nem rádio, nem televisão, as notícias e as leis eram tornadas públicas de terra em terra em voz alta no meio da aldeia por um mensageiro que começava por dizer quem o enviava a proclamar: assim ordena o rei, por exemplo. Por isso, também os discursos dos profetas – chamados oráculos – começavam amiúde por estas expressões: Deus disse ou Deus falou assim ou ainda Palavra do Senhor!. Os profetas eram chamados (vocacionados) por Deus a falar em seu nome, anunciando; por isso quase todos os livros dos profetas começam por narrar a sua vocação. As suas mensagens eram de anúncio, de crítica ou até previsão de catástrofes (entendidas como castigos).
Os profetas, portanto, iam em princípio contra a corrente da opinião pública, e sobretudo contra a opinião dos poderes instituídos, religiosos e políticos. Mesmo quando parecia que estava tudo bem, denunciavam os males da sociedade em que viviam antecipando de algum modo o que não se esperava. Mas quando o povo entrava em depressão, eram eles quem lhe acalentava a esperança. Por isso, muitos deles morreram às mãos dos poderosos que os não suportavam, por inquietadores do povo. Dirigindo-se aos doutores da Lei e fariseus hipócritas, Jesus – o grande profeta – dizia-lhes: Vós sois filhos dos que assassinaram os profetas! Andai lá: acabai de fazer o que eles começaram! (Mt 23,31).
Os profetas de Israel?, os que escreveram e os que não escreveram, os maiores e os menores, todos ou só alguns, foram “os sentinelas da aliança que Iavé selou com o seu povo”.
A Liturgia deste domingo propõe um texto do profeta Ezequiel. Há profetas maiores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel) e menores, escritores e não escritores (Samuel, Elias, Eliseu, etc).
Ezequiel foi desterrado para o cativeiro, na Babilónia, no ano 597 aC. Ali viveu na colónia de desterrados judeus, animando os seus concidadãos. Previu a destruição de Jerusalém, que de facto aconteceu em 587 aC, mas logo de seguida começou a anunciar que Deus restauraria o seu povo: “Vou abrir os vossos t aCEz12)e Israel” vos reconduzir tar, ariua o seu povo.i oevado oaraúmulos e deles vos farei ressuscitar, ó meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel” (37,12); e ainda: “Dar-vos-ei um coração novo e infundirei no seu íntimo um espírito novo” (11,19).
(Homilia na Serra do Pilar, 5º Domingo da Quaresma, 2012.03.25)