Desde a discussão que teve com os “doutores do Templo” — “Filho porque fizeste isto? Não vês que eu e o teu pai andávamos aflitos à tua procura?” (Lc 2,46-48) — não sabemos nada de Jesus. Sabemos, sim, do que falámos há oito dias, o encontro com o primo João, no rio Jordão. A seguir “cheio do Espírito Santo, retirou-se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde esteve 40 dias (Lc 4,1), mas logo “impelido pelo Espírito, voltou para a Galileia (4,14).
Imediatamente, se pôs a andar, a percorrer a sua terra, a Galileia.
Marcos foi — no Evangelho que escreveu, o mais pequeno dos 4 — o mais descritivo, muito narrativo, a explicar que Jesus foi e voltou, à beira-mar ou pelos montes, passando por aldeias, vilas ou campos…
“Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia a proclamar o Evangelho de Deus” (1,14)… Entrou de seguida em Cafarnaúm onde foi à Sinagoga (1,21), a seguir foi a casa de Simão e André (1,29); e, de madrugada, ainda escuro, levantou-se e foi para um lugar solitário (1, 35)…
Voltou depois a Cafarnaúm (2,1)…, saiu de novo para a beira-mar (2,13)…, num dia de sábado, indo Jesus através das searas (1,23)…, voltou à sinagoga (3.1), retirou-se para o mar (3,7), dali foi para a casa dos familiares (3,21) …
“De novo começou a ensinar à beira-mar” (4,1)…, passou depois com os discípulos para a outra margem do mar (4,35)…, “e dali voltou à sua terra, Nazaré (6,1)“; na viagem, ele e os discípulos “foram então para um lugar isolado” (6, 30.32); depois, “aproximaram-se de Nazaré” (6,53) e andaram por “aldeias, cidades e campos” 6,56).
Partindo dali, Jesus foi para a região de “Tiro e Sídon” (7,24). “Tornando a sair da região de Tiro, veio por Sídon para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole” (7,31).
“Chegados a Betsaida” (8, 22), “partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia” (8,27); “seis dias depois tomou consigo Pedro. Tiago e João, só eles, e levou-os a um monte elevado…” (9,2).
Depois atravessaram a Galileia, sem que ninguém o soubesse; Jesus queria que ninguém o soubesse…, chegaram a Cafarnaúm (9,33)…, “saindo dali foi para a região da Judeia, para além do Jordão (10,1)…
Com tudo isto, “iam a caminho, subindo para Jerusalém… começou a dizer-lhes: ‘o Filho do Homem vai ser entregue aos sumo-sacerdotes e aos doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entregá-lo aos gentios. E hão de escarnecê-lo, cuspir sobre ele, açoitá-lo e matá-lo’” (10,32.34).
O evangelho de Marcos, que é o mais pequeno de todos, noticia estas 25 andanças feitas por Jesus.
Mateus dá notícia do mesmo; mas não é tão narrativo; é, sim, mais rico de doutrina. Veremos.
E a informação é melhor: “Tendo ouvido dizer que João Baptista fora preso, Jesus retirou-se para a Galileia. Depois, abandonando Nazaré, foi habitar em Cafarnaúm, cidade situada à beira-mar; … A partir desse momento, Jesus começou a andar e a anunciar: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu” (4,17).
“Caminhando ao longo do mar (4,18), … começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando entre o povo todas as doenças e enfermidades… e seguiram-no grandes multidões…” (4,23.25). E ao ver a multidão, subiu a um monte e, depois de se ter sentado, os discípulos rodearam-no, e ele tomou a palavra e começou a ensiná-los: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 4,23).
Caminhar à procura dos que querem ouvir ou encontrar aquele que anuncia a Boa Nova, sobretudo aos pobres…
Mas que grande aula de Teologia Pastoral, esta de Marcos e Mateus!
Arlindo de Magalhães, 20 de janeiro de 2020