Naquele dia, de manhã cedo, levaram-no a casa de Pilatos que lhe perguntou: Tu és o rei? E ele respondeu: Tu o dizes. Foi então acusado pelos sumos sacerdotes; e ele… nada! (Mt 27,12-13). Mas Pilatos insistiu: Não ouves o que dizem de ti? E ele não respondeu coisa alguma. Os sumos sacerdotes acusavam-no também de muitas coisas: Não respondes nada? Não ouves de quanto te acusam? Mas ele nada respondeu! (Mc 15,4). Fez como o servo do Senhor: Maltratado, humilhou-se e não abriu a boca” (Is 53,7). Pedro diria: Cristo… ao ser insultado não respondia com insultos, ao ser maltratado não ameaçava, entregava-se àquele que julga com justiça (1 Pe 2,23-24).
Já uma vez, em Cafarnaum, estava ele a ensinar na sinagoga, e muitos dos que o seguiam diziam: Ele está tolo? Ouvistes o que ele disse? E muitos dos seus discípulos puseram-se a andar. E ele perguntou aos Doze: Também vós me quereis abandonar (Jo 6,66).
Um tempo antes, ele tinha-lhes dito estas palavras: Julgais que eu vim estabelecer a paz na Terra? Não! Vim estabelecer, sim — vo-lo digo — mas não a paz, a divisão. Daqui em diante estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três, o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra (Lc 12,51-53).
Bem profetizou Isaías a estes hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está muito longe de mim. Vazio é o culto que me prestam; e as doutrinas que me ensinam não passam de preceitos humanos (Mc 7,6-7).
É verdade que Nenhum profeta é bem-recebido na sua terra (Lc 4,24). Por isso é que aquele homem que estava na Sinagoga e tinha um espírito maligno, se pôs a disparatar: Que tens a ver connosco, Homem? Vieste para nos arruinar? Eu sei que tu és o Santo de Deus! E ele ordenou-lhe: Cala-te! (Lc 4, 33-35). Mas muitos outros encheram-se de furor e combinaram o que poderiam fazer contra ele (Lc 6,11).
Uma vez, chegando a Nazaré, escandalizados, os da sua terra perguntavam-se: Mas não é este o filho dum carpinteiro? (Mc 6,3)
Um dia, chegado a Jerusalém — ele com os discípulos — entrou no Templo e começou a expulsar os que, lá dentro, vendiam e compravam. Deitou por terra as tendas dos cambistas e os bancos dos vendedores de pombas, e não deixava que levassem nada para dentro do Templo. E bradava alto e bom som: A minha casa é uma casa de oração para todos os povos, mas vós fazeis dela um covil de ladrões! (Mc 11, 15-17).
O Templo não é uma casa de vaidades nem de formalidades, é uma casa de oração para todos os povos, casa de oração ou até casa daqueles que, lá no fundo, deitam no tesouro tudo o que têm para viver (Lc 21,4).
E fez um chicote de cordas e expulsou-os todos do Templo, escorraçou as ovelhas, os bois e as pombas, moedas dos cambistas espalhou-as pelo chão, e bradava: Fora daqui! A casa de meu Pai não é nenhuma feira! (Jo 3,15.1).
Em sua autoridade!, sumos sacerdotes e doutores da Lei perguntaram-lhe: Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu licença? Ele respondeu-lhes: — Eu faço-vos outra [pergunta]. Respondei-me a mim que eu depois digo-vos com que autoridade o faço! Perguntou-lhes se o batismo de João era do céu ou dos homens. Mas eles começaram a discutir uns com os outros e, não sabendo responder-lhe, confessaram: Não sabemos. E ele disse-lhes: Então, também eu não vos digo com que autoridade faço estas coisas (Mc 11, 28b-33).
Uma vez, foi ao Templo e pôs-se a ensinar: A minha doutrina não é minha é daquele que me enviou… Quem fala por sua conta procura a sua glória pessoal; mas quem procura a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro e nele não há impostura. … Respondeu aquela gente: Tu tens demónio! Mas ele replicou-lhes: Não julgueis pelas aparências; julgai com retidão! (Jo 7, 14-24).
Entre os fariseus havia um chamado Nicodemos, que o procurou uma vez, de noite: falaram do nascer do alto, da água e do Espírito, dos homens que odeiam a luz e praticam o mal (Jo 3, 1). Com isto, uns queriam matá-lo (Jo 7,1); outros diziam que ele era um homem de bem (Jo 7,12); outros ainda que andava a desencaminhar o povo (Jo 3, 7), dizendo que as suas obras eram más (Jo 7,12).
E não só Nicodemos. Havia outros que lhe faziam muitas perguntas. Um escriba, por exemplo, chegou-se uma vez a ele e perguntou: Qual é o primeiro dos mandamentos! E ele respondeu: O nosso Deus é o único Senhor (Mc 12,29-31). E acabou a conversa!
Na última Ceia Pascal, saiu-se a dizer: A minha alma está numa tristeza de morte … O espírito está pronto, mas a carne é fraca (14,38). Pai, afasta de mim este cálice. Não, não se faça o que eu quero, mas o que tu queres! (Mc 14,34-36). Apareceu então Judas e com ele uma grande multidão enviada pelos príncipes dos sacerdotes, escribas e anciãos. E disse-lhes: Viestes para me prender com espadas e varapaus como se eu fosse um salteador? Mas eu estava todos os dias no templo, a ensinar, e nunca me prendestes…! (Mc 14,43.48-49).
Quando chegaram ao calvário, crucificaram-no. E ele disse: Perdoa-lhes, meu Pai, que não sabem o que fazem! (Lc 23,34). Inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 19,30).
Depois de tudo isto, José de Arimateia que era um dos discípulos — secretamente, por medo das autoridades judaicas — pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o cadáver. E Pilatos permitiu-lho.
Nicodemos, aquele que muito antes tinha ido ter com ele de noite, apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés. Tomaram então o cadáver e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus.
Foi então que alguns se recordaram de uma coisa que ele tinha dito: Eu tenho muitas mais coisas a dizer-vos e a julgar a vosso respeito; mas do que falo ao mundo é do que ouvi àquele que me enviou e que é verdadeiro (Jo 8,26).
Arlindo de Magalhães, 30 de setembro de 2018