Povo mais numeroso que as estrelas do Céu; Povo de mulheres e de homens cuja condição é a dignidade e a liberdade dos Filhos de Deus, cuja lei é o mandamento novo e que tem por fim o Reino de Deus (LG 9); Povo em que todos são chamados à santidade e cujos membros não conhecem desigualdade alguma, por motivo de raça ou de nação, de condição social ou de sexo; Povo em que, embora nem todos sigam pelo mesmo caminho, reina igualdade quanto à dignidade e quanto à [capacidade] de actuação em favor da edificação do Corpo de Cristo (LG 32).
Somo-lo – um Povo – por força da Ressurreição e pelo Baptismo.
Um Povo! Um Povo é um corpo vivo, cheio de vida e de força ou gravemente enfermo, com rosto e nome ou de cara tapada e sem capacidade de ver, um corpo criador ou com uma enorme dívida pública às costas, pode ser trabalhador ou apenas importador de emigrantes a quem trata mal, pode ser criador de cultura ou imbecil.
Que povo somos nós? Um povo velho e de velhos, a viver do costume?
Que Igreja somos nós? Acossados de toda a parte, ele é a pedofilia, ele a falta de diálogo interno, a separação entre homens e mulheres, pomos metade para um lado e metade para o outro, a maioria continua a ser leiga na matéria, dizemos que somos todos iguais, mas, de facto, não somos, porque o serviço se tornou poder, somos um povo em que cada vez mais é menos verdade que quem quiser ser grande tem de se fazer pequeno (Mc 10,43) e no qual muitos se pretendem maiores que o nosso Senhor (Jo 13,16), povo em que já não sabemos receber no Reino como os meninos (Lc 18,17), simplesmente porque não há meninos…
…que estou eu pr’àqui a dizer?…
…povo em que somos cada vez menos e mais idosos, porque agora não se pode dizer que estamos velhos…
Morremos se não nos renovamos. E eu já disse muitas vezes que corpo ou grupo social que se não renova, morre, seja o Futebol Clube do Porto ou a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo. É verdade que a Igreja não é só corpo social, Povo de homens e mulheres; ela é também mistério e Corpo de Cristo. Mas está sujeita às leis do humano e da vida: nascer, crescer e morrer.
Vamos morrer? Vamos deixar-nos morrer ou somos capazes de reunir os que andam perdidos, distraídos, ocupados com mil e uma ninharias? Ou mesmo: porque não somos capazes de ajudar a encontrar os que andam perdidos e à procura do que nós já encontrámos?
Ou já não se pode dizer isto? Se nós encontrámos a boa Nova de Jesus, porque é que não dizemos onde a podem também encontrar aqueles que a procuram? Se eu sei onde é, porque não o direi a quem o quer saber?
Esta tarefa, este que fazer não é (só) para os outros: esta tarefa é de todos e para cada um. E, se cada um trouxer outro, este corpo velho reencontrar-se-á com a vitalidade que a ressurreição de Jesus e o seu Espírito nos garantiram.
É a Serra do Pilar capaz de levar a cabo este desafio, de voltar a reunir os que andam perdidos na busca?