Estou a chegar ao fim destas breves mas fundamentais reflexões sobre a Ecologia (a oikos + logos, em grego > sobre o tratado da “nossa casa” que é o planeta). Estou a chegar ao fim, mas tenham paciência que o fim ainda não é hoje.
Li e reli, refleti sobre o texto do Papa Francisco. E tenho de concordar com muitos. O Papa Francisco vê ao longe uma humanidade nova: “Não haverá uma nova relação com a natureza sem um homem novo. Não há ecologia sem uma adequada antropologia” (LS 118). A antropologia (ántropos + logos) é a ciência do que é o homem. Só um homem verdadeiro é capaz de cooperar na consecução de uma ecologia a sério.
“Não haverá uma nova relação com a natureza, sem um ser humano novo. Não há ecologia sem uma adequada antropologia” (LS 118). O desafio requer da nossa parte ”um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade”, tudo novo (LS 111). É preciso “nascer de novo”, como Jesus disse a Nicodemos (Jo 3,4). Uma nova cultura, um novo homem, outra sensibilidade, novos estilos de vida, simplicidade de vida — “a sobriedade vivida livre e conscientemente é libertadora” (LS 223).
“É possível necessitar de pouco e viver muito, sobretudo quando se é capaz de dar espaço a outros prazeres, encontrando satisfação nos encontros fraternos, no serviço, na frutificação dos próprios carismas, na música e na arte, no contacto com a natureza, na oração” (LS 223).
“É necessária uma revolução cultural” (LS 114) que nos explique o que deve ser o desenvolvimento: “Para que apareçam novos modelos de progresso, precisamos de converter o modelo de desenvolvimento global, e isto implica refletir responsavelmente sobre o sentido da economia e dos seus objetivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações. Não é suficiente conciliar, a meio termo, o cuidado da natureza com o ganho financeiro, ou a preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso. Trata-se simplesmente de redefinir o progresso. Um desenvolvimento tecnológico e económico, que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar progresso” (LS 194).
No início do século XX, houve um grande enfrentamento: “Politique d’abord” (primeiro a Política), depois a Moral e o Direito. Foram necessárias duas guerras mundiais mas nem isso resolveu a questão. Agora, a luta é outra: agora é a política que tem de se sujeitar à economia. A política está agora a pagar o que ontem negava. Hoje, a economia não tem outro objetivo que não seja o do seu próprio benefício, gerando assim mais pobres e mais pobreza. É hoje necessário gritar e dizer que “não a essa economia da exclusão e da desigualdade social. E essa economia mata” (EG 53).
O Papa está consciente da limitação dos recursos da Terra e da vulnerabilidade dos pobres. Não se trata de que os pobres copiem os ricos. Mas “chegou a hora de aceitar um certo decréscimo do consumo nalgumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saudável noutras partes” (LS 193).
Claro que na boca de muita gente e em muitos lados, a crítica não se fez esperar. Está maluco, o Papa! Como se pode repartir pelos pobres a riqueza dos ricos? Está maluco! … mas malucos estão os ricos e poderosos. Diziam-nos os mais pequeninos, há 15 dias, que a pobre viúva é que tinha razão, não os homens de muitas moedas!
Para aumentar o seu Património, podem os ricos querer esmagar os pobres?
Efetivamente precisamos de uma revolução cultural, de uma redefinição global das nossas sociedades e dos nós próprios!
É preciso nascer de novo! Seremos capazes?
Arlindo de Magalhães, 25 de Junho de 2017