Vigilantes

Robert Rauschenberg | ‘Calendar’ | 1962

O ano litúrgico começa hoje com o mito do fim do mundo: “Haverá sinais do sol, na lua e no nas estrelas: e n Terra angústia sobre os homens! (Lc 21,25)”

Não é possível saber com segurança se Jesus disse estas palavras que o evangelho hoje recorda: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo, pois as festas celestes serão abaladas” (Lc 21,25-26). Mas já sabemos o que já no Japão, na Amazónia e mo Pinhal de Leiria ou da Califórnia …

Jesus não quer assustar as gentes com o mito do fim do mundo devastador. Segundo Lucas, pediu aos discípulos que estivessem vigilantes, e não se deixassem dominar pelo sono. Foi o que disse na trágica noite da paixão: “— Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados…” (Lc 21,34-36).

… Mas quando foi para junto dos discípulos encontrou-os o dormir, informa Mateus; e Lucas dir-lhes-ia que “os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder no Universo: “as forças celestes serão abaladas” (Lc 21,26).

Mas diz-lhes tambem: “quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça. A vossa redenção está próxima” (Lc 21,28).

Viver com Jesus não é viver assustado de uma possível desgraça ou vigiar um temível ladrão.

Aquele que entende um Jesus assim não crê nele. Jesus não nos trouxe uma mensagem de terror, mas uma Boa Notícia (Evangelho) de paz e esperança. Este é o sentido do Advento.

Viver vigilantes com Jesus é viver com honradez no lugar onde se vive, no trabalho onde se trabalha, e onde tenho de dizer, embora isso possa representar para mim uma ameaça. Jesus não nos mete medo, propõe-nos um projeto de responsabilidade perante a tarefa que cada um tem de levar a cabo. Por desgraça, é frequente encontrar cristãos que têm as suas preocupações religiosas colocadas não na “responsabilidade profissional” e na familiar, mas só na “observância religiosa”. Isto é a ruína do cristianismo e a maior desgraça da Igreja.

Arlindo de Magalhães, 1 de dezembro de 2019