A Igreja, sinal

Hoje, festa da Epifania, é o dia da manifestação ou da revelação de Deus aos Homens: Deus que se revelou em Cristo, e que se apresentou numa criança nascida de uma Mulher, que se mostrou aos pastores, e logo depois aos magos, isto é, aos pagãos. Mais tarde, em outros dois episódios que perfazem uma unidade com estes acabados de referir mostrar-se-ia ainda no Baptismo no Jordão e num casamento em Caná da Galileia onde «manifestou a sua glória» e os discípulos acreditaram nele.

Porque a Igreja é o «sinal, o sacramento e o instrumento de Cristo» (LG 1), esta festa do Filho de Deus que «habitou entre nós» é, também, da visibilidade da Igreja; porque o Cristo se fez visível, a Igreja tem de ser visível. Por isso se diz que ela é Lumen Gentium, a Luz das Nações.

A Igreja torna-se visível na realidade do seu Corpo e das suas acções. Se a Igreja não é capaz de intervenções que salvem o presente, que vitalidade tem ela? Estará ela já na fase última da sua 3ª Idade, incapaz de intervir, de anunciar de uma Boa Nova que, entretanto, é a razão de ser da sua missão?

«Aquele que há-de vir está connosco, está vivo e vive entre nós! Vimos a sua Luz!». E «não se acende uma luz para a colocar debaixo da mesa mas sim para ser posta no candeeiro, a fim de que brilhe para todos os que estão em casa» (Mt 5,15). Na Epifania celebramos o aparecimento ou manifestação desta Luz que a Igreja continua. Daqui a sua visibilidade que não se confunde com triunfalismo, mas é «um serviço a todo o povo».

Na Igreja é precisa sempre a clarividência de que, quando o Espírito o diz, é preciso refazer tudo, ou seja, é preciso voltar ao princípio. Na Igreja, é tudo passageiro, até ela, Igreja, é passageira. Na Igreja, nada se canoniza, e está sempre tudo em questão: Ecclesia semper reformanda. É preciso voltar continuamente às fontes: não há cátedras vitalícias nem indispensáveis, e o critério é sempre o Evangelho e entre todos avulta o do serviço. E ao longo de 20 séculos, um dos maiores males da Igreja tem sido muitas vezes o de, quando necessário, não ter sido capaz de deitar os cacos ao lixo.

«Como cristãos, a todos nos une a fé em Deus, o Pai que nos dá a vida e tanto nos ama. Une-nos a fé em Jesus Cristo, o único Redentor que nos libertou com o seu bendito sangue e a sua ressurreição gloriosa. Une-nos o fogo do Espírito que nos impele para a missão. Une-nos o desejo da sua Palavra, que guia os nossos passos. Une-nos o mandamento novo que Jesus nos deixou, a busca de uma civilização do amor, a paixão pelo Reino que o Senhor nos chama a construir com Ele. Une-nos a luta pela paz e pela justiça. Une-nos na convicção de que nem tudo acaba nesta vida, mas estamos chamados para a festa celeste, onde Deus enxugará as nossas lágrimas e recolherá o que tivermos feito pelos que sofrem».

Vamos então reunir para pensar que presente e que futuro.

Vamos orar com “preces” formuladas no fim do Vaticano II, Outubro 1965.