Um povo a caminho

Jesus era um grande caminhante: contam os evangelhos que parte importante da sua vida pública foi para ele uma grande peregrinação a Jerusalém, onde haveria de ser crucificado. Mas desde pequenino: logo depois de nascido, levaram-no ao Templo (Lc 2,22), voltaria lá pelo menos aos 12 anos (Lc 2,42), e a sua vida de anunciador da Boa Nova levá-lo-ia continuamente da Galileia para a Samaria, e depois para o reino do Sul, de Judá, capital Jerusalém.

Jerusalém era uma província romana, mas governada pelo sumo-sacerdote dos judeus, embora subordinado a um prefeito romano. Jesus chega à cidade, entra no Templo do Senhor e espatifa as mesas dos cambistas onde, dentro, se vendia e comprava tudo, sobretudo pombas! (Mt 21,12),ele que … «desceu dos céus» e depois «subiu aos céus», como dizemos no Credo.

Mas já o Pai era assim: sabemo-lo a «descer ao Egipto» (Ex 3,8) ao encontro do povo explorado, logo seguiu à sua frente (Ex 13,21), Mar Vermelho e deserto, mais tarde estaria na Babilónia a visitar o mesmo Povo então exilado e a anunciar-lhe que voltaria em liberdade à sua terra (Jr 29,10) …, enfim, um grande viajante também.

Todas as grandes figuras das Religiões, de Sidarta Gautama (figura-chave do Budismo) a Maomé, foram também viajantes e peregrinos. Viajar, peregrinar, correr países, dizia Fernando Pessoa, é um símbolo do viver humano, bem como um procurar e um encontrar dos outros, indivíduos e culturas, realizações e sonhos. O homem, o verdadeiro homem, não é um parado, um instalado, mas é, em todos os sentidos, um buscador de coisas novas, num mundo todo feito de mudança, e de cada um continuado, um encontrador.

Por isso, em todas as culturas, viajar foi sempre, antes de mais, uma aventura, um peregrinar ou uma deslocação de negócios, e mais tarde até de ócio; mas foi também procura de outros (de contacto com tudo e com todos, com o melhor do seu espírito, a par da descoberta da Natureza). Da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (séc. XVI), que viajou até à Índia por este rio acima; à viagem a Jerusalém da grande Etéria, a mulher galega do séc. IV; de Gonçalo de Amarante, se existiu; dos mercadores venezianos da Meia Idade às deslocações que a sociedade lhes iam permitindo, e muito mais tarde as férias que possibilitaram as viagens modernas a aproximar homens e culturas, religiões, povoações e países, embora a modernidade ainda o viajar à moda, passivamente, originando multidões que vão para onde… calha!

Lembro-me sempre do que se passou uma vez comigo. Fui ao aeroporto acompanhar uma pessoa já idosa, pouco habituada nestas andanças, não encontrava o grupo, aproximava-se a hora… Vi lá ao fundo um grupo com ar de turistas, pensei que poderia ser aquele, dirigi-me a um e perguntei: «Por favor, vocês vão para Roma?» O sujeito pensou, pôs o dedo na testa e tudo, e, depois, de repente, virou-se para o lado e perguntou: «Ó Zé, para onde é que a gente vai?»

O verdadeiro turismo não é um viajar para qualquer lugar, tanto faz, desde que se coma bem!, muitas vezes só para depois se poder dizer que foi. Ia-se aqui ou ali, nem aonde nem porquê. Hoje já não é bem assim…, pois que o homem moderno viaja, visita, descobre, aproxima povos e culturas.

As viagens que na Serra do Pilar temos realizado – de carro, de metro e a pé, caminhadas largas, peregrinações… – têm sido preciosas. Viajar, não por luxo ou porque é costume, e tão pouco de frango e garrafão. Viajar, sim, indo ao encontro de homens ou pessoas, de outras comunidades e à busca de testemunhos visíveis de um passado histórico que nos ajude a entender o presente, de modo a sairmos todos enriquecidos e reconfortados pelo banho de um convívio fraterno. Comunidade cristã que somos, vamos à procura de outras comunidades que, com as suas particularidades, nos ajudem a entender o que é isso de a Igreja de Jesus Cristo ser Católica, isto é, Universal. Claro que, aparecendo lá, até os de lá dão conta…

Iremos este ano a Borba da Montanha, Celorico de Basto, 2 dias (18 e 19 de Junho).

Comer e dormir organizar-se-á. Mas é preciso saber quanto/as pessoas vão no seu carro e talvez possam oferecer boleias (quantas), pessoas, famílias … (no fim das Missas dominicais de Maio, haverá pessoas a tomar nota na porta e saída de entrada da Igreja ou da sacristia).

Borba da Montanha e arredores, do concelho de Celorico de Basto, terra de minha mãe, e um lugar que desde miúdo me disse que o Mundo é muito bom e que, indo ao encontro de outros homens ou comunidades e à busca de testemunhos visíveis de um passado histórico, tudo isso nos ajuda a entender o presente, a sair dele enriquecidos e reconfortados por um banho de convívio fraterno. Comunidade cristã que somos, vamos à procura de outras comunidades que, com as suas particularidades, nos ajudem a entender o que é isso de a Igreja de Jesus Cristo ser Católica, isto é, Universal.