Dia 5 | Sexta-feira

Albrecht Altdorfer, 1513

O Senhor fez em mim maravilhas,
Santo é o seu nome!

Evangelho de Lucas (1,46-56)
Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando ela ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»
E disse, então:
«A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia estende-se de geração em geração
sobre aqueles que o levam a sério.
Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia,
como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência, para sempre.»
Maria ficou com Isabel cerca de três meses.
Depois regressou a sua casa.

O Senhor fez em mim maravilhas,
Santo é o seu nome!

Meditação
Em Israel existia o costume — que durou séculos — de compor hinos salmos e orações. Textos anteriores recentes ao Evangelho de Lucas eram os hinos dos monges de Qumrán e os “Salmos de Salomão”. O mais certo parece ser que o Evangelho de Lucas tenha pegado no Magnificat de uma tradição profética que, sem dúvida, se conhecia naquele tempo. Mas o que menos importa aqui é a origem deste hino. O que interessa é desentranhar o seu conteúdo fundamental.
Lucas põe na boca de Maria um hino de louvor a Deus. Porque louva e bendiz Maria o Senhor? Porque Deus fez dela uma humilde e pobre escrava. Desta forma, acentua-se não o poder nem a grandeza, mas a bondade e a misericórdia. Em consequência, precisamente porque Deus se define sobretudo pela sua misericórdia, porquê Deus quis que a mãe de Jesus seja tão pobre e tão humilde? Tudo isso é contrário e radicalmente diferente da nossa maneira de ver e interpretar a sociedade e o mundo. A juízo do Evangelho de Lucas, em que consistiu esta opinião tão revolucionária?
Maria explica muito bem. A misericórdia é possível onde se rebentam os planos dos arrogantes e derruem do trono os poderosos. Mas não só. A misericórdia atua neste mundo quando e onde se exaltam os humildes e os famintos os cumulamos de bens. Resumindo, o critério da mãe de Jesus, a mulher simples da humilde Galileia, àquela que a religião pôs o pomposo nome de “Santíssima Virgem Maria” (adornada com joias e mantos de ouro, condecorada com medalhas de poderosos e tiranos, etc), esse critério resume-se nesta afirmação surpreendente: há misericórdia onde “os ricos os despedimos de mãos vazias” (Lc 1,51).

(Castillo, José M. – La religión de Jesús, Bilbao: Desclée De Brouwer, 2018, p. 30)

Oremos!
Deus, loucura do mundo,
adoração e vertigem dos que procuram a tua face
através das coisas visíveis
dá à nossa vida o encanto dos descobrimentos
e a sabedoria das margens
de onde te chama o nosso desejo
e a nossa viagem a caminho do teu Nome,
Deus que vens em Jesus Cristo iluminador
e no Espírito da verdade,
longo caminho de muitos caminhos,
deste fim de tarde ao começo e ao fim
Da nossa esperança
Ámen!
José Mourão (O nome e a forma, p. 73)

O Senhor fez em mim maravilhas,
Santo é o seu nome!