Injustiça inaceitável

paraisopolis2008-700

Paraisopolis, São Paulo

O fruto da justiça semeia-se na paz, para aqueles que a praticam. De onde vêm as guerras? De onde procedem os conflitos entre vós?” (Tiago, 2ª Leitura de hoje).

Embora exista já desde 1995, tem-se afirmado ultimamente de maneira especial uma Organização Humanitária – Oxfam (Oxford Committee for Famine Relief (Comité de Oxford de Combate à Fome) – que atua em 100 países (não em Portugal), na busca de soluções para o problema da pobreza e da injustiça através de campanhas, programas de desenvolvimento e ajudas de emergência. Esteve na origem desta Organização, embora tenha morrido antes da sua fundação, um presbítero anglicano, Theodore Richard Milford (1896-1987). O objetivo inicial da Oxfam foi o de convencer o governo britânico a permitir a remessa de alimentos às populações famintas da Grécia, então ocupada pelos nazis e submetida a um bloqueio naval levado a cabo pelos aliados.

Claro que evoluiu na sua atividade a Organização, que, ultimamente, se tem preocupado com a onda de pobreza que assola a Europa: sem papas na língua, afirma que é preciso “cicatrizar as feridas” da perda de postos de trabalho e corte de salários em vários países, como Portugal.

A Europa está a registar, em 2015, níveis “inaceitáveis” de desigualdade, com um quarto da população da União Europeia a viver em risco de pobreza e de exclusão social, indica um estudo apresentado em Madrid pela Oxfam há menos de 15 dias, no passado dia 9 deste mês. O documento — Europa para a maioria, não para as elites — afirma que um total de 123 milhões de pessoas do espaço comunitário vivem atualmente em risco de pobreza, enquanto 342 cidadãos europeus são considerados bilionários.

(Faço uma paragem para explicar que um bilionário não é um milionário. Bilionário é uma pessoa com um património líquido de, pelo menos, um bilião (1.000.000.000.000), não de um milhão (1.000.000) de uma qualquer moeda, dólar, euro ou libra, por exemplo).

O estudo da Oxfam fala, e bem, numa “injustiça inaceitável”: “Este diagnóstico está correto: os níveis de pobreza e de desigualdade na Europa, agravados pela crise económica e pelas medidas de austeridade, são inaceitáveis”; “É hora de se adotarem medidas à escala europeia com o objetivo de promover a recuperação do investimento e do emprego, bem como para cicatrizar as feridas abertas pela perda em massa de postos de trabalho, pela redução dos salários reais e pelos cortes nos serviços públicos, especialmente em países como Grécia, Espanha e Portugal, mas também em toda a Europa”.

Em 2013, cerca de 50 milhões de pessoas na UE não conseguiam satisfazer as suas necessidades materiais básicas, o que representou um aumento de 7,5 milhões de pessoas em relação aos valores de 2009. Este cenário atingia então 19 dos 28 Estados-membros, incluindo Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda e Itália.

Nesse mesmo período, o número de bilionários aumentou de 145 para 222, e continuou a crescer até hoje, para os 342.

A desigualdade económica e de concentração de receitas nas mãos de alguns ricos varia consoante o país. A Bulgária e a Grécia registam os piores resultados em quase todos os indicadores analisados para determinar o risco de pobreza. A Grécia apresenta uma das diferenças mais amplas entre as receitas das classes mais ricas e das classes mais pobres, bem como regista uma elevada taxa de desemprego. O Reino Unido tem o nível mais elevado de desigualdade salarial.

Enquanto isto, os países mais igualitários da UE são a Eslováquia, Malta, a República Checa e a Eslovénia. Os valores mais altos de pobreza verificam-se na Roménia e na Grécia, mas estão a aumentar noutros países, um deles é a Alemanha. A diferença salarial por género também continua e são as mulheres na Alemanha, Áustria e República Checa aquelas que sofrem alguns dos valores mais altos de disparidade salarial face aos homens.

O documento denuncia ainda a “excessiva influência” que exercem as grandes empresas, as grandes fortunas e alguns grupos de interesse no seio da UE.

“O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que a praticam”. “De onde vêm as guerras? De onde procedem os conflitos entre vós?” (Tiago, 2ª Leitura de hoje). “Vós, os ricos, prestai-me atenção. Levastes na terra uma vida regalada e libertina, enchestes a barriga para o dia da matança! Condenastes e assassinastes o justo, que não pôde resistir!” (Tg 5,1), diz ainda a Carta de Tiago.

Para a semana voltamos.

Arlindo de Magalhães, 20 de Setembro de 2015

(Para conhecer melhor o trabalho da Oxfam, visite https://www.oxfam.org ).

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