Páscoa 2014
2ª semana da Quaresma

Abraão

AbraãoNo tempo baptismal que é a Quaresma, a figura de Abraão, que é o “pai na fé” ou o “pai dos crentes”.

A um Homem foi feito um convite: Deixa a tua terra e a casa de teus Pais e vem para a terra que eu te vou mostrar (Gn 12,1). E Abraão partiu como o Senhor lhe tinha dito (Gn 12,4). Em consequência, foi-lhe feita uma grande promessa: Farei de ti um grande povo (Gn 12,2); Abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar. E todas as nações da terra serão nela abençoadas porque obedeceste à minha voz (Gn 22.17-18). Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas! Se fores capaz de as contar!… Assim será a tua descendência (Gn 15,5).

É verosímil que tenham existido, Abraão e seus descendentes: entre os semitas nómadas, o sentido e a recordação dos antepassados é muito forte.

Agora que se trate de uma memória histórica e pessoal ou de um tipo religioso e étnico é questão que, certamente, ficará sempre por resolver. Temos a certeza, isso sim, de que “viveu” entre 1.900 e 1.700 aC. De facto, nessa altura, houve uma grande corrente migratória de sumérios para o Norte: as famílias ricas deixavam o país por causa dos incessantes conflitos que o tornavam pouco seguro.

Abraão procedia de Ur, na Caldeia, uma cidade situada na margem ocidental do rio Eufrates (actual Iraque). Cresceu portanto no seio do povo mais culto de então, onde funcionaram os mais antigos tribunais e parlamentos que a História conheceu, onde se elaboraram as primeiras legislações sociais, e onde a técnica nascente atingiu, ao tempo, um altíssimo grau de desenvolvimento. Mas a Escritura guarda silêncio sobre tudo isso, certamente para apresentar Abraão absolutamente intacto face às religiões pagãs, e para salientar que Israel nasceu de uma ruptura radical e absoluta com o politeísmo: tanto que “Abraão deixou a terra”. Segundo o relato bíblico, um dia, ouviu a voz de IAVÉ, “o Senhor”, um Deus desconhecido para ele: Deixa a tua terra natal e a Casa de teu Pai e vai para a terra que eu te vou mostrar. Farei de ti um grande povo (Gn 12,1/2).

E a descendência de Abraão cresceu de geração em geração. Conhecemos os nomes de muitos, de tantos: Isaac e Jacob (ou Israel, O que luta com Deus, Gn 32,29 e 35,10), Sara, Rebeca e Raquel, as 12 tribos do Senhor, de Rúben a Benjamim, o mais novo. Nesta altura, Deus era ainda El Shadai, o Maior, fixe!, entre outros menores. Mas foi ele o da promessa, e foi de certeza ele quem falou a Abraão lá longe na Caldeia, nessa terra que ele haveria de deixar para sempre a fim de se lançar na mais interessante aventura de todos os tempos da História.

Ouviu e respondeu, deixou a terra e caminhou à procura de uma outra, nova: “pela fé, Abraão, tendo sido chamado, obedeceu e partiu para um lugar que  haveria de receber como herança” (Hb 11,8). É este o pai dos crentes, invocado pelos judeus, cristãos e muçulmanos.

(Catecumento, Serra do Pilar, 1983)

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